22 de dezembro de 2024
Brasil

Gestão Doria corta oficinas culturais em CEUs e afeta mais de 4.000 alunos

João Doria. (Foto: Agência Brasil)
João Doria. (Foto: Agência Brasil)

A gestão João Doria (PSDB) cortou dois programas de incentivo à cultura nos 46 CEUs (Centros Educacionais Unificados), ligados à Secretaria Municipal de Educação.

A suspensão das atividades nos CEUs atingiu mais de 4.000 alunos, beneficiados pelos projetos PIÁ (Programa de Iniciação Artística), para crianças de 5 a 14 anos, e Vocacional, para maiores de 14 anos, segundo o Movimento Frente Única da Cultura.

Os projetos ofereciam oficinas de dança, teatro, artes plásticas, entre outros.

Os dois programas também atendem 4.160 pessoas, segundo a prefeitura, em espaços culturais como bibliotecas e teatros, ligados à Secretaria da Cultura. A gestão Doria afirma que, nesses 45 locais, a realização das atividades já foi regularizada.

“A verba para os CEUs foi congelada e não há previsão para que as atividades voltem a ocorrer. No caso das outras unidades de cultura, que são ligadas à Secretaria Municipal da Cultura, depende apenas da contratação dos professores pela prefeitura”, disse Paulo Fabiano, 56, ex-coordenador do Vocacional.

O corte de verba fez com que 336 professores, incluindo os de CEUs e de unidades de cultura, não fossem readmitidos para o contrato de oito meses em 2017. A contratação sempre ocorre em março.

A gestão Doria não respondeu os questionamentos da reportagem sobre as oficinas suspensas nos CEUs, ligados à Secretaria da Educação.

Já a Secretaria de Cultura disse que os recursos congelados destinados aos programas PIÁ e Vocacional foram liberados no mês passado, o que possibilitou a convocação de 130 novos professores.

O texto afirma que os programas fora dos CEUs, como bibliotecas e teatros, foram reiniciados para 4.160 alunos e que o congelamento de recursos “representa um controle inicial de despesa previsto no Orçamento”.

Sem matrícula

Sem a liberação de verba para a implantação dos projetos de iniciação à cultura, os CEUs não estão fazendo matrículas de interessados nos programas Vocacional e PIÁ. O “Agora” foi nesta quarta às unidades de Aricanduva e de Sapopemba, ambas na zona leste, e verificou que em alguns locais os nomes dos alunos até estão sendo incluídos em uma fila de intenção de vaga, mas não há qualquer garantia de que as turmas serão abertas neste ano.

“A gente não tem nenhuma certeza se esse curso vai ter mesmo neste ano. Eu já estou com várias fichas de alunos preenchidas e a única garantia que posso dar é que, se caso for ocorrer o curso, vou ligar para todo mundo para vir e efetivar a matrícula”, disse uma funcionária do CEU Sapopemba.

Ela afirmou que os arte-educadores estão mobilizados para evitar a descontinuidade dos programas, que existem desde 2001. A unidade tinha sete profissionais para os cursos de dança, música e teatro. As aulas eram aplicadas uma vez por semana durante duas horas.

Em Aricanduva, os funcionários disseram que os professores responsáveis pelo projeto não foram recontratados, por isso as inscrições para o programa estão suspensas. “Os educadores estão brigando para que os cursos não acabem e as pessoas que vêm aqui se queixar, nós estamos orientando a fazer reclamação no 156 da prefeitura”, afirmou um servidor do local.

Comprometido

A estudante Isabella Carvalho Gonçalves, 19, fez parte do programa Vocacional de artes visuais em Santana (zona norte) desde 2013, quando estava com 15 anos e cursava o 2º ano do ensino médio, e disse que o fim do programa compromete o trabalho de muitas pessoas que estão com projetos de pesquisa em andamento.

“Tem muita gente que inicia uma pesquisa em um ano e dá continuidade no outro. Para isso, é preciso ter o apoio dos coordenadores do programa”, disse.

Atualmente, ela cursa faculdade de audiovisual, Isabella diz que a participação no programa foi determinante para a escolha da carreira. “Eu não sabia ainda o que queria estudar na faculdade e o Vocacional fez com que eu me encontrasse. Hoje faço faculdade nessa área”, diz a estudante. Ela conta que, por meio do incentivo dos professores, conseguiu inscrever projetos em editais de cultura e conseguiu três financiamentos de pesquisas por meio do VAI (Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais), da Secretaria Municipal da Cultura.

“Com os editais que conseguimos surgiu o coletivo Hábito Cultivado, de incentivo à educação, com a junção de diversas pessoas em formação pelo Vocacional. Se não fosse o apoio dos orientadores e a colaboração de outros alunos do programa, não teria conseguido desenvolver os projetos”, afirma a universitária. (Folhapress)


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