NELSON DE SÁ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mexicano Carlos Martínez, presidente do Fox Networks Group na América Latina, abriu nesta terça (3) a era da transmissão comercial de esportes pela web no Brasil.
Com o aplicativo Fox+ para smarTV, aparelhos móveis e outros, o usuário poderá assistir ao conteúdo dos 11 canais do grupo, inclusive a Copa da Rússia, além do catálogo de séries, sem precisar pagar mensalidade de TV paga.
O app poderá ser contratado ainda neste mês.
Martínez insiste que “neste momento” a prioridade é ainda da TV paga. Mas vê streaming como o caminho para todo o conteúdo, inclusive os filmes do Telecine, em que a Fox é sócia da Globo.
Defende também a adaptação das novelas para o ambiente digital, com menos capítulos. “É preciso mudar a maneira de produzir, mas as ‘soap operas’ não vão morrer, nunca. Não vão morrer porque são a vida da gente.”
Pergunta – Este é o primeiro salto em streaming de esportes?
Carlos Martínez – Neste momento, na América Latina, os esportes estão muito fortes, mas ainda não para over-the-top [OTT, jargão para streaming pago]. Porque esporte é a única coisa no mundo que tem o que chamamos de “appointment viewing”, atração que todo mundo assiste ao mesmo tempo. E, no momento, é difícil que a tecnologia de OTT atenda a todos ao mesmo tempo. É por isso que as grandes empresas [de internet] ainda não entraram forte em esportes. Mas vão entrar.
Na América Latina, agora, o OTT em esportes ainda é um complemento da TV paga. Isso é importante, porque nós estamos lançando o FOX+ para millennials, para “cord nevers”, gente que nunca teve TV a cabo, mas, se você já possui TV paga, tem o mesmo conteúdo.
No México o serviço estreou há um mês. Como está sendo?
– México e Brasil têm um aspecto interessante. Em ambos cresceu muito a penetração de TV paga, mas depois ela começou a cair, porque os millennials querem conteúdo, mas querem vê-lo de maneira diferente. No México, lançamos o mesmo streaming FOX+. A diferença é que lá temos 18 canais e aqui temos 11, porque somos parceiros do Telecine em filmes. Neste início, já temos 200 mil inscritos em “free trial”, com acesso gratuito de um mês, e mais de 600 mil aplicativos baixados em aparelhos móveis, smartphones ou tablets.
A expectativa é que, mesmo sem os filmes do Telecine, os números sejam superiores no Brasil, um mercado maior?
– O Brasil é muito maior, o dobro da população, o dobro dos assinantes em streaming. E tem uma penetração de TV paga menor que a mexicana, 44% no México, 25% aqui. Então o potencial é incrível.
Sobre o Telecine, a Globo e a Globosat estão procurando criar um streaming que inclua o Telecine. O sr. acompanha essas negociações?
– Bom, nós somos parceiros do Telecine nisso. E creio que é um movimento que eles têm que fazer. Têm que mudar também, têm que ter a opção de Telecine separado da TV paga. Tem que ir, a HBO está indo para lá também. Agora, não devemos correr atrás da Netflix, porque ela é uma “cash cow” [fábrica de dinheiro], tem muito conteúdo.
O que a Netflix fez de incrível é que ela mudou a maneira de consumir conteúdo em países como Brasil e México, onde estávamos acostumados a alguém dizendo: “O jornal é às dez, a novela é às nove”. A Netflix mudou totalmente, e agora a gente está consumindo mais, entre seis e oito horas de conteúdo diário, o que é incrível.
Isso em qual mercado?
– América Latina. Antes você consumia quatro horas, chegava na sua casa às nove da noite e dormia à uma. Agora consome conteúdo todas as horas. Isso abre as portas para mais produção, séries.
O streaming está acabando com a novela? Ou existe possibilidade de sobrevivência?
– Sim, absolutamente, mas tem que tratar de forma diferente. As “soap operas” não podem mais ser de 120 capítulos. As pessoas têm muito opção, estão vendo duas, três séries por dia. Não conseguem ver uma série por 120 episódios. Mas podem ver 60.
É preciso mudar a maneira de produzir, mas não, as “soap operas” não vão morrer, nunca. Não vão morrer porque são a vida da gente.
A Fox já está produzindo novelas com essa visão?
– Na Colômbia, onde temos uma produtora, estamos testando o que chamamos de “superséries”. Uma normal tem 12, 13 episódios, as “superséries” têm de 50 a 60.
Só na Colômbia?
– Agora na Colômbia e proximamente no Brasil. Temos muitas histórias aqui, temos uma equipe que quer produzir tudo, você tem que dizer, “A verba é esta!”.
O que é específico do Brasil é que a Ancine fez uma coisa boa, abrindo para ajudar as produtoras brasileiras. Só que agora tem que fazer uma pequena mudança, necessária, que é deixar que as empresas que detêm as histórias sejam as donas dos direitos autorais.
Por exemplo, nós poderíamos fazer em português “Empire”, que é uma “soap opera” e seria sucesso aqui, mas não fazemos porque, se produzirmos no Brasil, perdemos o “copyright”. Temos que buscar produtora local [para receber as verbas]. Tem que mudar um pouco a lei, para trazer os projetos.
As séries da Netflix também enfrentam esse problema?
– Não, porque eles não usam o fundo que é bancado por impostos. Ela não paga impostos, o que é outro tema.
Leia mais sobre: Variedades