ALEX SABINO E DIEGO GARCIA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rede Globo fez propostas de renovação de direitos de transmissão em TV aberta e PPV (pay-per-view) para sete times da Série A com redutores no valor total que os clubes teriam direito a receber. Essas equipes assinaram com o Esporte Interativo para transmissão em TV fechada de 2019 a 2024, mesmo período proposto pela Globo.
No contrato de TV aberta, a redução pode chegar a 20% por ano. No pay-per view, seriam 5,27% por partida.
A reportagem viu o modelo de contrato enviado por email por Fernando Manuel Pinto, diretor de Direitos Esportivos do Grupo Globo.
Santos, Palmeiras, Internacional, Atlético-PR, Paraná Clube, Ceará e Bahia são os clubes que disputarão a Série A em 2018 e possuem contrato com o Esporte Interativo, emissora do Grupo Turner, concorrente do SporTV, da Globo. Desses, Santos, Paraná Clube e Ceará assinaram com os termos propostos pela Globo.
A reportagem apurou com os demais clubes que eles relutam em assinar por não considerarem a oferta justa. Dirigentes de quatro deles pediram para não terem os nomes revelados por não quererem entrar em atrito com as emissoras.
No contrato enviado pela Globo, no item 1.3, a emissora justifica pagar menos para quem assinou com o concorrente dizendo ser um princípio de isonomia com os demais times -uma vez que o clube celebrou contrato com outra empresa por meio do qual cedeu os direitos de transmissão de seus jogos nas temporadas de 2019 a 2024 em TV Fechada (“outro contrato”) com potenciais consequências sobre os direitos referentes às transmissões de TV aberta…”.
Há um texto parecido na seção 2.1, que justifica os redutores no PPV.
Em fevereiro de 2016, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) enviou ofício à Globo pedindo esclarecimentos sobre os direitos de transmissão a partir de 2019. Uma das perguntas foi: “há alguma cláusula que preveja vantagem, preferência ou qualquer tipo de diferenciação para o clube que celebre contrato com o Grupo Globo para transmissão em TVs aberta e fechada? Ou seja, caso um clube, eventualmente, celebre contrato de transmissão em apenas um dos formatos (apenas TV aberta ou apenas TV fechada), seu contrato possuiria alguma diferenciação em relação ao clube que celebrou contrato de transmissão para TV aberta e para TV fechada com o Grupo Globo?”.
Ao enviar as respostas, a Globo pediu confidencialidade das informações. Uma das funções do Cade, delimitadas em seu site, é “julgar os processos administrativos relativos a condutas anticompetitivas”.
Consultado pela reportagem sobre o redutor proposto agora pela Globo, o Cade disse que apenas pode se pronunciar sobre o assunto caso seja instaurado um procedimento administrativo. “O CadeE não manifesta entendimentos sobre casos em tese.”
De acordo com o contrato, o redutor seria aplicado sobre o valor total que o clube teria a receber no ano.
A Globo busca reduzir os valores a serem pagos aos sete clubes porque a assinatura em TV fechada com o Esporte Interativo vai mexer com o modelo de negócios de transmissão da empresa a partir de 2019.
No contrato atual, as emissoras do Grupo Globo manejam as transmissões como querem, já que têm os direitos sobre os 380 jogos do Brasileiro na Série A.
Pelo acordo, a cada rodada podem transmitir três partidas em TV aberta (para diferentes praças), duas no SporTV e todas em pay-per-view. A emissora pode fazer 12 transmissões na temporada para as cidades em que acontecem a partida.
No modelo brasileiro, as duas equipes envolvidas na partida precisam ter contrato com a empresa que fará a transmissão.
O Esporte Interativo fechou acordo com 17 clubes, entre Série A, B e C. Os que estiverem na primeira divisão vão dividir R$ 520 milhões por ano. Os principais clubes que fecharam com a empresa, como Palmeiras, Internacional e Santos, receberam R$ 40 milhões de luvas.
O contrato proposto pela Globo a partir de 2019 é de R$ 600 milhões por ano para os 20 clubes da Série A em TV aberta. O modelo de divisão será 40% divididos igualmente, 30% pelo número de transmissões e 30% de acordo com a classificação no torneio do 1º ao 16º. O campeão embolsa R$ 18 milhões e o valor cai até o 16º, que recebe R$ 6,12 milhões. Os rebaixados ficam sem nada.
Em TV fechada, a Globo propõe R$ 500 milhões por temporada a serem repartidos entre as equipes.
Neste ano, serão apenas R$ 60 milhões, um valor considerado baixo por dirigentes. Apenas para passar o Campeonato Inglês em TV fechada, a ESPN gasta R$ 163 milhões (US$ 50 milhões).
O contrato que termina em 2018, entre aberta e fechada, vale R$ 850 milhões por ano.
No pay-per-view, a remuneração é de acordo com o número de torcedores de cada equipe que possuem o serviço. Eles participam de uma pesquisa feita com os assinantes. Há um valor mínimo de remuneração. Para atrair Corinthians e Flamengo, clubes de maior torcida no país, a emissora aumentou esta quantia mínima para R$ 120 milhões cada por temporada.
PRODUTO
Na venda de cotas de patrocínio para os pacotes dos jogos de futebol de clubes e o de Copa do Mundo de 2018, a Globo arrecadou cerca de R$ 2,4 bilhões.
Para o futebol nacional, o valor de cada cota foi de R$ 230 milhões. Em 2017, quando havia apenas um pacote para todas as transmissões, a cota saiu por R$ 283 milhões.
Por ser um dos canais mais antigos do mercado e por ter os jogos do Campeonato Brasileiro, o SporTV recebe uma das mais altas taxas de carregamento (o valor que a operadora paga à emissora para tê-la na grade de programação). São cerca de R$ 15 por assinante. A média de mercado é R$ 5.
A vontade da Globo de aplicar o redutor e citar a concorrência de outras emissoras para justificá-lo pode também preparar o terreno para as próximas negociações. Em 2020, a emissora terá de realizar negociação para renovar direitos de torneios como o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil.
OUTRO LADO
A Globo confirmou o redutor proposto aos clubes.
“A área de Direitos da TV Globo e Globosat esclarece que vem negociando a aquisição de direitos do Brasileirão, em TV aberta e PPV, com alguns clubes que já licenciaram os direitos de TV fechada com terceiros. O modelo redutor se aplica quando e se o clube, em função de compromisso preexistente com terceiro neste segmento, tiver reduzidos os direitos de TV aberta e/ou PPV que poderá ceder ao Grupo Globo. Se um clube for capaz de garantir os direitos com todas as características de exclusividade e qualidade, os redutores não se aplicarão, ainda que ele tenha celebrado contrato com terceiros”, disse a emissora.
Na visão dos clubes que não assinaram com a Globo, ser capaz de garantir os direitos de exclusividade é impossível, já que o contrato com o Esporte Interativo já foi assinado para os jogos em TV fechada e não haveria como impedir a emissora de exercer seu direito.
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