13 de novembro de 2024
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Intérprete de libras não resiste a depoimento na CPI da Covid e vai às lágrimas

Intérprete de libras não resiste a depoimento na CPI da Covid e vai às lágrimas
Intérprete de libras não resiste a depoimento na CPI da Covid e vai às lágrimas

O dia de trabalhos na CPI da Covid foi de intensa emoção. Os senadores passaram a segunda-feira (18/10) ouvindo relatos de vítimas da Covid-19 e familiares que perderam parentes para a doença. Nessa toada, um intérprete de libras não resistiu à emoção ao ouvir uma das histórias e foi às lágrimas precisando ser substituído.

A CPI da Covid ouvia a amazonense Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos que perdeu de uma vez o pai e a mãe para a doença. “Eu os meus pais e a minha irmã éramos muito unidos, muito mesmo. Quem conhece sabe, onde um estava o outro estava junto. Quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava”, contava a jovem com voz embargada. 

O depoimento à CPI da Covid continuava. “Eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. Eu me apoiei nela e ela se apoiou em mim… (pausa para chorar)”, neste momento o intérprete que fazia a sinalização também não resistiu e junto à Giovanna se entregou aos choros. “A partir daí eu pensei que eu não poderia ficar mais sem ela e ela não poderia ficar sem mim”, continuou já com outro intérprete assumindo o lugar.

Acontece que a irmã de Giovanna tinha apenas 10 anos e acabou se tornando a reponsável legal pela criança. “A partir daí eu pensei que eu não poderia mais ficar sem ela, então decidi que precisava mesmo ficar com a guarda dela. Eu assumi esse desafio por amor”, relatou à CPI da Covid.

Senadores da CPI da Covid prometem justiça

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), solidarizou-se com as vítimas. Reafirmou que o objetivo da Comissão “não é vingança, e sim justiça”, “para que quem esteja de plantão no poder saiba que o Brasil teve uma pandemia que levou milhares de vidas e as pessoas que foram omissas foram penalizadas por isso”. Ele lembrou ataques que a CPI e seus membros sofreram desde o início dos trabalhos.

“Aqueles que falaram que isso aqui era um circo e que nós éramos “palhaços”, prestem atenção. Estes “palhaços” estão aqui estão chorando nesse circo de horrores. O objetivo é um só: é fazer justiça por vocês”, disse Omar aos depoentes. O presidente ainda aproveitou a reunião para desmentir que tivesse recebido um telefonema de Bolsonaro, informação divulgada na imprensa.

O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), reiterou que pretende incluir no relatório as propostas apoiadas pelas vítimas da covid e pelos senadores durante a reunião.

“Nós pretendemos criar uma pensão para os órfãos cuja renda recomende o pagamento. E pensamos em incluir a covid na relação daquelas doenças que ensejarão a aposentadoria por invalidez quando a perícia médica atestar”disse Renan.

Em suas intervenções, senadoras e senadores reforçaram o compromisso da CPI da Covid com a busca de Justiça para os atingidos pela pandemia. Simone Tebet (MDB-MS) pediu um minuto de silêncio e saudou o trabalho dos profissionais de saúde. Soraya Thronicke (PSL-MS) disse que o Senado continua “de braços abertos” após a CPI para receber denúncias. Zenaide Maia (Pros-RN) afirmou que “o país hoje chorou, porque a maioria dessas mortes podia ser evitada”. Para Humberto Costa (PT-PE), o número de óbitos registrado diariamente nas placas colocadas sobre a mesa da CPI passou a ter “face, rosto, história”. 

Criticas à Bolsonaro

Várias testemunhas criticaram diretamente o presidente da República por seu comportamento durante a pandemia. Katia Shirlene Castilho dos Santos, que perdeu os pais, conveniados da Prevent Senior, em São Paulo, lembrou as duas ocasiões, em março e maio passados, em que Jair Bolsonaro imitou uma pessoa com falta de ar:

“Quando a gente vê um presidente da República fazer isso, para nós é muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que faz para a nação, além de todo o mal que já fez, ele não faria isso”, lamentou a testemunha.

Antônio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz, destacou a “impressionante falta de empatia” de Bolsonaro, observando que ele “nunca derramou uma lágrima” pelas vítimas.

O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) divulgou vídeo defendendo as ações do governo do pai. O senador afirmou ter ido ao Senado participar da reunião, mas acusou a CPI de ter “escolhido a dedo pessoas com histórico de militância contra Bolsonaro”:

“O que estamos testemunhando é macabro, triste e lamentável. É um desrespeito com as quase 600 mil vítimas desse vírus aqui no Brasil. Bolsonaro fez e continuará fazendo o que está ao seu alcance. Já são mais de R$ 621 bilhões investidos no combate à pandemia. Isso só foi possível porque o governo Bolsonaro fez o dever de casa. Todas as vacinas que foram aplicadas no Brasil, sem exceção, foram viabilizadas pelo presidente Bolsonaro. 65% da nossa população adulta já foi completamente imunizada. Foi o presidente Bolsonaro que impediu o caos”, destacou em defesa ao pai.

Lenços

Outro convidado do Rio de Janeiro, Márcio Antônio do Nascimento Silva, que perdeu um filho para a doença, entregou aos membros da CPI uma caixa com 600 lenços, para representar os mais de 600 mil mortos pela covid no país. Silva ficou conhecido por um episódio que protagonizou na praia de Copacabana, em abril de 2020, quando recolocou na areia cruzes, simbolizando os mortos, que haviam sido chutadas por um aposentado:

“Aquele ato tinha muita indignação. Mas não tinha ódio, nem raiva, pelo contrário, tinha um sentimento de muito amor. O meu ato foi um ato de resistência, porque eu sou de origem quilombola, e já estou acostumado a sentir isso”, explicou.

Com sequelas da Covid-19, o jornalista goiano Arquivaldo Bites Leão Leite contou que perdeu o irmão caçula, dois primos, um tio e dois sobrinhos para a covid. Por causa do vírus, ele disse que teve um derrame, perdeu a audição de um dos ouvidos e não consegue se locomover por conta própria. 

A gaúcha Rosane Maria dos Santos Brandão, que perdeu o marido na pandemia, pediu que o Senado proponha a formação de uma Comissão “nos moldes da Comissão da Verdade”: “Coloquem um ponto final nesse genocídio. As nossas esperanças estão nesta Casa. Honrem a memória dos mortos. Entreguem um relatório final fiel às barbaridades que foram ouvidas aqui”, pontuou. (Com informações da Agência Senado)


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