25 de novembro de 2024
EDIFÍCIO JOELMA

Incêndio no Edifício Joelma: relembre o caso que chocou o Brasil há 50 anos

Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que almas habitam o edifício, que vagueiam pelos andares, gemendo e chorando
O incêndio no Edifício Joelma é considerado o terceiro maior do Brasil em número de vítimas. (Foto: Reprodução)
O incêndio no Edifício Joelma é considerado o terceiro maior do Brasil em número de vítimas. (Foto: Reprodução)

Um incêndio no Edifício Joelma, localizado no centro de São Paulo, no dia 1º de fevereiro de 1974, deixou 188 mortos, chocando o Brasil. Após 50 anos, os túmulos das “Treze Almas” viraram local de peregrinação e fonte de lendas. Nos túmulos estão os corpos carbonizados de 13 pessoas, nunca identificados, que tentaram escapar pelo elevador, mas sem sucesso.

Os corpos foram enterrados no Cemitério São Pedro e, segundo um coveiro na época do incêndio no Edifício Joelma, “seu” Gugu, o enterro estava lotado. “Da Vila Alpina, do Jardim Independência, de todo lugar”, relembra.

Os treze corpos chegaram em caixões transportados por kombis pretas acompanhados por uma multidão, mas não eram familiares, já que não foram reconhecidos, apenas populares curiosos. O incêndio no Edifício Joelma é considerado o terceiro maior do Brasil considerando o número de vítimas, ficando atrás do Gran Circus Norte-Americano (1961), que deixou 500 mortos, e a tragédia da boate Kiss (2013), que deixou 242 mortos.

Lendas

Uma série de lendas cercam relatos do incêndio no Edifício Joelma, inclusive de sobreviventes da época. Em entrevista ao UOL em 2014, um dos sobreviventes, Osório Gonçalves da Silva, afirmou que teve a vida salva por uma criança, por uma “ajuda espiritual”. Um outro sobrevivente, o pastor evangélico William Conceição Ferraz, também relata ter sido guiado por um “anjo”.

Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que almas habitam o edifício, que vagueiam pelos andares, gemendo e chorando.

Uma carta chegou a ser psicografada por Chico Xavier, de uma jovem tranquilizando e consolando a mãe sobre o pós-morte. A história de Volquimar Carvalho dos Santos, que morreu na tragédia, foi retratada no filme “Joelma, 23º andar”. Durante as filmagens, as experiências paranormais também estiveram presentes. Segundo testemunhas, era possível escutar ruídos inexplicáveis, refletores despencando sem causa aparente e captura de fenômenos sobrenaturais em fotografia.

Peregrinação

Alguns anos depois do incêndio no Edifício Joelma e do enterro das vítimas, pessoas relataram que ouviam gemidos das almas dos corpos enterrados e populares encontraram uma “solução” inusitada: jogar água e às vezes leite nos túmulos. A justificativa é que as almas pareciam sentir dores e o calor do incêndio, portanto a ação acalmava os espíritos.

Entretanto, “Seu” Gugu se aposentou em 2011 e diz nunca ver ou ouvir nada nos 37 anos que trabalhou como coveiro, mas um colega teria relatado ter experienciado esses encontros paranormais e que também teria ouvido almas gemendo.

Com a repercussão dos relatos sobre as Treze Almas, preces e promessas passaram a ser feitas, pedindo por intercessão das almas para alcançar graças. A retribuição era em forma de copos, garrafas e baldes de água jogados e deixados nos túmulos.

Segundo o pesquisador e idealizados do projeto “O que te Assombra”, Thiago de Souza, ao jornal UOL, esse é um trânsito de um caso de assombração para devoção. “A gente não consegue encaixar questões sobrenaturais ou inexplicáveis na coluna do meio: ou temos um olhar muito religioso e dogmático, dentro de margens muito inflexíveis, ou tornamos um exotismo completo, que quase considerada porque é uma história de fantasma, infantilizando essa relação”, explica.

No local em que estão os túmulos das pessoas carbonizadas no incêndio do Edifício Joelma, há uma capela com placas de agradecimento às graças alcançadas, que foi construída há cerca de dez anos depois do enterro. De acordo com “Seu” Gugu, a capela é mantida em parceria com os devotos, sendo local de destino de peregrinação.

Além disso, a tradição da água para “refrescar” as almas das vítimas do incêndio no Edifício Joelma também continua, sendo que em cada túmulo há uma garrafa aberta, que é retirada e trocada com frequência para evitar focos de dengue.


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