Quatro motociclistas morrem a cada três dias em Goiás. Em média, 600 vidas são perdidas anualmente em sinistros envolvendo motocicletas, um número que, segundo o presidente do Detran-GO, Delegado Waldir, “é extremamente preocupante” e comparável a uma verdadeira tragédia silenciosa. A declaração foi feita nesta segunda-feira (25), durante a apresentação de dados atualizados sobre a mortalidade no trânsito no Estado, em evento que marcou a abertura da Semana Nacional de Trânsito.
Entre 2023 e 2024, foram 1.205 motociclistas ou garupas mortos em Goiás. Apenas nos primeiros seis meses de 2025, já são 243 óbitos confirmados, sendo quase 40% de todas as mortes registradas no trânsito goiano no período, que somaram 633, segundo o Observatório da Segurança Viária.
Além das mortes, há o passivo dos feridos graves. O Detran estima que, para cada vítima fatal, pelo menos quatro a cinco pessoas sobrevivem com sequelas permanentes. “Estamos falando de mais de mil pessoas apenas no primeiro semestre de 2025 que ficaram com algum tipo de lesão grave, muitas vezes incapacitante. Quando o para-choque é a cabeça do motociclista, dificilmente ele sai ileso. São ferros nas pernas, amputações, paraplegia, tetraplegia, famílias desfeitas. É um impacto humano e social gigantesco”, descreveu Waldir.
Impacto na saúde pública
Os hospitais do Estado refletem o peso dessa realidade. No Hugol, em Goiânia, 2.662 vítimas de sinistros de trânsito foram atendidas no primeiro semestre deste ano, das quais 1.948 (73,18%) eram motociclistas. No Hospital Estadual de Aparecida de Goiânia, foram 997 vítimas, sendo 736 motociclistas (73,82%), com custo estimado de R$ 4,1 milhões. Situação semelhante ocorreu em Jataí, Formosa e Anápolis, onde a proporção de vítimas em motocicletas chegou a 77,9%.
“Setenta por cento dos atendimentos hospitalares de trânsito são de motociclistas. Isso sobrecarrega o sistema de saúde, consome recursos públicos e retira a possibilidade de investimento em outras especialidades médicas. Só em Aparecida, foram R$ 4 milhões em seis meses. Em Jataí, R$ 3 milhões. Esse custo não é apenas financeiro, é humano”, reforçou o delegado.
Velocidade e imprudência
O excesso de velocidade aparece como principal fator determinante das mortes. Somente no primeiro semestre de 2025, 2,1 milhões de multas foram aplicadas em Goiás; 60% delas por velocidade acima do limite. “Se você ficar dez minutos em frente ao Detran, vai ver que de dez motociclistas, pelo menos três avançam o sinal vermelho. A pressa, que deveria representar apenas alguns minutos, está custando vidas e famílias inteiras”, relatou Waldir.
Fiscalização e novas medidas
Para intensificar o combate às infrações, o Detran anunciou parceria com a Polícia Militar. Uma portaria do Comando-Geral prevê a especialização de quatro policiais de cada batalhão exclusivamente para fiscalizar o trânsito. O Detran também está doando motocicletas de 800 cilindradas à PM e às guardas municipais para reforçar as operações.
Outra medida em estudo é a implantação da chamada faixa azul, já testada em São Paulo, que cria corredores seguros para motociclistas. Em Goiânia, o projeto foi aprovado na Câmara Municipal e aguarda autorização do Senatran. “Se temos espaço para salvar vidas, não podemos ficar presos a burocracias. Estamos falando de gente que está morrendo ou ficando com sequelas permanentes”, defendeu Waldir.
Pressão por entregas e responsabilidade social
O delegado também criticou a pressão exercida por empresas e aplicativos sobre entregadores, que incentiva a alta velocidade e aumenta os riscos. “Isso precisa ser enfrentado pelo Ministério Público do Trabalho. O empresário precisa entender que a vida tem custo. O motociclista que perde um braço, que fica paraplégico, tetraplégico, é uma tragédia pessoal, mas também um peso para a Previdência e para o sistema de saúde”, frisou.
Campanha de conscientização
O Detran lançou a campanha “No trânsito, a pressa deixa marcas”, que traz histórias reais de vítimas e familiares. Uma das ações de rua exibe um urso de pelúcia de capacete, com membros engessados, simbolizando o risco do transporte de crianças em motos. “É para tocar na consciência dos pais. O Código de Trânsito permite o transporte a partir dos 10 anos, mas a responsabilidade é muito maior. A criança é frágil, precisa ser protegida”, alertou o delegado.
Encerrando sua fala, Waldir fez um apelo emocionado: “A motocicleta é um instrumento de trabalho, de lazer, mas não pode ser usada como ferramenta de suicídio. O trânsito não é só meu, não é só seu, é de todos nós. Cada vida perdida é uma família destruída. É preciso consciência, respeito à sinalização, reduzir a velocidade. Você só tem uma vida, e ela não pode ser desperdiçada por três ou quatro minutos de pressa”.
Cenário Nacional
Durante reunião da Frente Nacional de Prefeitos, realizada em Goiânia, foram apresentados dados alarmantes que reforçam a gravidade da violência no trânsito em todo o país. Só no Brasil, estima-se que 160 mil pessoas fiquem gravemente feridas por ano em sinistros viários, muitas delas com sequelas permanentes. O levantamento também aponta que, entre 2006 e 2018, meio milhão de brasileiros perderam a vida no trânsito, o equivalente a sumir do mapa uma cidade inteira como Florianópolis ou Niterói.
Os números revelam que o problema é de escala nacional e não apenas regional. Em 2023, por exemplo, as mortes de motociclistas representaram 61% dos óbitos no Norte, 59% no Nordeste, 45% no Centro-Oeste, 36% no Sudeste e 32% no Sul. O perfil das vítimas também mudou: em 1998, a maioria dos mortos eram pedestres (66%), enquanto em 2010 os motociclistas passaram a responder por 33% das fatalidades.
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