SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alexandre de Moraes ainda era secretário de Segurança de São Paulo quando o então vice-presidente, Michel Temer, o procurou, em abril de 2016. O celular de Marcela, hoje primeira-dama, havia sido clonado. Um homem acessara seus e-mails e fotos íntimas e pedia dinheiro para não espalhar os dados. Moraes tratou de tudo pessoalmente, com discrição. Em cerca de 40 dias, prendeu o responsável. Nenhum detalhe vazou. Deu a Temer demonstração cabal de que merecia seu voto de confiança.
Os dois já conviviam havia mais de 20 anos. Conheceram-se na seara acadêmica, mas se aproximaram com a política. Em sua trajetória, Moraes sempre fez questão de alinhar as duas correntes.
Promotor de carreira, primeiro galgou espaços no universo acadêmico. Fez especializações, doutorado. Escreveu livros de Direito Constitucional que venderam bem. Depois, advogado, projetou-se como conselheiro de políticos e grupos influentes. Temer sempre teve lugar de destaque nas relações que Moraes gosta de alardear. Ele devota amizade a outros nomes, como o governador Geraldo Alckmin (SP). No PSDB, se aproximou recentemente do chanceler José Serra e do senador Aécio Neves (MG), mas é alckmista.
Será indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal) com o apoio de ao menos três partidos: PMDB, DEM e PSDB -hoje ele é tucano, mas já foi filiado às outras duas siglas. Na outra frente, a dedicação à academia o aproximou de nomes como os ministros Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, do STF. Foi, inclusive, para Lewandowski que perdeu um concurso de professor titular da USP.
No magistério, protagonizou polêmica ao ser acusado por alunos de ter relativizado a tortura em sala de aula. Ele nega e diz que sua fala foi tirada de contexto. Apesar do bom trânsito no Supremo, havia um obstáculo a ser vencido. Para ser indicado, Moraes precisava da chancela de Gilmar Mendes.
Presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) -onde corre uma ação que pode cassar o mandato de Temer- e membro do STF, Mendes se tornou figura central na escolha do nome para o Supremo. Por vezes, foi apresentado por peemedebistas como um modelo a ser seguido: “um jurista criado na política”. Moraes é a tentativa de Temer de repetir esta fórmula. Alçado à Presidência, Temer o convidou para ser ministro. Ele titubeou: via chances de disputar a prefeitura de São Paulo ou o governo do Estado, com o apoio de Alckmin. Temer lançou um argumento infalível. Disse que conhecia o sonho de Moraes de ser ministro do STF e concluiu: “Ninguém chega lá sem passar por Brasília”. Nomeado para a Justiça, Moraes foi acusado de não ter tato para o cargo. Antecipou uma ação da Lava Jato e, recentemente, foi criticado durante a crise carcerária. Com a morte do ministro Teori Zavascki, submergiu. Foi blindado e abraçado pelo PMDB e pelo PSDB. No último domingo (5), à noite, recebeu a ligação que tanto esperava. Era um colega da Esplanada. “O Michel te escolheu. Vai ser você.”
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