22 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 12/02/2020 às 23:44

Instituições de ensino subsidiam juros para não perder aluno do Fies

São Paulo – Em uma tentativa de evitar a evasão de alunos após as mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do governo federal, as universidades privadas estão subsidiando o juro do financiamento estudantil para cursos de graduação. O grupo Ser Educacional anunciou na quarta-feira, 18, a liberação de uma linha de crédito de até R$ 1 bilhão para seus alunos, em parceria com a financeira Ideal Invest, seguindo anúncios recentes de Estácio e Anima.

Essa alternativa pode evitar uma possível redução de alunos que eventualmente não consigam o Fies e não tenham o recurso para estudar“, afirma Jânyo Diniz, presidente do grupo Ser Educacional.

A Estácio também anunciou semana passada que vai bancar a diferença do juro privado com a taxa do Fies, de 3,4% ao ano, em uma linha de crédito da Ideal Invest. “Vimos a dificuldade do aluno de conseguir o Fies e fomos buscar opções no mercado“, explica o diretor comercial da Estácio, George Neiva.

No modelo de parceria fechado pela Ideal Invest, a financeira paga à universidade no início do semestre o valor de todas as mensalidades do aluno que contratou crédito. O subsídio ao juro é cobrado com um deságio no valor transferido à universidade. O aluno paga uma parcela mensal do financiamento durante a graduação e o restante após se formar. O modelo é diferente do Fies, em que o estudante tem um prazo de carência para pagar o crédito e o valor da mensalidade é transferido pelo governo à universidade.

A Kroton, líder do setor, e a Laureate, controladora de 12 instituições, como Anhembi-Morumbi e FMU, também estudam opções de financiamento.

Cenário

A mudança nas regras do Fies colocaram o setor de educação em sinal de alerta. A Anima, por exemplo, tem 48% de seus alunos contemplados com o Fies, número que ultrapassa 30% na Estácio e na Ser Educacional. Em relatório, os analistas do BTG Pactual preveem uma evasão de alunos das universidades privadas após 30 de abril, quando se encerram as inscrições do Fies.

Diante das novas restrições do Fies e da possível queda de alunos nas instituições, o que preocupa, segundo o especialista em educação Carlos Monteiro é a volta da “guerra de preços”, uma disputa que havia acabado com a chegada do Fies. “Isso significaria um problema para as universidades, uma vez que a redução nos preços dificilmente acompanharia a redução dos custos, resultando em um caminho para insolvência.

Crédito

A nova regra levou as empresas de educação a bater nas portas dos bancos em busca de um novo modelo de financiamento para seus alunos. Inicialmente, a maior beneficiada foi a Ideal Invest. Mas outras parcerias devem ser realizadas. Neste ano, a Anima reativou sua área de crédito estudantil, focada em desenvolver opções para os alunos.

Pesquisamos referências no exterior e desenhamos um projeto para um produto próprio de crédito privado, mas aí o Fies surgiu e isso ficou de lado“, lembra o presidente da Anima, Daniel Castanho. “Com o atual cenário, estamos retomando as discussões de quatro anos atrás.

A Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior (Abraes), está reunindo algumas consultorias para formatar uma nova versão do Fies, com a participação dos bancos privados. “Queremos apresentar o Fies 2.0 para o governo até o início de junho“, afirma José Roberto Loureiro, presidente da Laureate Brasil e conselheiro da Abraes.

O banco Santander, que tem 450 grupos universitários como clientes, representando 80% dos alunos do ensino superior privado brasileiro, colocou na pauta de discussões a oferta de financiamento para o setor este ano. “As universidades começaram a nos procurar pedindo soluções de crédito. O modelo pode ser interessante com as universidades dividindo o risco com o banco“, avalia o superintendente do Santander Universidades, Daniel Mitraud.

Hoje os bancos estão praticamente fora da área de crédito estudantil. “É uma operação complexa, sem garantias, há alta evasão escolar e necessidade de reavaliar o cliente a cada seis meses. Além disso, era impossível competir com o Fies“, explica Mitraud.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Estadão Conteúdo)


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