22 de dezembro de 2024
Cidades

Hugo inaugura Memorial Árvore da Vida, em homenagem à doação de órgãos

Com o objetivo de prestar uma homenagem aos doadores de órgãos e seus familiares, o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) inaugurou o Memorial Árvore da Vida, obra assinada e doada pelo artista plástico Siron Franco. A solenidade de entrega do monumento, realizada na terça-feira, 26 de abril, às 10 horas, contou com a presença do secretário de Estado da Saúde de Goiás, Leonardo Vilela; familiares de doadores de órgãos, diretores do hospital, representantes da Central de Notificação, Capacitação e Distribuição de Órgãos de Goiás (CNCDO) e da filha do artista Nina Franco.

Cerca de 25 famílias compareceram à solenidade no Hugo. A emoção tomou conta do evento à medida que os familiares davam seus depoimentos. Valdivina Alves dos Santos perdeu o filho de 22 anos há um ano e cinco meses. Ele foi vítima de um acidente de moto e ficou internado no Hugo por uma semana. Segundo ela, o filho sempre expressava o desejo de ser um doador. “Os órgãos dele foram doados para sete pessoas. É muito bom saber que meu filho continua em outras pessoas, em outras famílias. Para mim, isso é muito gratificante.”

De acordo com o diretor Geral do Hugo, construir um memorial para homenagear doadores é uma forma de valorizar o ato das famílias que, mesmo diante da dor da perda de um ente querido, tiveram a nobreza de ajudar outras pessoas que aguardam por um órgão para transplante. “Apesar de ser popular no exterior, a exemplo dos Estados Unidos, no Brasil existem poucos memoriais dedicados a doadores de órgãos. Os estados de Minas Gerais e Paraná contam com obras do gênero”, destaca José Mário Meira Teles, superintendente Técnico do Gerir, organização social que administra o Hugo.

O coordenador da Central de Transplantes, Luciano Leão, destacou que o atendimento no Hugo e o acolhimento aos pacientes e suas famílias têm contribuído para aumentar as doações e transplantes de órgãos em Goiás. “Ainda temos em torno de 1.200 pessoas no Estado aguardando transplantes, principalmente de córneas e rins. O número de famílias que autoriza as doações está aquém do que precisaríamos, mas temos uma situação melhor do que vivíamos há um tempo. As doações aumentaram em torno de 90% de 2014 para 2015 e esperamos melhorar ainda mais essa realidade.”

O Hugo é atualmente a unidade de saúde que mais capta órgãos para doação em Goiás, respondendo pela maioria das captações. Em 2014, quando o hospital começou este trabalho, foram coletados no Estado 70 órgãos – entre coração, fígado, pâncreas, rim e pulmão –, sendo que 67 deles foram provenientes de pacientes do Hugo. Ou seja, 95,7% do total. Em 2015, dos 113 órgãos captados para doação em Estado, 82 foram provenientes do Hugo.

Alto índice de recusa

No Brasil, a doação de órgãos ainda é tabu, por motivos diversos. Por isso, o Ministério da Saúde vem realizando um trabalho de conscientização da população sobre a importância da doação. Afinal, é alto o índice de recusa das famílias em autorizar a retirada dos órgãos de pessoas que tiveram morte encefálica para doação. No Hugo, pode-se constatar este fato. Em média, de dez famílias abordadas na unidade hospitalar, apenas três autorizam a doação. Ou seja, o percentual de recusa chega a 70%. Esta realidade faz parte do cenário nacional. O índice de recusa no Brasil gira em torno de 44% e em Goiás 64%.

Como consequência, a fila de espera por um órgão para transplante não para de crescer. Em Goiás, existem 911 pessoas aguardando; no Brasil inteiro, são 31.915 candidatos, de acordo com os dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Em 2015, no País inteiro, 2.854 pessoas que tiveram morte encefálica foram doadoras. Em Goiás, foram 44. O perfil do doador é, geralmente, pessoa do sexo masculino, vítima de traumatismo cranioencefálico (TCE) ou acidente vascular cerebral (AVC), com idade entre 18 e 49 anos.

Para reverter esta situação, é necessário que ocorra uma mudança de comportamento dos brasileiros. “A conscientização acontece de forma gradual e progressiva. Tem de ocorrer a modificação de uma cultura. E isso demanda tempo e trabalho de todos nós”, aposta Ciro Ricardo Pires de Castro, diretor Geral do HUGO. “Necessitamos e muito aumentar as doações. Mas isso não depende só da gente desejar. Nós precisamos implantar e implementar parcerias com instituições, com profissionais. Precisamos conscientizar a população da importância das doações, porque temos muito doadores em potencial, mas não temos as doações suficientes”, explica Luciano Leão, coordenador da CNCDO.

A obra e o artista

Siron Franco, que é um entusiasta do projeto, não cobrou cachê pelo trabalho. A trajetória do artista, iniciada nos anos 1970, comprova sua forte ligação com questões sociais. A exemplo do acidente radiológico com o césio 137, ocorrido em Goiânia, em 1987, quando pintou a série intitulada Césio; a realização de um memorial dedicado aos povos indígenas, como forma de denunciar o descaso das autoridades diante dessa população; além de outros projetos.

“A iniciativa é maravilhosa. Primeiro porque reconhece a importância da doação de órgãos, que salva vidas e incentiva outras famílias. Segundo por levar a arte para dentro de um hospital”, destaca. “Estou doando meu trabalho. Cresci com sentimento de coletivo, vendo meus pais fazendo trabalho voluntário. Aprendi em casa”, explica o artista para justificar seu gesto. O memorial do HUGO com o formato de árvore é inédito no País. “É um pequizeiro, onde cada fruto traz as iniciais do nome do doador”, explica o artista.


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