A médica Bianca Borges Butterby ainda tenta reorganizar a vida depois de ter sido presa durante uma operação da Polícia Civil em 20 de maio deste ano. Em entrevista ao Diário de Goiás nesta quinta-feira (27), ela afirmou que a decisão de arquivamento da investigação após o Ministério Público concluir que ela não cometeu crime algum, representou “o maior presente” buscado nos últimos meses.
A operação, conduzida pela Polícia Civil, a levou à prisão mesmo após ter sido informada de que apenas prestaria depoimento. O caso gerou forte repercussão no Estado, deteriorou sua saúde, impactou sua carreira e agora embasa um Projeto de Lei no Senado que busca evitar abusos semelhantes.
Em entrevista, Bianca relembra que tudo começou de forma abrupta e confusa. “Me informaram que eu iria apenas prestar depoimento”, explica. Segundo ela, os fiscais disseram que a coleta do seu depoimento não poderia ser feita na clínica e que seria necessário ir até a delegacia. No trajeto, porém, a narrativa mudou. Nas redes sociais, influenciadores já divulgavam que ela havia sido presa antes mesmo de receber essa informação.
A médica afirma ter descoberto a realidade apenas ao ver uma policial se aproximando com algemas: “Eu perguntei o que estava acontecendo. Fiquei completamente surpresa. Nunca pratiquei nenhum ato ilícito.”
Impacto devastador
Bianca relata que a operação provocou efeitos imediatos e profundos em sua saúde física e mental. “O primeiro impacto foi em relação à minha saúde”, diz. Horas após a abordagem, ela foi internada devido ao quadro de estresse extremo, pressão arterial descontrolada e, posteriormente, uma hemorragia no fígado, resultado direto da crise emocional. Passou por cirurgia e ficou dias na UTI.
A recuperação mental foi ainda mais longa. “Eu desenvolvi síndrome do pânico, síndrome do estresse pós-traumático… fiquei meses sem conseguir sequer entrar na minha própria clínica”, relata. Sem poder trabalhar, passou cinco meses sem renda alguma: “Profissional liberal recebe aquilo que trabalha. Se eu não trabalhei nada por cinco meses, passei cinco meses sem receber nada.”
Hoje, apesar de seguir em tratamento psiquiátrico e psicológico, ela começou a retomar parte dos atendimentos, primeiro com pacientes antigos, depois em hospitais. Mesmo assim, o retorno ainda é parcial.
Inocência
Para Bianca, a decisão do MP-GO, que reconheceu sua inocência após analisar documentos, notas fiscais, laudos e parecer do CRM, foi reparadora: “Era literalmente provar que eu sou inocente. Esse foi o maior presente que eu busquei nos últimos meses.”
Ainda assim, ela reforça que nenhum valor financeiro vai apagar os danos sofridos: “Nenhum tipo de retratação pública ou indenização em dinheiro vai conseguir apagar todos os traumas. Isso é irreparável.”
O advogado da médica, Darô Fernandes, disse ao Diário de Goiás que vários pedidos de indenização já estão sendo preparados. Ele considera que a prisão decorreu de uma denúncia anônima tratada de forma precipitada e cita que foi conduzida com “exposição indevida” e “conclusões sem respaldo técnico”.
Do trauma ao Senado
O episódio envolvendo Bianca e outros casos semelhantes motivaram a criação do Projeto de Lei 2860/2025, apresentado pelo senador Zequinha Marinho (Podemos-PA). A proposta altera a Lei do Ato Médico para garantir direitos similares aos já assegurados a advogados.
Entre as medidas previstas estão:
- Inviolabilidade do consultório médico, evitando abordagens abusivas durante o exercício profissional.
- Obrigatoriedade da presença de representante do CRM em casos de prisão relacionada à prática médica.
- Proteção contra interpretações equivocadas da legislação, especialmente em situações que envolvem a atuação de médicos sem RQE — mas com formação regular e dentro do que a lei permite.
Segundo Eduardo Teixeira, presidente da Abramepo, o PL busca impedir “intervenções desproporcionais e sem respaldo técnico que colocam em risco a dignidade do profissional e, consequentemente, o atendimento à população”.
Entenda o caso
Bianca Borges foi presa em 20 de maio durante uma operação da Polícia Civil que investigava suposto exercício ilegal da medicina. Porém, ela era médica habilitada, com CRM ativo e documentação regular, o que foi confirmado posteriormente por laudos, notas e parecer do Conselho Regional de Medicina.
Após análise detalhada da defesa, o Ministério Público concluiu que não houve crime, arquivou a investigação e pediu a revogação das medidas cautelares, decisão acolhida pela Justiça.
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