19 de dezembro de 2024
Economia • atualizado em 13/02/2020 às 00:58

“Foi tudo muito precipitado”, diz presidente do Sindicarne sobre Operação da PF

José Magno Pato, presidente do Sindicarne.
José Magno Pato, presidente do Sindicarne.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados do Estado de Goiás (Sindicarne), José Magno Pato, a divulgação da Operação Carne Fraca pela Polícia Federal (PF) foi “precipitada”, com teor de “falta de maturidade”, uma vez que criou uma crise na economia.

“Com todo respeito pela entidade, acho que a Polícia Federal presta um grande serviço ao Brasil, mas foi muito precipitado, não poderia [divulgar], sem consultar a gente do setor sobre o que essa coisa de papelão, se tinha soja na carne. Não estou defendendo o frigorífico, estou defendendo o país, nosso estado. No meu modo de ver foi tudo muito precipitado, mas lamentavelmente vamos ter que viver com essa crise, que será difícil para recuperar”, disse.

De acordo com o presidente, o Brasil levou 30 anos para ser considerado um dos melhores exportadores de carne para todo o mundo. Além disso, Goiás passou a ser um dos estados brasileiros que mais exporte carne.

“A gente que conhece toda a indústria de carne do mundo vê que os frigoríficos brasileiros são os mais bem equipados, que trabalham com melhores condições de higiene, produzem carne excelente. Goiás está na ponta disso, nós produzimos carne bovina em pasto, não colocamos aditivos na carne de Goiás. Por isso que conseguimos, em menos de 20 anos, nos tornar um estado que exporta 10% da produção brasileira de carne. Isso não foi à toa, teve sacrifício de muita gente”, explicou.

Recuperação da credibilidade

Segundo José Magno Pato, para que o Brasil consiga recuperar a credibilidade junto ao comércio exterior será necessário um amplo trabalho de divulgação para explicar que este problema é “extemporâneo”. O presidente acredita que em três ou quatro meses o setor conseguirá reverter essa crise.

“Vamos ter que mostrar aos países importadores que os frigoríficos que trabalham com exportação não estão nessa lista, mostrar que temos laboratório de excelente qualidade. O Ministério da Agricultura tem uma rede de laboratórios que faz o controle de qualidade de carne. Os países sabem que quando recebem nossa carne fazem inspeção. Então, vamos ter que mostrar que isso foi um problema extemporâneo, não teve muita consequência para poder tentar voltar a conquistar esse mercado. Vamos ter que fazer uma grande divulgação, chamar os representantes dos países, levá-los novamente a todos os locais e mostrar como produzimos para ver se melhora um pouco essa situação. Acredito que vamos reverter. Não é rapidamente, mas vamos reverter. Acredito que dentro de três, quatro meses vamos conseguir reverter essa situação. Mas o estrago está feito”, concluiu.

Leia trecho da entrevista:

Altair Tavares: Países estão criando resistência com a carne brasileira. Qual é impacto que essas decisões trazem?

