20 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:43

Infectologistas alertam para vacinação desnecessária contra febre amarela

Foto Ilustração
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Especialistas em infectologia defendem maior controle dos programas de imunização contra a febre amarela nas cidades, mas alertam também para vacinação desnecessária.

A febre amarela do tipo silvestre (em áreas rurais) já matou três pessoas no Estado de São Paulo. Em Minas Gerais, há surto da doença.

Essencialmente, a vacina -que está no calendário nacional de vacinação- deve ser aplicada nas pessoas que vivem ou que viajarão para regiões onde há ou já houve registros da doença. Os sintomas dela são febre, dores no corpo, náuseas, vômito e, nos casos graves, insuficiência renal, icterícia (cor amarelada da pele) e hemorragias.

Membros da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) ressaltam que a vacina pode gerar reações adversas, que prejudicam especialmente idosos, gestantes e mulheres em fase de amamentação.

Para o infectologista Jessé Alves, coordenador do comitê de medicina do viajante da Sociedade Brasileira de Infectologia, uma eventual vacinação em massa é uma medida arriscada. “Propor a vacinação para a parte do Brasil que não está em áreas consideradas de risco tem um impacto muito grande”, diz.

Reportagem da Folha de S.Paulo desta quarta-feira (25) mostra que postos de saúde municipais tiveram estoques esgotados tamanha a procura.

Segundo o médico, um dos motivos é que a vacina (feita do vírus vivo atenuado) tem efeitos colaterais potencialmente graves. “Ela pode produzir a própria doença que ela justamente quer evitar, que é a febre amarela”, explica. Alves diz que sempre que há aumento do número de vacinados, começam a surgir casos de efeitos colaterais.

“Por isso, é delicada essa discussão de fazer uma vacinação geral no Brasil. Isso é motivo de debates permanentes na área. Há uma relação risco-benefício que precisa ser analisada”, disse Alves.

Idosos

Segundo Alves, testes feitos na região norte da Argentina mostram que 60% das pessoas que sofreram efeitos colaterais da vacina tinham mais de 60 anos -idade em que o sistema imunológico pode ficar mais debilitado- vacinados pela primeira vez. Como precaução, o idoso deve procurar seu médico antes de se submeter à vacina.

A imunização também é contraindicada para crianças de até seis meses e para gestantes. Nas grávidas, ela só deve ocorrer se houver alto risco de transmissão, com a exposição em áreas do país com a doença.

Mulheres que estejam amamentando crianças com menos de seis meses também não devem tomar. Nas áreas de alto risco de contágio, caso a lactante precise da vacina, deve-se suspender a amamentação por quatro semanas. Médicos também orientam que se evitem as viagens em vez de se submeter aos efeitos colaterais, além da proteção por meio de repelentes.

“O que houve [neste ano] foi um desequilíbrio de deslocamentos de pessoas que deveriam ter sido vacinadas regularmente. A gente entende o pânico, mas não há necessidade disso. Quem não vai viajar para esses lugares [de risco], não deve se vacinar”, disse a infectologista Helena Brígido, também consultora da SBI e professora da Universidade Federal do Pará.

Segundo ela, as cidades recebem a vacina de janeiro a janeiro, mas muitas vezes as pessoas procuram os postos sem necessidade -caso também dos que já se vacinaram há menos de dez anos.

Já o infectologista Carlos Starling, que atua em Minas Gerais (onde há regiões com surto da doença), diz que é necessário um maior controle do armazenamento e da aplicação da vacinação. “Deve-se avaliar sempre a cobertura vacinal no país. Ao mesmo tempo, é necessário saber como anda o processo, desde a conservação adequada à aplicação”, disse.

De acordo com ele, a má conservação pode comprometer os efeitos da vacina. Para Starling, há um alarmismo no país, já que a doença -inexistente em áreas urbanas desde 1942- é menos frequente do que a dengue, a zika e a chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

O Ministério da Saúde diz que há estoque suficiente de vacinas.

Folhapress

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