A cada pesquisa eleitoral divulgada pela imprensa neste ano de disputa presidencial, o assunto na internet é o mesmo: suspeitas e dúvidas sobre a veracidade das informações divulgadas. Estas apurações que servem, entre outras coisas, para fazer um esboço sobre quem, naquele momento, está liderando a corrida, acabam enfurecendo o lado perdedor.
Apenas nesta semana, por exemplo, duas pesquisas causaram a ira dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) por mostrá-lo atrás de Lula (PT) nas intenções de voto. Primeiro a Datafolha que, na última quinta-feira (26), divulgou uma pesquisa que mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com 48% das intenções de voto no primeiro turno e Bolsonaro com 27%, tendo como terceiro colocado Ciro Gomes (PDT), com 7%. Depois, na sexta-feira (27), a XP/Ipespe que mostrou Lula com 45% das intenções de voto e o presidente Jair Bolsonaro com 34%. Nesta, Ciro apareceu com 8% e a senadora Simone Tebet (MDB) com 3%.
Mas como acreditar? Como ser possível que um presidente eleito talvez não seja reeleito pela primeira vez desde a redemocratização? Será que as pesquisas estão sendo fraudadas? Como elas funcionam? Em um país com 150 milhões de eleitores realmente fica difícil ter certeza para tudo isso. O Diário de Goiás falou com 3 especialistas da áres, com décadas de experiência para esclarecer todas questões sobre o assunto.
O professor e cientista político Luiz Signates elucida sobre as pesquisas afirmando que trata-se de uma atividade extremamente importante em qualquer campanha eleitoral. “É a única forma capaz de gerar informações seguras, técnica ou cientificamente controladas, sobre o ânimo do eleitorado. Os melhores políticos e as campanhas mais profissionalizadas jamais dispensam as pesquisas, para se posicionarem dentro da disputa do voto”, diz.
Signates lembra que existem as pesquisas presenciais e as feitas por telefone. A presencial, face a face, em que os pesquisadores abordam das pessoas, indo às ruas em pontos de fluxo (praças, estações de ônibus ou metrô) ou suas casas; e a por telefone que pode ser feita por uma pessoa “ao vivo” ou por uma gravação. “Além do óbvio, de que usam meios diferentes para a abordagem do eleitor a ser entrevistado, há estudos que mostram que as pesquisas presenciais têm maior controle dos dados recolhidos e, portanto, mais confiabilidade nos resultados”, atesta ele.
O especialista acrescenta, ainda, que para muitos dizem que a pesquisa é uma ferramenta de manipulação do eleitor, mas que ele vê como o contrário. “A pesquisa é um meio extraordinário do eleitor manipular os seus políticos. Ávidos pelo voto, os candidatos sérios são atenciosos para os resultados de pesquisa e alteram seus desejos e expectativas, diante delas, buscando dizer e agir conforme os anseios da população – o que é o fundamento da democracia”, pontua, completando que deveria ser um “direito do eleitor”. “Trata-se do direito à informação coletiva, a saber como anda a opinião dos demais cidadãos, a fim de se posicionar de forma racional.”
Signates lembra, porém, que há possibilidade de haver fraudes, como em todo lugar, então, para garantir autenticidade e credibilidade ele explica que o registro é uma forma importante de controle, mas não suficiente para garantir certeza. “Só o registro não assegura que a metodologia seja corretamente aplicada e que os resultados sejam fidedignos. Conta muito a reputação do instituto, a história digna de seus diretores técnicos e a autenticidade das fontes de financiamento. Trata-se, portanto, de uma questão sobretudo ética, a da confiabilidade das pesquisas, quaisquer sejam elas”, explica.
“As pesquisas presidenciais brasileiras, divulgadas atualmente, por exemplo, parecem ser altamente confiáveis, pois os mais diferentes institutos têm demonstrado resultados bastante semelhantes entre si. Isso porque não é possível que todos estejam errando do mesmo modo”, diz Signates, exemplificando também o que ocorre nos Estados Unidos da América: “Nos EUA, onde seguramente se faz mais pesquisa no mundo, a imprensa tem usado o critério de contratar estatísticos e especialistas que fazem a combinação cientificamente controlada dos resultados de vários institutos de pesquisa com história e reputação, para produzir resultados que possam ser divulgados com maior confiabilidade”.