José Magno Pato: Goiás exporta quase 100 mil toneladas de carne para mais de 150 países. A nossa indústria de carne é desenvolvida, começando em avicultura, está sendo direcionada à exportação. Então, isso vai dar um reflexo que não temos ainda como medir esse impacto. A União Europeia deu um prazo para o Brasil se justificar, a China também, a Coreia suspendeu diretamente, a Rússia suspendeu. Então, nós vamos ter um impacto pelo menos nesses primeiro meses que a economia de Goiás vai sofrer, porque as empresas vão ter que reduzir a atividade, dispensar funcionários, dar férias coletivas, vai recolher menos imposto. Isso tudo consequência de que? Esse delegado da Polícia Federal, com todo respeito pela entidade, acho que a Polícia Federal presta um grande serviço ao Brasil, mas ele foi precipitado, ele não poderia sem consultar a gente do setor sobre o que essa coisa de papelão, se tinha soja na carne. Todo mundo sabe, por exemplo, que a salsicha tem proteína de soja na sua composição, e ele colocou isso como se fosse uma fraude muito grande. Eu não estou defendendo o frigorífico, estou defendendo o país, nosso estado. Não podemos ser achincalhado. Eu tenho participado, nestes últimos 30 anos, da dificuldade que o Brasil teve para chegar nesse patamar, de ser o maior exportador de carne. Nós já sofremos com o problema da Febre Aftosa, com denúncias vazias que existem contra nossa carne. O Brasil se firmou como um dos melhores produtores de carne do mundo. A gente que conhece toda a indústria de carne do mundo vê que os frigoríficos brasileiros são os mais bem equipados, que trabalham com melhores condições de higiene, produzem carne excelente. Goiás está na ponta disso, nós produzimos carne bovina em pasto, não colocamos aditivos na carne de Goiás. Por isso que conseguimos, em menos de 20 anos, nos tornar um estado que exporta 10% da produção brasileira de carne. Isso não foi à toa, teve sacrifício de muita gente. Agora, pessoas irresponsáveis ficam lançando, principalmente nas redes sociais, e estimulando o brasileiro a falar mal da nossa carne. Estamos falando de nós mesmos, estamos prejudicando muito. Isso é difícil. Você não sabe a dificuldade que enfrentamos quando vamos a uma reunião na Europa, por exemplo, no Estados Unidos, onde a gente escuta gente falando mal de nós. Chega, deixa os de fora falar, nós somos os primeiros a lançar essas notícias. A imprensa mundial hoje só fala mal do Brasil. Ontem, o comitê de carne da Irlanda esculhambou o Brasil, disse que é um país sem credibilidade, tudo por falta de certa maturidade nossa de colocar as coisas, colocando o brasileiro em situação de dúvida. Isso não existe. Eu garanto, com a minha experiência, posso falar que a carne nossa é de excelente qualidade. Pode existir uma ou outra coisa. Agora, outra coisa é também que esse problema aconteceu há dois anos e alimento você não pode deixar para trabalhar contra ou a favor em dois anos. Então, a Polícia Federal no dia que descobrir isso teria que chamar o Ministério da Agricultura, chamar o serviço de inspeção e falar o que está acontecendo, e punir. No meu modo de ver foi tudo muito precipitado, mas lamentavelmente vamos ter que viver com essa crise, que será difícil para recuperar. Mas infelizmente nosso povo não está preparado para a comunidade internacional.

Altair Tavares: O que deverá ser feito para recuperação da credibilidade e dos contratos de exportação?

José Magno Pato: Vamos ter que mostrar aos países importadores que os frigoríficos que trabalham com exportação não estão nessa lista, mostrar que temos laboratório de excelente qualidade. O Ministério da Agricultura tem uma rede de laboratórios que faz o controle de qualidade de carne. Os países sabem que quando recebem nossa carne fazem inspeção. Então, vamos ter que mostrar que isso foi um problema extemporâneo, não teve muita consequência para poder tentar voltar a conquistar esse mercado. Vamos ter que fazer uma grande divulgação, chamar os representantes dos países, levá-los novamente a todos os locais e mostrar como produzimos para ver se melhora um pouco essa situação. Acredito que vamos reverter. Não é rapidamente, mas vamos reverter. Acredito que dentro de três, quatro meses vamos conseguir reverter essa situação. Mas o estrago está feito.

Altair Tavares: Qual será o impacto dessa crise para o consumidor interno?

José Magno Pato: Sabemos que nestes últimos dois anos o brasileiro retraiu muito o consumo de carne, que é um produto mais caro. Com essa crise econômica, o consumo de carne bovina no Brasil caiu bastante. Temos sentido isso, principalmente em Goiás, que é um estado que consome muita carne, mas consumimos 200 mil toneladas por ano para uma produção de mais de 600 mil toneladas. Temos um excedente de 400 mil toneladas, que têm ser colocada em outro mercado, senão quebramos a pecuária e o agronegócio de Goiás. Então, o consumidor goiano pode ficar tranquilo que não acontece nada, isso tudo foi uma interpretação das coisas. Falar que tem papelão na carne é um absurdo sem tamanho. Estão confundindo substâncias que colocam na carne para melhorar o sabor com produto cancerígeno, e é vitamina C. Então, chegamos ao ponto de lançar dúvida sobre os produtos que a gente consome todo dia. Então, precisamos reverter isso com apoio de comunicadores, tem que ajudar, mostrar à população que não é desse jeito, que é uma carne de excelente qualidade. Existe o comerciante que frauda, é claro, todo setor tem. Às vezes é algum açougue com carne passada que empurra para o freguês. Mas isso é um cidadão ou outro e a gente está preparado para denunciar esses elementos, o dono de supermercados que está fazendo sacanagem, o açougueiro, o próprio frigorífico se a carne chegar com problema. Mas eu posso garantir para todos que a nossa carne é de excelente qualidade, podemos continuar consumindo sem nenhum problema. Pelo contrário, é até bom porque carne é saudável, tem muita vitamina, combate a anemia. É um produto que precisa ser consumido para inclusive melhorar a saúde do nosso povo. 

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