A pandemia do novo coronavírus aumentou em 30% os ataques cibernéticos em todo o mundo, segundo o relatório internacional da Verizon Data Breach. “Quem não foi vítima, está sendo vítima ou será vítima em breve”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de CiberSegurança, Sandro Süffert, no webinar intitulado “Ciberguerra: o crime agora é na internet”, promovido pelo Instituto de Estudos Jurídicos Aplicados, nesta segunda-feira (17/08).
Além de Sandro, participaram do evento o senador Marcos do Val (PODE-ES), titular da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Senado e o delegado Alesandro Gonçalves Barreto, coordenador do Laboratório de Operações do Ministério da Justiça.
É que agora, mesmo quem usava a internet apenas para o mínimo possível, passa a utilizá-la cotidianamente com o advento do trabalho remoto. Escolas e Universidades começam a adotar o Ensino à Distância para que as aulas possam acontecer de forma segura para professores e alunos. E médicos passam a atender via tele-atendimento, utilizando os ‘aplicativos mensageiros’ como WhatsApp, Skype entre outros. O mundo está mais on do que off.
‘Pandemia das oportunidades’
Com todo um cenário de integração digital absoluta, abre-se oportunidades para criminosos virtuais mostrarem suas habilidades. “Eles são insistentes”, pontuou o delegado Alesandro Gonçalves. “O crime ele migrou do ambiente físico para o cibernético. O criminoso viu nisso um cenário de alavancar seus ganhos e em contrapartida conseguem se esconder por trás de conexões de internet”, pontuou.
“O crime não entra em quarentena. Entramos num isolamento e o crime não entrou. Isso foi uma pandemia de oportunismo para o crime. A pandemia das oportunidades”, alerta Gonçalves. Na tentativa de combater os crimes cometidos no ambiente virtual, está tramitando no Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional, a PEC 03/2020 que tem como objetivo estabelecer “a competência privativa da União para legislar sobre defesa cibernética e competência comum de todos entes federados para legislarem sobre segurança cibernética”.
Para o delegado, a iniciativa “é excelente”, pois vai dar “uma normativa a crimes que já acontecem”. “Tanto na parte da defesa e segurança cibernética a gente sai na frente nesses cenários”, menciona.
O usuário-final como elemento fundamental para segurança à coletividade
O 5G promete revolucionar ainda mais a vida das pessoas. Não apenas em questão da velocidade de conexão ou interconexões. Mais além: “Dispositivos que antes nunca foram conectados agora estarão conectados”, pontuou Sandro.
Nesse emaranhado de tecnologias, o usuário acaba se perdendo coisas pequenas e pode ser quase que ‘fisgado’ por situações que jamais imaginaria serem perigosas. Um link não checado em um e-mail, uma tentativa de golpe via whatsapp e a própria engenharia social onde uma pessoa fraudulenta engana a vítima pela internet.
O delegado Alesandro comenta que o ‘fator humano’ é algo um tanto quanto complicador no cenário que favorece crimes cibernéticos: “A principal vulnerabilidade no meio da história está no fator humano. Enquanto tiver o fator humano, clicando em links, passando informação, disponibilizando informações em redes sociais”, pontua.
Alesandro comenta que é necessário atenção e não há ‘remédio 100% seguro’ para evitar um ataque. “Quais são regras boas para a internet? Não vai ter nenhum remédio que será 100% seguro na internet. Vai sempre haver as inseguranças e precisamos trabalhar com isso.” Por isso alerta: “Precisamos checar as informações antes de repassar”. Um link nocivo que contém um vírus, um sorteio mirabolante… É importante ter o que o delegado chama de “educação digital”. “Nós adultos, precisamos de ter cyber-educação”, alerta.
Senador destaca fragilidade nos processos digitais
O senador Marcos do Val que participou do webinário quer agilidade no processo. “Infelizmente, os processos democráticos são lentos”, pontua. Ele é titular da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Senado e está discutindo a PEC 03 2020. “Nós temos a PEC 03 que é para regulamentar que a Constituição diga como pode funcionar as regras sobre os ataques cibernéticos”, salientou.
Para ele, é um debate atrasado. Afinal das contas, o primeiro ataque cibernético à um país ocorreu em há treze anos. “Isso já deveria ter acontecido há muito tempo pois o primeiro ataque à um país foi em 2007 na Estônia”, pontuou. O ataque cibernético no país europeu deixou sites do Governo fora do ar bem como de entidades privadas, praticamente parando a Estônia por algumas horas.
Marcos demonstra a preocupação com a possível chegada do 5G no Brasil sem antes ter uma regulamentação delimitada sobre os ataques cibernéticos. “É como se estivéssemos fabricando um carro, sem termos lei de trânsito para isso”, comparou.
Também destacou sua preocupação em criar uma legislação que não promova censura e agrade os ‘mais variados segmentos da sociedade’. “Precisamos ter os especialistas conosco para tentar entender como atingir essa missão, seguindo o que a sociedade bem eclética deseja. Tem muito medo da censura. O projeto de lei da fake news levou um pânico da sociedade de possibilidade de censura de não ter mais as mesmas liberdades. A gente precisa ter liberdades mas com as responsabilidades”, ponderou.
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