O professor alerta, também, pesquisas eleitorais divulgada sobre o ânimo das campanhas não geram tanta interferência em resultados finais. “Minha observação profissional dos contextos eleitorais me permite dizer que as pesquisas interferem muito no ânimo interno das campanhas, isto é, junto à militância. Já vi coordenações de campanha comprarem resultados falsos de institutos de baixa reputação somente para manter seus militantes e cabos eleitorais animados para pedir o voto […] Entretanto, junto ao eleitor, as pesquisas eleitorais têm uma influência bastante pequena. Pouquíssima gente vai às urnas animada a votar no candidato que vai ganhar, qualquer ele seja, que é o chamado voto útil. Há 20 anos trabalho e estudo pesquisa política, e nunca vi, em toda a minha vida, a divulgação de uma pesquisa falsa ou errada virar uma eleição. Isso é mito. Para quem entende do assunto, chega a ser uma tolice.
Minha especialidade é a pesquisa qualitativa, um tipo de pesquisa que não é divulgada e sonda as razões do voto de cada perfil de eleitor. Nunca escutei de um eleitor, não importa qual sua escolaridade ou seu interesse pela política, dizer que vota em João ou José porque está na frente nas pesquisas”, conta.
Pesquisa reflete o momento e não se trata de previsão
O professor e cientista político Guilherme Carvalho, também reforça a questão dos tipos de pesquisas, dizendo que é preciso entender as diferenças. “A pesquisa de intenção de voto é um recorte de momento, não é previsão, pois a que indica previsão é a pesquisa boca de urna, quando a pessoa está ali e diz em quem votou”, diz.
O especialista lembra, também, que a metodologia é muito questionada. “A metodologia precisa refletir as proporcionalidades, por exemplo, mulheres são 51% da população, então na pesquisa, precisa haver 51% de mulheres entrevistadas. Então precisa ser assim, é um recorte do Brasil, portanto tão meticulosa”, explica.
Em relação aos tipos de pesquisa explicados acima, Guilherme lembra que há problemáticas em ambas, se não feitas corretamente. “As de telefone, principalmente, pois ao serem realizadas, pode ser que pessoas que precisem responder não atendam ao telefone, estejam trabalhando, e um certo tipo de público acaba respondendo, enviesando o resultado. Já as presenciais, varia dos locais onde são feitas, tem institutos que mandam pra casas, shoppings, terminais de ônibus, mas tudo isso tem que ser muito bem planejado para conseguir refletir bem a opinião da população”, alerta.
Por fim, o cientista política relata que muitas pesquisas não são registradas oficialmente, já que muitas são feitas apenas pra fins particulares de estratégias. Das que costumam registrar, Guilherme cita três como muito “célebres” nacionalmente, o Ipespe, Datafolha e Instituto Quest.
“São feitas com pessoas que tem muita técnica e, destas a do Ipespe e Quest são as que tem menos convergência. Via de regra, muitos institutos vendem pesquisas que não são para refletir, que são picaretas e acabam vendendo mais como propaganda eleitoral para tentar angariar voto útil, mas que não é muito benéfico, pois não vão gerar resultados concretos”, conclui.
Pesquisas compradas? Especialista dá resposta à dúvida
O também professor, pesquisador e consultor em comunicação e marketing político há mais de dez anos, Marcos Marinho, reforça a importância das pesquisas eleitorais, mas com o objetivo certo. “São ferramentas muito úteis para direcionamento de campanha. Mas como tudo no mundo, no entanto, pode haver fraude, então quem vende resultado não faz pesquisa. Quem paga por algo que tem nome a zelar no mercado, é claro que aquele dado é credível”, diz ele.
Marcos alerta, também, para o exagero do eleitor em duvidar de dados divulgados. “A crítica do eleitor geralmente é por que ele esta contrariado pelo dado da pesquisa. Como ele não entende como funciona e o resultado não sai de acordo com o que ele acredita, ele vai tender a não acreditar na pesquisa. Temos que lembrar que vivemos em microbolhas, então se ele avalia pelas pessoas que convivem com ele, e que apoiam um candidato e na pesquisa sai outro, ele vai dizer que estão comprando a pesquisa”, assegura, completando que isso é “uma rejeição sem embasamento algum, que não se fundamenta em nada além da contrariedade do gosto pessoal”.
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