Marcus ViníciusA carta do prefeito Iris Rezende Machado (MDB) ao presidente de seu partido, o ex-deputado federal Daniel Vilela, é uma lição de como se faz politica.Iris coloca na carta toda a sua experiência de mais de 60 anos de vida pública. Ali está a sua vivência de quem ascendeu à política vindo de baixo. Ele estreou na vida pública pelo PTB, partido aliado ao PSD de Pedro Ludovico Teixeira, que o convidou a ingressar na legenda na qual seria eleito depois deputado estadual e prefeito de Goiânia.O texto de Iris tem a mesma tinta com o qual os democratas pichavam muros pedindo a volta da democracia. As palavras de conciliação na missiva remetem ao espírito de união dos democratas que fez vencer a campanha pelas Eleições Diretas Já.Vivemos novamente tempos de ódio e intolerância. O céu cor de chumbo do arbítrio paira sobre todos nós mais uma vez.De Brasília o presidente da República emana mensagens contra a Educação, a Saúde e a Assistência Social.Seus projetos são mais armas, menos médicos, menos pesquisa, menos ciência. A aprovação, em primeira votação, da Reforma da Previdência indica que não teremos mais um país para todos, mas para apenas 30 milhões de privilegiados no universo de 210 milhões de brasileiros.Iris faz bem em apaziguar os ânimos no MDB. O partido tem história na construção democrática de Goiás e do Brasil, e não pode ceder à intolerância da qual foi vítima no passado.O momento é de reflexão.Grande parte dos emedebistas que apoiaram a eleição de Ronaldo Caiado (DEM) no primeiro turno das eleições de 2018, hoje está reflexivo. Talvez até arrependido. Caiado ainda não conseguiu formar um governo que reflita o tamanho das forças que o apoiaram no período eleitoral.É um governo partido, fragmentado. A base de sustentação na Assembleia Legislativa é frágil, e já ameaça erodir. Na sociedade, o élan que levou Caiado ao governo se esvai. Pipocam sinais de contrariedade nas mais diversas camadas do serviço público. Há sabida insatisfação das classes empresariais com o governo a ponto de que o marconismo – que se julgava morto e sepultado -, comece a recobrar forças e sair do ostracismo.Iris enxerga longe. Sabe que o momento vindouro exige união. Um MDB forte em 2020 garante a eleição de dezenas de prefeitos no Estado, e pavimenta o caminho para a sucessão estadual em 2022.Dificilmente se repetira no próximo pleito estadual a aliança que levou Caiado ao Palácio das Esmeraldas. O que se terá, de agora em diante, será a tentativa do governo se equilibrar, e, de outro lado, as forças tradicionais da política goiana – emedebistas e tucanos -, rearticulando-se para os novos embates políticos.Na toada de hoje, a Casa Verde terá pouca influência nos pleitos municipais. Quem tem “garrafa para vender” ainda é o emedebismo e o marconismo.Fará bem a Daniel Vilela ler com atenção a carta do prefeito. Ele que é jovem e tem futuro pela frente, nada perde se der um passo atrás e atender aos apelos do mais experiente dos emedebistas.Iris caminha para ser candidato à reeleição. Daniel e o seu pai, o ex-governador e ex-prefeito Maguito Vilela podem perfeitamente compor a chapa, somando-se a Iris numa candidatura de vice-prefeito. Talvez esteja aí o recado de Iris quando argumenta em favor do perdão dos erros do passado em prol de uma nova visão de futuro.Deus fez o ser humano com dois ouvidos. Na política, vai longe quem escuta muito e fala pouco,sintetizando o que ouviu na hora certa.
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