A secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andréa Vulcanis, recebeu, nesta terça-feira (15), professores das universidades federais de Goiás (UFG), de Viçosa-MG (UFV) e representantes do Instituto Espinhaço para a primeira reunião presencial do grupo de trabalho que vai identificar as áreas prioritárias e elaborar o projeto executivo do Programa Juntos pelo Araguaia.
A iniciativa dos governos de Goiás, Mato Grosso e da União reúne dezenas de instituições de ensino superior, unidades educacionais e entidades da sociedade civil com a missão de formatar um projeto que será modelo para o Brasil no que se refere à recuperação de áreas degradadas e revitalização de bacias.
Participaram do encontro o presidente do Instituto Espinhaço, Luiz Cláudio de Oliveira, o diretor da organização, Felipe Xavier, o professor do Departamento de Economia Rural da UFV, José Ambrósio Ferreira Neto, além dos professores da Escola de Agronomia da UFG Marcos Gomes da Cunha e Clayton Luiz de Melo Nunes, e dos docentes do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG Manuel Eduardo Ferreira, Elaine Barbosa da Silva, Nilson Ferreira e Maximiliano Bayer.
A UFV ficou responsável pela coordenação da elaboração dos estudos de áreas prioritárias e do projeto executivo, etapa inicial do programa. A escolha foi definida pelos governos de Goiás, Mato Grosso e Federal a partir do reconhecimento nacional da instituição nos esforços para reconstruir a Bacia do Rio Doce, destruída pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015. O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) já efetivou recente nota de crédito para que seja iniciado o trabalho.
A secretária Andréa Vulcanis abriu o encontro lembrando do Dia do Professor como ponto de partida para o que classificou como o maior projeto ambiental do Brasil. “Tenho muita honra em receber, no Dia do Professor, tantos doutores e pós-doutores da UFG e UFV em torno do Juntos pelo Araguaia, que já é considerado o programa ambiental mais ambicioso do Brasil hoje e que será um espaço de muita cooperação e aprendizado mútuo entre as instituições envolvidas”, afirma.
Segundo o professor Marcos Gomes da Cunha, diretor da Escola de Agronomia da UFG, a recuperação do Rio Araguaia é encarado como o início de um modelo de trabalho a ser replicado em outras regiões. “Percebemos que o diagnóstico feito no Araguaia é um grande problema comum a todas as bacias do Estado de Goiás. O Juntos pelo Araguaia deve ser encarado como um laboratório para que nós possamos recuperar todo o potencial hídrico das nossas bacias”, aponta. Ele comemora a cooperação firmada entre a UFG e a UFV, considerada a maior instituição brasileira no setor de recuperação ambiental. “Projetos desta magnitude necessitam de cooperação entre diversas organizações para terem êxito. Vai ser de extrema importância essa ligação”, disse ele.
Representante da Federal de Viçosa, responsável pela parte inicial do projeto, o professor José Ambrósio Ferreira Neto fez um amplo panorama do trabalho realizado pela instituição no âmbito da recuperação de áreas degradadas, principalmente após o desastre de Mariana, em novembro de 2015. “Entre 2017 e 2018 tivemos muito sucesso na identificação de áreas prioritárias para a recuperação da Bacia do Rio Doce, pelo ponto-de-vista da segurança hídrica”, lembra. “A partir disso, com a necessidade de uma instituição que pudesse realizar o trabalho com solidez, que pudesse receber o repasse da União com a urgência que o projeto requer e com o curto prazo que temos até dezembro para identificar estas áreas, a UFV ficou responsável pela primeira etapa”, explica.
O professor da universidade mineira enfatiza a importância da presença dos pesquisadores goianos e mato-grossenses na etapa de execução. “Temos que convicção de que nós não conseguimos realizar nada sem a ajuda dos nossos parceiros, a cooperação acadêmica é fundamental para que o projeto seja realizado. Temos aqui professores e estudos com 20 anos, um conhecimento que não deve ser ignorado”, afirma.
Tecnologia
O presidente do Instituto Espinhaço, Luiz Cláudio de Oliveira, disse que a importância do Juntos pelo Araguaia nasce da organização da sociedade civil em torno de um tema comum e urgente. “É um projeto de longo prazo, de Estado. Não é de governo. Estamos agindo como sociedade, em cooperação. Precisamos aprender a agir de forma coletiva para encontrar as soluções dos problemas que são de todos”, disse. Ele projeta o Rio Araguaia como modelo futuro de recuperação ambiental e cooperação acadêmica.
“O Rio Araguaia é o maior projeto ambiental do Brasil hoje. A partir dele, teremos um modelo para a restauração em larga escala das bacias e da vegetação nativa. Estamos aprendendo a fazer isso juntos, absorvendo o conhecimento de todas as áreas, somando esforços e saberes, mas, de forma fundamental, estamos aprendendo a entregar resultado”, aponta.
A secretária Andréa Vulcanis lembra que outras bacias do Brasil passam por dificuldades e que o projeto é fundamental no trabalho de recuperação das demais. “O Araguaia foi eleito como modelo e o que faremos na bacia ficará para as futuras gerações. O conhecimento e a tecnologia que será desenvolvida ficarão disponíveis e será replicado conforme as adequações pontuais que cada realidade necessita. Com certeza este é o grande avanço enquanto política pública”, acredita ela.
O Juntos pelo Araguaia deve reunir, em sua fase de execução, as universidade federais de Goiás, Mato Grosso, Viçosa, Minas Gerais, a Universidade Estadual de Goiás, os Institutos Federais dos três Estados, além da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Instituto Cerrado, Fundação Mais Cerrado, Instituto de Educação do Brasil, União Internacional para a Conservação da Natureza, com presença em 160 país, e organizações não-governamentais locais, que serão incluídas nos trabalhos de acordo com suas áreas de atuação.
Projeto modelo
Com 2.115 quilômetros de extensão, a bacia hidrográfica do Rio Araguaia banha quatro estados brasileiros. Diante da importância ecológica, turística, socioeconômica e cultural, o Programa Juntos Pelo Araguaia surge com o propósito de proteger todo esse patrimônio, e também propor novos modelos de desenvolvimento sustentável.
Concebida como uma iniciativa de médio e longo prazos, a ação vai atuar na conservação do solo (como a implantação de bacias de contenção de águas de chuvas e sedimentos), no terraceamento de pastagens e áreas agrícolas (para aumento da infiltração e direcionamento de canais de escoamento superficial) e recomposição florestal de áreas de preservação permanente. Paralelo a isso, serão desenvolvidas ações que vão influenciar diretamente na qualidade de vida da população do Vale do Araguaia.
O projeto conceitual foi desenvolvido pelo Instituto Espinhaço, por meio de acordo de cooperação técnica com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) do Governo de Goiás, sem ônus para o Estado. Segundo a titular da pasta, Andréa Vulcanis, a expectativa é de que o programa já tenha efeito imediato sob alguns aspectos. “Nos últimos anos, a água do Rio Araguaia diminuiu o volume em 35%. Então, já se espera um aumento da quantidade de água disponível. A médio e longo prazos haverá o retorno da biodiversidade, das espécies, da fauna, de peixes e tudo mais. É um grande projeto e precisa de tempo para produzir resultados”, explica.
Sobre os recursos a serem aplicados inicialmente, Andréa Vulcanis explica que parte da verba, R$ 100 milhões, será repassada pelo governo federal a partir de conversões de multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “E já estamos em busca de outros recursos, sejam internacionais, fundo perdido ou outras fontes. Vamos avançar nesta perspectiva a partir do momento em que o projeto executivo estiver pronto e detalhado”, conclui a secretária.
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