23 de dezembro de 2024
Cidades • atualizado em 24/02/2021 às 07:17

Igreja não tem função de prestar serviços psicológicos, diz Conselho de Psicologia

Sede do Conselho Regional de Psicologia. (Foto: Reprodução/Google Maps)
Sede do Conselho Regional de Psicologia. (Foto: Reprodução/Google Maps)

O Conselho Regional de Psicologia (CRP) mostra preocupação com a afirmação de deputados estaduais e vereadores ligados à igreja que dizem que instituições religiosas podem prestar serviços psicológicos.

Tanto a nível de estado quanto em Goiânia, parlamentares aprovaram projetos de lei que tornam a atividade religiosa essencial. A argumentação, porém, é rebatida pelo CRP.

“O atendimento psicológico é muito além de somente templo religioso. Nossa preocupação é o entendimento de que a igreja, sozinha, daria conta de atender essa demanda, que é multifatorial”, disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos do CRP, Cândido Oliveira.

Ele explica que não se posiciona contra a lei, mas à forma de comunicação do papel da igreja. “Queremos dialogar com deputados para que haja cuidado na comunicação. Não vejo problema em tornar as igrejas ou templos religiosos em atividade essencial, desde que seja esse cuidado no trato do que é saúde mental, do que é o sofrimento do sujeito”, destaca.

Oliveira cita uma fala do deputado estadual Jeferson Rodrigues, autor do projeto que torna as atividades religiosas essenciais em Goiás. No ano passado, ele disse ao portal da Alego. “Quantas pessoas, da periferia ou bairros nobres, não possuem condições de arcar com psicólogos ou psiquiatras e encontram nas igrejas alguém para ouvir seus desabafos e orientá-las?”.

Para CRP, a fala é equivocada. “Quando ele coloca dessa maneira, é como se a igreja estivesse ocupando um lugar que não é dela. A igreja não tem a função de prestar serviços psicológicos, psquiátrico ou análogo a essa ciência”, pontua.

Há críticas também ao uso do termo ‘desabafos’. “Ele coloca o sofrimento das pessoas de uma forma que não considera o que é, de fato, saúde mental. Só desabafar não é necessariamente um acolhimento. Quando há uma intervenção psicológico, ainda por meio da fala, é orientada por uma técnica científica”, ressalta.

Oliveira cita ainda que “as igrejas cumprem um papel social extramemente importante na vida de quem tem um credo religioso ou pratica um ato de fé”. Porém, lembra que psicólogos e psquiatras devem “ter uma formação específica, um direcionamento científico e pensar num plano terapêutico para atendimento do sujeito em sofrimento mental”.

“O atendimento psicológico só pode ser realizado por um profissional de psicologia”, finaliza.


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