05 de dezembro de 2025
Alternativas • atualizado em 27/07/2025 às 09:41

Governo de Goiás e entidades de saúde criam fórum para enfrentar impactos da guerra tarifária entre Brasil e EUA

O Governo de Goiás, por meio da Secretaria Estadual da Saúde (SES-GO), anunciou neste sábado (26) a criação de um Fórum Permanente dos Setores Público e Privado da Saúde
Reunião de representantes da saúde definiu a criação de um Fórum Permanente dos Setores Público e Privado. (Fotos: Marco Monteiro).
Reunião de representantes da saúde definiu a criação de um Fórum Permanente dos Setores Público e Privado. (Fotos: Marco Monteiro).

Diante do cenário de incertezas causado pela possível adoção de tarifas retaliatórias entre Brasil e Estados Unidos, o Governo de Goiás, por meio da Secretaria Estadual da Saúde (SES-GO), anunciou neste sábado (26) a criação de um Fórum Permanente dos Setores Público e Privado da Saúde. O objetivo é acompanhar de forma conjunta os efeitos da crise comercial e construir estratégias de mitigação para evitar o colapso do sistema estadual de saúde, caso a reciprocidade tarifária entre os países entre em vigor.

A decisão foi tomada durante reunião realizada na sede da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), em Goiânia, com a presença do secretário da Saúde, Rasível Santos, e representantes de entidades do setor público e privado.

Segundo estimativas apresentadas durante o encontro, o aumento de custos gerado pelo tarifaço pode ultrapassar US$ 3 bilhões por ano, somando os gastos da rede pública e privada de saúde. “A gente teria um impacto estimado de US$ 1,6 bilhão com relação aos gastos em saúde pública, ou seja, para o Sistema Único de Saúde (SUS), e US$ 1,65 bilhão no setor privado”, informou o secretário.

Rasível alertou ainda para a situação fiscal já pressionada do Estado, que no ano passado ultrapassou o mínimo constitucional de 12% de investimento obrigatório em saúde. “Fechamos 2024 com 14,31%, ou seja, mais de 20% acima do valor que poderíamos estar utilizando. Com uma pressão dessas, o sistema entra em desequilíbrio”, afirmou.

Saúde privada e sobrecarga no SUS

O secretário também destacou a preocupação com a sustentabilidade das unidades de saúde privadas no Estado. “Já tivemos cinco hospitais que fecharam as portas em 2025, e hoje ouvimos relatos de pelo menos mais dez que podem se inviabilizar financeiramente. Quando isso acontece, o SUS é imediatamente pressionado para absorver a demanda. Isso traz sobrecarga para os nossos hospitais e nos nossos serviços”, alertou.

O presidente da Ahpaceg, Renato Daher, destacou que os setores de alta complexidade são os mais vulneráveis à elevação de tarifas, já que dependem de insumos, peças e medicamentos importados, muitos deles de origem norte-americana. “O setor de imagem, com aparelhos de ressonância magnética, tomógrafos e equipamentos usados para cateterismo, depende de peças importadas. Existe o risco real de desassistência aos pacientes”, pontuou.

Efeitos sociais e econômicos

Para o presidente do Conselho de Administração da Ahpaceg, Haikal Helou, a situação pode ser agravada por fatores econômicos mais amplos, como desemprego e perda de cobertura de planos de saúde. “Hoje, 22% da população de Goiás tem plano de saúde. Se tivermos uma crise econômica associada a esse tarifaço, muita gente migrará para o SUS. Isso eleva o risco de colapso do sistema público”, alertou.

A avaliação é compartilhada por representantes do setor farmacêutico. O presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas de Goiás (Sinfaego), Marcelo Reis, enfatizou os riscos para pacientes com doenças graves. “Medicamentos oncológicos, imunobiológicos e remédios para doenças raras são, em sua maioria, de patente norte-americana. Não há substituição simples. Um aumento de tarifas pode inviabilizar o acesso.”

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Rafael Martinez, também participou da reunião e reforçou que a escassez de insumos impacta diretamente o trabalho dos profissionais da saúde e pode gerar desemprego no setor privado, além de aumentar a pressão sobre os hospitais públicos.

Mobilização política

Além da criação do fórum, o secretário Rasível Santos informou que o governador Ronaldo Caiado (UB) está articulando junto ao governo federal e ao Fórum Nacional de Governadores para tentar excluir o setor de saúde da lista de retaliações comerciais.

“A saúde não pode ser penalizada por uma crise econômica de natureza política e comercial. O governador tem se empenhado em buscar apoio de outras unidades da federação para sensibilizar o governo federal e evitar um impacto direto no setor mais sensível da sociedade”, disse o secretário.

Participaram da reunião, além da Ahpaceg, representantes da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás (Aehg), Unimed Goiânia, Sindimagem, Sindihoesg, Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (Ibross), Coopanest-GO, Hospital de Olhos, Cerof-UFG, Clínica de Esporte, Halex Istar, entre outros.

O Fórum Permanente será estruturado nos moldes do comitê criado durante a pandemia de covid-19 e atuará no monitoramento contínuo dos impactos da crise, com reuniões periódicas e elaboração de planos de contingência.


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