A literatura médica aponta que cerca da metade dos pacientes que possuem câncer no cólon e no reto irá apresentar a doença também no fígado. É o que se chama de metástase – quando um tumor secundário atinge outros órgãos. O fígado pode ser acometido pela metástase em 15% a 20% dos casos no momento do diagnóstico do câncer colorretal e em até 60% dos casos ao longo da vida dessas pessoas.
Esse tipo de doença – o câncer metastático de fígado – foi objeto de um estudo pioneiro realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG). Conduzido por Andressa Machado Santana Brasil, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFG, o levantamento aponta aspectos epidemiológicos, clínicos e terapêuticos de pacientes com essa doença, atendidos no Hospital das Clínicas entre 2013 e 2016.
Ao analisar 54 prontuários, Andressa identificou o perfil dos pacientes mais acometidos pela doença: homens na faixa dos 60 anos e que apresentaram a metástase no fígado em até seis meses depois do diagnóstico do tumor inicial no cólon e no reto (modalidade da doença denominada sincrônica). Tratados com quimioterapia associada a drogas biológicas (51,9% dos casos) e com cirurgia (42,6% dos casos), esses pacientes tiveram uma sobrevida média de mais de dois anos (27,3 meses).
A pesquisadora explica que o estudo encontrou uma associação que contraria evidências clássicas que apontam que pessoas que apresentam a metástase no fígado em até seis meses (sincrônica) vivem menos. No Hospital das Clínicas, esses pacientes viveram mais que aqueles que tiveram a doença hepática depois de seis meses do diagnóstico inicial (modalidade da doença denominada metacrônica).
O professor da UFG, Claudemiro Quireze Júnior, que orientou a pesquisa, acrescenta que os dados contribuem para desmistificar o pessimismo que atinge pacientes que apresentam tumores no fígado. “As pessoas têm a ideia de que, pela gravidade do problema, não terão tratamento. Na verdade, não apenas há tratamento, como há recursos para isso no Sistema Único de Saúde, a exemplo do Hospital das Clínicas”, afirma.
Ao levantar informações epidemiológicas sobre a doença em Goiás, a pesquisa também contribui para a adoção de procedimentos mais adequados à realidade regional. A partir dela, fica evidente, por exemplo, que homens depois dos 40 anos, com histórico de câncer na família, precisam estar atentos aos exames preventivos. “Isso vai impactar em diagnóstico precoce, prevenção para os pacientes, diminuição da morbidade e, naturalmente, no futuro, deve impactar no número de pessoas precisando de tratamentos complexos”, conclui o professor.
Hospital das Clínicas
Desde 2013, o Hospital das Clínicas da UFG possui um serviço de referência em cirurgia do aparelho digestivo. O setor conta com uma equipe multidisciplinar de cirurgia hepatopancreatobiliar (fígado, pâncreas e vias biliares), que trata principalmente de pacientes com tumores. O câncer de cólon e reto é o terceiro mais incidente no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é também o tumor mais frequente no aparelho digestivo.
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