“Sou vaidoso como qualquer um. Adoro ser elogiado, mas sei do meu tamanho.” Na noite de terça-feira (17), de seu gabinete na presidência da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) explicava a aliados a razão de não se considerar um problema para o Palácio do Planalto.
Ao dar pequenos socos sobre a mesa, como para pontuar cada movimento que fez nas últimas semanas, mostrava que, ao esticar a corda com o governo Michel Temer, tenta reformular o discurso e testar seu protagonismo à frente da agenda de recuperação econômica do país.
Pessoas próximas sustentam em três pilares o prognóstico da oscilação no comportamento de Maia desde o dia 2 de agosto, quando Temer conseguiu se livrar da primeira denúncia contra ele no plenário da Câmara.
O deputado julga-se credor do governo pelo resultado, não se sentiu recompensado pelo Planalto -ao contrário- e viu frustradas suas previsões de que o presidente teria mais dificuldade para barrar a segunda acusação contra ele, por obstrução de Justiça e organização criminosa.
Sentindo-se preterido da mesa de negociação dos caciques do governo e com necessidade de se reposicionar no cenário em que Temer salva seu mandato, Maia começou a agir com indisposição em relação ao presidente.
A mudança de tom, porém, despertou ainda mais desconfiança no Planalto -que o trata como um político imaturo- e dúvidas entre integrantes do mercado financeiro, nicho em que Maia circulava com facilidade.
Eles querem saber qual será a postura do deputado no dia seguinte ao provável sepultamento da segunda denúncia, principalmente em relação a medidas consideradas impopulares, como o adiamento do reajuste de salário do funcionalismo e a reforma da Previdência.
Dirigentes do DEM e parte do séquito do presidente da Câmara garantem que ele não criará um cenário catastrófico, de obstrução à agenda proposta por Temer.
Usará, porém, de um argumento numérico para se colocar como o condutor dessas medidas no lugar do presidente: o governo terá apoio para barrar a segunda denúncia com cerca de 30 votos a menos do que os 263 que conseguiu da primeira vez, mas não poderá mais contar com uma base aliada robusta para comandar o Legislativo.
Deputados reclamam de promessas não cumpridas do Planalto na liberação de cargos e emendas parlamentares e prometem retaliação.
Maia aproveita as insatisfações para mirar dois projetos políticos -o seu e o de seu partido- que esbarram necessariamente nos planos de Temer e do PMDB.
Além de trabalhar para se reeleger deputado federal e presidente da Câmara, o democrata quer fortalecer o DEM com a migração de integrantes do PSB e de outros partidos. Pelas suas contas, a legenda precisa eleger de 40 a 50 deputados federais em 2018 para servir de “aeroporto” para uma possível candidatura presidencial.
Por enquanto, garante, o avião não será ele mesmo: “Se tivesse votos para ser candidato a presidente da República, eu seria, mas não tenho”, é o que tem dito.
Os movimentos para que o DEM ganhe musculatura e conquiste o eleitorado de centro-direita incomodaram Temer -que tem os mesmos projetos para o PMDB.
O presidente agiu de pronto, cortejou quadros do PSB que negociavam com os democratas e filiou ao PMDB o senador Fernando Bezerra (PE).
Maia se enervou e as disputas entre ele e o Planalto ganharam novos contornos.
Quedas de braço
Aliados de ambos os lados dizem que as crises são apenas “artificiais”. Entre o desconforto e o boicote, há um abismo. Desconforto este que culminou em três episódios em apenas dez dias.
O primeiro, na semana passada, quando Maia protestou contra a decisão do governo de obstruir a sessão e impedir a votação da MP da leniência dos bancos.
Colocou na conta de Temer o naufrágio da proposta em plenário.
O bombeiro da vez foi o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), que acordou com Maia que a Câmara poderia articular um projeto de lei sobre o tema.
Cinco dias depois, bateu boca pela imprensa com o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, chamando-o de “incompetente” após suas críticas à divulgação dos vídeos da delação do operador Lúcio Funaro, que implicam diretamente o presidente, no site oficial da Câmara.
Novamente Imbassahy serviu de para-raios. O ministro recebeu telefonema de Maia, que queria um pedido público de desculpas de Carnelós, o que não aconteceu.
Por fim, setores do governo insatisfeitos com Paulo Rabello de Castro, que hoje comanda o BNDES, começaram a aventar a possibilidade de demissão do executivo como um aceno a Maia.
Após barrar a primeira denúncia, Temer ofereceu o cargo para o presidente da Câmara nomear seu favorito, Marcos Falcão, ex-executivo do Icatu, ao posto. Mas a promessa não foi cumprida.
Para a reedição da disputa pelo BNDES, o bombeiro foi o próprio presidente. Em reunião com Maia na quarta-feira (18), no Planalto, Temer disse que faria pronunciamento à nação. O deputado retrucou que não era suficiente. Para ele, é preciso criar uma narrativa que mostre ao país por que foi melhor manter Temer no cargo.
Caso falhe no desafio, avaliam aliados, o presidente alargará a avenida para o protagonismo de Maia e pode se tornar refém de uma Câmara controlada por um aliado bastante indócil. (Folhapress)
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