Temendo que o parecer do relator Sergio Zveiter (PMDB-RJ) seja a favor do prosseguimento da denúncia de que o presidente Michel Temer cometeu crime de corrupção passiva, a base aliada do governo já prepara nesta segunda-feira (10) votos em separado, no sentido contrário, para apresentar à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
“Se o que diz a imprensa for verdade e o relatório vier em sentido contrário ao arquivamento, vamos derrotar este relatório e entre hoje [segunda] e quarta-feira apresentarmos votos em separado e já apresentar um relatório substitutivo”, afirmou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) à reportagem.
Um dos principais integrantes da tropa de choque de Temer, Marun será o autor de um dos votos.
“Tenho algumas ideias, mas ainda não redigi um voto”, disse Marun.
Zveiter apresentará seu parecer e voto na tarde desta segunda. Ele concluiu o texto na sexta-feira (7), mas não revelou se vai se manifestar a favor ou contra o seguimento da denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
Também deve se manifestar o advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, responsável pela defesa de Temer.
Depois disso, a expectativa é que haja pedido de vista e somente na quarta-feira (14) tenham início as mais de 40 horas de debates de deputados a favor e contra a denúncia.
Temendo uma derrota para Michel Temer na CCJ, o governo intensificará nesta semana a ofensiva para tentar livrar o presidente da República da denúncia.
Partidos aliados do Palácio do Planalto farão uma nova rodada de mudanças de integrantes que tendem a votar contra Temer. Além disso, o presidente voltará a conversar com alguns dos 11 deputados que o governo considera indecisos em sete partidos -DEM, PDT, PPS, PP, PMDB, PSB e PSDB.
No final da semana passada, a caminho da Alemanha, Temer e aliados fizeram contas. Numa contabilidade otimista, afirmam que, além dos 11 que se dizem em dúvida, já têm 39 votos a favor e 15 contra. Eles consideram que o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), não irá votar, o que totalizaria 65 votantes.
Para este número, o governo promoverá uma série de trocas.
Enquete da Folha de S.Paulo, levando em consideração a configuração atual da CCJ, indica que 21 membros da comissão são favoráveis à denúncia. Apenas seis deputados da CCJ declararam votos a favor de Temer.
A maior parte dos deputados da comissão aparece ainda em cima do muro: 20 disseram publicamente que não sabem como votarão, oito não quiseram se posicionar e 13 foram procurados, mas não responderam.
Para vencer, Temer precisa de maioria simples, ou seja, metade mais um dos votos.
A conta da oposição é mais modesta que a do Planalto: governo teria 35 votos o que, mesmo assim, garantiria vitória ao presidente.
TROCA NO PR
Na tentativa de barrar um eventual relatório desfavorável ao presidente Michel Temer, o Palácio do Planalto tem pressionado o PR, partido da base aliada, a fazer nesta segunda duas trocas de titulares na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Em esforço para conseguir 42 votos a favor do presidente, a legenda deve substituir Jorginho Mello (PR-SC) e Delegado Waldir (PR-GO). Em enquete da Folha de S.Paulo, o primeiro se pronunciou favoravelmente ao prosseguimento da denúncia contra o peemedebista,
O segundo não quis declarar voto, apesar de ter afirmado à reportagem que já tinha posição. No entanto, em redes sociais neste domingo (9), o parlamentar publicou imagem do presidente com os dizeres “fora Temer”, afirmando que seu “posicionamento é claro”.
Em conversas reservadas, o líder do PR, José Rocha (PR-BA), já vinha manifestando a integrantes da sigla desde a semana passada a intenção de trocar parlamentares que fossem favoráveis à denúncia por corrupção passiva ingressada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O PR tem cinco deputados em vagas titulares na CCJ. Destes, nenhum declarou voto contrário à denúncia: além dos dois parlamentares trocados, um deputado se declarou indeciso e dois não responderam à enquete.
As trocas são a principal estratégia do presidente para evitar que seja aprovado relatório do deputado federal Sergio Zveiter (PMDB-RJ), cuja expectativa do Palácio do Planalto é de que seja desfavorável a Temer.
Na manhã desta segunda-feira (10), o presidente se reuniu com o advogado Antonio Mariz de Oliveira, no Palácio do Jaburu, para discutir sua estratégia de defesa.
No domingo (9), o presidente telefonou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para pedir que o PSDB não deixe a base aliada, movimento que tem ganhado força no partido.
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