26 de dezembro de 2024
Brasil

Governo e oposição sem motivos para comemorar a pesquisa CNI/IBOPE

 

Por: Glauco Faria

(Originalmente publicado na Revista Forum)

A pesquisa CNI/Ibope divulgada hoje consolida a impressão de que toda a classe política foi atingida pela eclosão das manifestações de junho. A queda de aprovação da presidenta Dilma Rousseff chama mais a atenção, ainda mais depois de poucos meses em que sua popularidade atingiu um nível recorde na série histórica do levantamento, mas o abalo é geral.

Um exemplo disso é verificar como os entrevistados avaliaram a resposta dada pelos representantes do poder público aos protestos. De zero a dez, ninguém atingiu média cinco. Dilma recebeu nota 4; governadores, 3,6; prefeitos, 3,7, enquanto o Senado ficou com 3 e a Câmara dos Deputados com 2,8. Ou seja, o caldo de insatisfação continua e, ainda que não tenham se repetido em manifestações recentes a adesão em massa ocorrida nas do mês passado, a reivindicação por direitos e melhoria dos serviços públicos vai seguir na ordem do dia.

A oposição ao governo comemora a queda de avaliação da presidenta, mas não tem muitos motivos para esfregar as mãos. A sensação de insatisfação também atinge o principal partido oposicionista, o PSDB, que não consegue, com Aécio Neves, ter índices semelhantes aos de Marina Silva, por exemplo, perdendo espaço também para uma eventual candidatura de Joaquim Barbosa. As eleições de 2014 podem ser as primeiras, desde 1994, que não contarão com um representante tucano em uma das duas primeiras posições.

Mas a ameaça maior ao tucanato, pelos número do CNI/Ibope, está na sua principal fortaleza, o estado de São Paulo. Desde a eleição de Geraldo Alckmin em 2002 que os sucessivos governos pessedebistas sempre apresentaram índices confortáveis de popularidade e situação ainda mais tranquila na Assembleia Legislativa, que pouco ou nada incomoda o Palácio dos Bandeirantes. Agora, pela primeira vez existe uma queda acentuada de popularidade do governador, fruto das manifestações e também da situação da segurança pública. Tomando-se a média nacional, 28% da população brasileira considera o governo de seu estado ótimo ou bom, mas o de São Paulo está abaixo, com 26%. Na avaliação sobre a maneira de governar, a média de aprovação é de 42%, sendo que somente Rio de Janeiro (com 29%), Goiás (34%) e São Paulo (40%) estão abaixo dessa linha.

Há outros dados preocupantes para Alckmin. O percentual daqueles que acreditam que o governador e seus secretários utilizam os recursos públicos mal ou muito mal chega a 81%, o segundo pior índice entre os onze estados pesquisados, só perdendo para o Rio de Janeiro. 95% dos paulistas também acham o valor do ICMS, principal imposto estadual, elevado ou muito elevado, a pior percepção entre os estados pesquisados.

Nesse caso, assim como no âmbito federal, o principal opositor, o PT, não tem grandes motivos para se alegrar por enquanto. Isso porque as três piores áreas de atuação do governo Dilma, segundo a pesquisa, são comandadas justamente por três prováveis pré-candidatos ao governo paulista em 2014. A Saúde é considerada a área de pior desempenho do governo federal por 71% da população, enquanto a segurança pública fica com 40% e a Educação com 37%.

Dentro do contexto pós-manifestações no qual a rejeição a políticos tradicionais é alta, mesmo com a reprovação elevada em sua área, Alexandre Padilha pode ser o nome mais forte, não só pelo caráter de “novidade”, já que nunca disputou uma eleição, mas também pela série de ações que vem empreendendo no setor e que podem surtir algum efeito nos próximos meses. Já ministro da Justiça José Eduardo Cardozo errou ao endossar o discurso “anti-vândalos” e adotar uma linha conservadora que causou mal estar entre petistas, enquanto Mercadante já foi derrotado em disputas estaduais duas vezes.

Mas, assim como no plano federal, o surgimento de uma terceira via não pode ser descartado. E, com as preocupações mais voltadas para a área da segurança pública, é possível que ele venha do campo conservador, e não da esquerda ou centro-esquerda. A pouco mais de um ano das eleições, as novidades parecem ser a tônica de 2014.

 


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