28 de agosto de 2024
Educação

“Fuga de cérebros”: cresce número de brasileiros com diploma que saem do país

Com mais oportunidades acadêmicas e profissionais, jovens vão para América do Norte, para a Europa e até para a Oceania
Brasileiros com nível superior e que obtiveram o green card, visto dos Estados Unidos da América, aumentou mais de 13 vezes no ano fiscal de 2022 em comparação com o mesmo período de 2021. (Foto: reprodução)
Brasileiros com nível superior e que obtiveram o green card, visto dos Estados Unidos da América, aumentou mais de 13 vezes no ano fiscal de 2022 em comparação com o mesmo período de 2021. (Foto: reprodução)

Depois de diversos episódios em cortes na educação, vários deles que ameaçaram cortar as bolsas de estudantes acadêmicos – que já tem valor baixo e sem reajuste há anos – a quantidade de brasileiros com diploma com nível superior que buscam sair do país aumento exponencialmente. A maioria tem indo para a América do Norte, Europa e até Oceania, para países que investem na educação e fornecem bom dinheiro para quem quer fazer mestrado ou doutorado.

Mesmo quem apenas tem o diploma e quer trabalhar na área tem fugido do Brasil. Entre janeiro e novembro deste ano, somente com destino a Portugal, as requisições aumentaram 200% ante o mesmo período de 2021. Para os Estados Unidos, o crescimento foi de 114% e, para Austrália e Nova Zelândia, chegou a 544%.

Uma pesquisa da AG Immigration, escritório de advocacia imigratória sediado em Washington, D.C., mostrou que, brasileiros com nível superior e que obtiveram o green card, visto dos Estados Unidos da América, aumentou mais de 13 vezes no ano fiscal de 2022 em comparação com o mesmo período de 2021.

Realizada com base nas emissões das duas principais categorias do visto EB – destinado a profissionais com habilidades e carreiras acima da média –, a pesquisa identificou que 147 brasileiros receberam o visto em 2021. Contudo, esse número saltou agora para 1.983 – o maior da história.

Os dados são referentes ao ano fiscal americano, período que se inicia em 1º outubro de um ano e termina em 30 de setembro do ano seguinte. É a forma como o governo dos EUA calcula o orçamento e define as políticas públicas.

A popularidade do visto EB entre os brasileiros com diploma está no fato de ele conceder o green card, ou seja, a residência permanente nos EUA. Suas duas principais categorias – EB-1 e EB-2 – têm critérios de elegibilidade que exigem, via de regra, que o profissional estrangeiro comprove ampla experiência na área em que atua e pelo menos uma pós-graduação, embora haja exceções.

Os vistos EB-1 e EB-2 foram criados na década de 1990 para atrair mentes excepcionais para os EUA, fazendo com que contribuam para o desenvolvimento científico, econômico e cultural do país. Segundo o advogado de imigração Felipe Alexandre, a popularidade deles tem causado uma fuga de cérebros do Brasil.

“Enquanto o EB-1 destina-se aqueles profissionais entre os 5% mais talentosos de uma indústria, como um pesquisador renomado, o EB-2 abrange os 15% mais qualificados de uma área, como um engenheiro com mais de dez anos de experiência, um gerente de marketing com passagem em grandes empresas ou um dentista com algum tipo de especialização”, explica Alexandre, sócio-fundador da AG Immigration.

O apetite dos brasileiros pelo visto EB tem crescido mais notavelmente nos últimos cinco anos. Em 2017, por exemplo, os EUA concederam 207 green cards deste tipo para brasileiros, praticamente dobrando a quantidade do ano anterior. Em 2018, o número subiu para 379, chegando a 494 em 2019 e 415 em 2020.

Os dados históricos mostram que o patamar registrado em 2022, de 1.983 vistos EB-1 e EB-2 emitidos para brasileiros, supera o somatório dos 19 anos anteriores (2021-2003).

“Houve claramente uma mudança no perfil do brasileiros com diploma que vem para os EUA. Se antes havia a predominância dos profissionais menos qualificados academicamente, e inclusive aqueles que entravam de maneira ilegal para trabalhar em subempregos, temos visto quase que uma inversão do cenário nos últimos 20 anos, com cada vez mais pós-graduados, gestores, executivos e pesquisadores sêniores vindo para cá”, afirma o CEO da AG Immigration, Rodrigo Costa.

De acordo com ele, essa mudança no perfil do brasileiro deve-se à expansão do ensino superior nos últimos 20 anos e ao acesso à informação. “Há um número muito maior de escritórios de imigração hoje em dia, além de inúmeros criadores de conteúdo na internet que divulgam sua rotina nos EUA. Isso estimula mais pessoas a buscarem esse mesmo estilo de vida, dada a influência cultural americana sobre o Brasil”, observa Costa.

Em 2022, aliás, o País foi o terceiro país que mais teve aprovações nas três categorias principais do visto EB. Em 2021, havia ficado na 11º colocação.


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