Integrantes do governo Michel Temer avaliam que, apesar da negativa inicial da defesa, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) pode negociar um acordo de delação premiada que implique o presidente, o que aceleraria o que consideram ser uma escalada da PGR (Procuradoria-Geral da República) e do STF (Supremo Tribunal Federal) contra Planalto.
Entre os assessores de Temer, há quem acredite que os desdobramentos da crise, iniciada há duas semanas com o vazamento dos detalhes da delação da JBS, podem resultar na antecipação da denúncia e até mesmo na abertura de mais um inquérito contra o presidente, além do desgaste político para a imagem do governo, que tenta se segurar sob ameaças de desembarque de partidos aliados.
No Planalto, a avaliação de consenso é a de que a prisão de Loures, neste sábado (3) em Brasília, impactará politicamente o julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que, nesta terça-feira (7), volta a analisar a ação pode cassar a chapa Dilma-Temer.
A defesa do presidente, porém, ainda estuda uma eventual revisão de estratégia, caso avalie que não há mais possibilidade de vencer no plenário. Até o fim desta semana, o governo contava com um placar favorável -de 4 votos a 3- para absolver a chapa, mas agora pode mudar os planos e tentar protelar o julgamento, com um pedido de vista, por exemplo.
Assessores de Temer avaliam que a denúncia contra o presidente -alvo de um inquérito por corrupção, obstrução de justiça e formação de organização criminosa- pode ser antecipada para antes do término da perícia dos áudios da conversa gravada entre ele e Joesley Batista, da JBS.
Após a denúncia, dizem esses auxiliares, a PGR poderia pedir a abertura de um novo inquérito, desta vez, sobre o decreto dos Portos.
A Polícia Federal apreendeu em endereços de Loures documentos referentes a interesses da empresa portuário Rodrimar. Já haviam sido revelados grampos em que o ex-deputado defende interesses do setor portuário e da empresa, conforme a investigação, em conversa com Temer, um assessor jurídico do Planalto e um representante da própria empresa.
O pedido, porém, foi negado pelo governo, o que, segundo assessores do presidente, enfraqueceria a história e, portanto, a abertura de um novo inquérito contra o peemedebista.
OBSERVAÇÃO
Desde que Loures se tornou um dos protagonistas da crise que assolou o governo, ao ser filmado correndo com uma mala com R$ 500 mil em São Paulo, a ordem do Planalto era monitorá-lo sobre uma possível delação e agir pela manutenção de seu foro privilegiado.
Segundo delatores, o dinheiro era propina em troca de benefícios ao grupo J&F no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O temor do governo era que, acuado pelas denúncias, Loures dissesse que o dinheiro era para o presidente ou que foi pego com anuência dele, o que Temer nega. No Planalto, a expectativa é que Loures assuma sozinho a responsabilidade pela mala.
Mesmo assim, Temer agiu para protegê-lo nos últimos dias, mas o xadrez não deu certo.
O presidente tirou Osmar Serraglio (PMDB-PR) do Ministério da Justiça, colocando em seu lugar o advogado Torquato Jardim, que ocupava a pasta da Transparência. Serraglio iria para o lugar de Torquato, mantendo a cadeira de deputado livre para Loures, suplente do PMDB paranaense na Câmara. Serraglio, por sua vez, negou o convite, e Loures perdeu o mandato.
(FOLHA PRESS)
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