22 de dezembro de 2024
Entrevista

‘Gesto de Lula ao centro faz parte de tática eleitoral’

Segundo Medeiros, Lula "pode e deve" fazer um governo de esquerda.
Juliano Medeiros, presidente do PSOL, ao lado de Lula (Foto: DIvulgação/Instagram)
Juliano Medeiros, presidente do PSOL, ao lado de Lula (Foto: DIvulgação/Instagram)

Em entrevista ao Estadão, o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, criticou a escolha do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse que os gestos do petista ao centro “podem ser compreendidos como parte de uma tática eleitoral, mas o que se faz no governo é outra coisa”.

O PSOL simboliza a última trincheira da esquerda na coligação de Lula – esta é a primeira eleição em que o partido apoia o ex-presidente. Segundo Medeiros, Lula “pode e deve” fazer um governo de esquerda.

Como avalia os gestos de Lula ao centro? Qual deveria ser o perfil de um eventual novo governo dele?

Os gestos de Lula ao centro podem ser compreendidos como parte de uma tática eleitoral, mas o que se faz no governo é outra coisa. O próximo governo Lula pode e deve ser de esquerda. As ideias de esquerda estão em alta no mundo e representam a luta contra as desigualdades, o controle do mercado sobre a vida das pessoas e pela democracia.

Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad sinalizou que gostaria de ter Marina Silva como vice. Rede e PSOL estão unidos em uma federação. O que acha da ideia?

Não há nenhuma negociação entre o PT e nossa federação. No momento em que se instalar o processo de negociações, e se houver um convite, PSOL e Rede vão debater. Até onde se sabe, Marina não decidiu a que vai ser candidata, mas a vontade da Rede é que seja a deputada federal.

Mas seria uma boa chapa?

Eu defendo que a centralidade na Rede e no PSOL seja a eleição de deputados federais. Marina seria uma grande candidata a vice-governadora, mas nossa prioridade é ampliar o número de deputados.

A união PSOL-Rede demanda a vaga de vice na chapa?

Quando o Guilherme Boulos decidiu não ser candidato a governador e disputar a Câmara dos Deputados, o PSOL de São Paulo aprovou uma resolução dizendo que ia buscar a construção da unidade. O PSOL de São Paulo reivindica o espaço dentro da composição majoritária, que envolve a vice ou o Senado. O PT deixou claro que prioriza a negociação com o Márcio França (PSB). Estamos em compasso de espera.

Não seria melhor Haddad escolher um vice mais moderado e de centro do que alguém do PSOL?

Acabamos de ver na Colômbia a eleição de um presidente com uma vice mulher, negra e ex-empregada doméstica. Nós do PSOL não acreditamos nessa tese de que apenas em composições com candidatos ou lideranças de centro ou direita é que se amplia. Por isso somos críticos à aliança do Lula com o Alckmin. Por isso criticamos a hipótese de Cesar Maia ser vice do Marcelo Freixo. Não achamos que fazer acenos com a vaga de vice para os partidos que são responsáveis pela crise que o País vive reforce a confiança do eleitor com as ideias de esquerda.

Defende uma chapa de esquerda em São Paulo?

Uma coalizão de esquerda.

Como está sendo a convivência do PSOL com Alckmin nos mesmos palanques pelo Brasil?

Tem sido curiosa. Ele tem compreendido seu papel nessa composição, que é o de representar um setor que não é de esquerda, mas que reconhece o valor dos governos do PT e a necessidade de defender o Brasil contra o governo Bolsonaro. Tive agendas com ele. Alckmin tem feito falas concisas. Por enquanto, não expressou nenhuma contradição. (Por Pedro Venceslau/Estadão Conteúdo)


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