05 de dezembro de 2025
RAZÃO DO CRIME • atualizado em 05/12/2025 às 17:14

Homicídios investiga vingança e esquema da saúde em morte de comerciante supostamente executado por PMs em Goiânia

Coronel da PM é investigado como possível mandante; ação envolveu sargentos, civis e planejamento detalhado
Comerciante assassinado em Goiânia foi denunciado por estupro de parente de coronel - Foto: divulgação PCGO / arquivo
Comerciante assassinado em Goiânia foi denunciado por estupro de parente de coronel - Foto: divulgação PCGO / arquivo

A Polícia Civil trabalha com ao menos duas hipóteses que teriam motivado o grupo formado por policiais militares a supostamente executar o comerciante Fabrício Brasil Lourenço, de 49 anos, em 4 de outubro, no setor Bairro Feliz, com dez tiros a queima-roupa. Uma delas é de vingança porque ele estaria envolvido em um suposto estupro de uma parente do coronel Alessandro Regis Reis de Carvalho, comandante do Serviço Aéreo do Estado de Goiás, também ligado ao Gabinete Militar do governo estadual.  

Na quinta-feira (4) ele foi alvo de buscas e apreensões. Dois sargentos foram presos no mesmo dia: o 1º sargento Leneker Breno Campos Aires de Oliveira, que também faz parte do Gabinete Militar na segurança da vice-governadoria e que seria próximo do oficial, e o 3º sargento Tiago Lemes de Oliveira. No dia, a Polícia Civil (PCGO) cumpriu nove mandados de busca e apreensão domiciliar em Goiânia, Senador Canedo, Nova Veneza e Trindade. 

Papel dos investigados

Por essa linha de investigação, revelada pela Tv Anhanguera nesta sexta-feira (05), o coronel seria o mandante e os sargentos os executores. Outros dois homens foram presos, mas são civis.

Um deles é o ex-militar do Exército, José Antônio Moreira. O papel dele seria organizar a logística, como fornecer os veículos para facilitar o homicídio e coordenar preparativos da ação para assassinar o empresário.  

O quarto envolvido foi identificado como Cleiton Souza Lima, que trabalha como segurança de uma chácara no setor Santa Genoveva. Ainda segundo apurou a Tv Anhanguera, esse imóvel teria servido de base para o crime e, na noite da execução, a motocicleta, pilotada pelo sargento Leneker, e um carro conduzido pelo sargento Tiago, estiveram no local.  

Desvios da Saúde

A outra hipótese é de que o crime tenha relação com desvios de recursos da Secretaria Municipal de Saúde na gestão passada, uma queima de arquivo relacionada aos fatos, por exemplo. O comerciante era ligado a uma empresa investigada por envolvimento no desvio milionário de verbas da saúde na capital. No entanto, ainda não surgiu nexo entre esse fato e os suspeitos. 

Na ocasião do homicídio, a investigação apontou que a vítima se sentia ameaçada e que os criminosos planejaram meticulosamente a ação, monitorando a rotina do comerciante. “Os assassinos sabiam dos passos dele e agiram de forma precisa. Há indícios de que ele vinha sendo ameaçado, pois havia se mudado para um apartamento e adquirido um carro blindado. Essa circunstância nos leva a crer que ele estava se precavendo de algum atentado”, afirmou na época o delegado Vinícius Teles da DIH. 

Moto foi escondida em carroceria de caminhonete 

Após a execução, durante a fuga, os atiradores ficaram escondidos numa mata. Eles foram resgatados por José Antônio e a motocicleta usada no crime foi colocada na carroceria de uma caminhonete que foi estrategicamente tampada com uma lona. 

A investigação apontou que o veículo foi para Nova Veneza, onde José Antônio Moreira teria um imóvel. Após ocultarem a moto, os suspeitos voltaram para a chácara onde estava o outro comparsa em Goiânia e passaram a agir como se nada tivesse acontecido. 

Ficha do morto

A investigação da Polícia Civil, entretanto, verificou que o dono da pastelaria já tinha sido investigado em vários processos por crimes que vão desde a corrupção até estupro de vulnerável e que, portanto, tinha feito muitos inimigos.  

Nessa apuração, se verificou que Fabrício Brasil foi denunciado e condenado em primeira instância por estupro de uma parente de um coronel da PM, mas recorreu e foi absolvido nesse processo.  

Esse coronel é Alessandro Regis que, em 2020, denunciou o estupro de uma parente menor de idade. Em novembro ele chegou a ser ouvido na Delegacia de Homicídios de Goiânia e negou qualquer relação com a execução do comerciante, argumentando que não matou e nunca ameaçou Fabrício Brasil.  

Prisão mantida após audiência

A proximidade entre o oficial e o sargento Leneker, entretanto, chama a atenção dos investigadores que apontam o sargento como sendo um dos atiradores filmados na cena do crime.  

A Justiça decidiu manter a prisão temporária dele e dos outros três presos na operação de quinta após terem passado por audiência de custódia. O coronel foi alvo de busca e apreensão e não teve prisão decretada. 

A reportagem não teve acesso aos contatos dos alvos e de suas defesas para ouvir suas versões. O espaço está aberto neste sentido. 

A Corregedoria da PMGO está acompanhando o caso. Em nota na quinta, a corporação destacou que “mantém compromisso com a ética, a moralidade e o cumprimento das leis, não admitindo quaisquer desvios de conduta.” 


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