07 de agosto de 2024
ABIN PARALELA

Intenção de matar ministro do STF e gravação de Bolsonaro por Ramagem corroem firmeza bolsonarista

Revelações da Polícia Federal atingem bolsonaristas em cheio, mostrando a audácia do grupo extremista ligado ao ex-presidente;
Investigação da PF aprofunda em manipulação da Abin por bolsonaristas - Foto: Antônio Cruz Agência Brasil
Investigação da PF aprofunda em manipulação da Abin por bolsonaristas - Foto: Antônio Cruz Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) identificou uma conversa entre investigados no caso da “Abin paralela”, revelando um possível plano de ataque contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para agravar, um áudio com Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem mostra suposto plano de interferência em investigações federais.

Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), hoje deputado federal, Ramagem é pré-candidato do PL à prefeitura do Rio de Janeiro. As revelações, portanto, arranham a pré-candidatura.

PF apura ameaça de ataque a ministro

No caso das mensagens falando em atentado contra Moraes, elas foram trocadas em agosto de 2021 e  expõem uma discussão sobre ações violentas contra o magistrado. O diálogo envolve o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet e o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues.

A conversa sobre espionagem consta em inquérito da PF que embasou a prisão da dupla e de outros acusados durante a nova fase de operação que investiga o caso, na quinta-feira (11).

Giancarlo Rodrigues, segundo revela a PF, se refere ao ministro como “o careca” e afirma que ele estava “merecendo algo a mais”. Como resposta, Bormet menciona a expressão “7.62”, que é o calibre de uma munição de alto poder.

Na sequência, revelam as investigações, Giancarlo usa a expressão em inglês “headshot”, que traduzida significa “tiro na cabeça”. Em reportagem nesta sexta, a CNN Brasil informa que a expressão é comumente utilizada em jogos de tiro, “mas no contexto da investigação, ganha contornos de uma ameaça real à vida do ministro”.

A revelação dos diálogos acende uma luz vermelha sobre a segurança dos membros do Judiciário e a existência de grupos organizados dispostos a desestabilizar as instituições democráticas. Os investigadores agora terão a missão de desvendar se havia algum plano concreto sendo traçado no sentido de eliminar autoridades como Moraes ou outros que foram monitorados.

Mais vítimas dos arapongas do ex-presidente

Não ficou claro ainda se a investigação se referia aos mesmos dois presos na quinta-feira, mas outros diálogos apontam mais vítimas dos arapongas (espiões) do governo passado.

Dentre os diversos alvos do grupo investigado, estão, por exemplo, o ex-deputado federal Jean Wyllys (Psol) e até familiares dele. Wyllys até desistiu do mandato e foi para o exterior alegando receio pela própria vida. Atualmente dá aulas sobre fake news em Harvard (EUA).

Em mais de um print apresentado na representação policial, os membros da organização investigada conversam sobre como identificar o celular utilizado pelo ex-deputado.

“Fala, amigão. Eles são muito ariscos. Trocam o chip a todo instante. Mas consegui um número que o Jean usou para baixar o Telegram”, escreve um dos interlocutores em uma das conversas de WhatsApp obtidas pela PF à qual a CNN teve acesso.

Também foram grampeados o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, os senadores Randolfe Rodrigues e Omar Aziz, entre outros.

As defesas de Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues não foram localizadas para um posicionamento sobre a prisão de ambos e as revelações do inquérito da PF.

Ramagem e Bolsonaro queriam interferir para proteger Flávio

Já no caso do áudio entre Bolsonaro e o então diretor da Abin, a PF afirma que o plano era interferir em investigação contra um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das “rachadinhas”. O áudio envolveria ainda o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno.

As investigações apontam que o aparato da Abin era largamente desviado para uso pelo núcleo do ex-presidente em benefício próprio. O objetivo seria investigar rivais políticos e beneficiar aliados do então presidente.

A conclusão da PF é que a estrutura da agência de inteligência foi efetivamente usada para interesses particulares de Bolsonaro, contrariando de forma cabal a finalidade do órgão federal.


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