Poucas perguntas e o interesse principal: Antonio Palocci, sua consultoria e eventual influência do ex-ministro na concessão de empréstimos do BNDES à gigante JBS.
Um dos cerca de 30 funcionários do banco que foram interrogados nesta sexta (12) no Rio contou à reportagem que, nas perguntas, a Polícia Federal tentava esclarecer se a consultoria de Palocci teria atuado em favor da JBS no banco.
Foram interrogados executivos, mas também técnicos de carreira do banco, com nenhuma influência hierárquica na instituição. Entre os conduzidos coercitivamente para depor estava um operador da mesa de negociações de ações, sem relacionamento direto com clientes. Outra levada para depor foi uma advogada que afirma ter apenas rubricado um documento e está grávida de nove meses.
O funcionário, que pediu para ter sua identidade preservada, disse que foi questionado pela PF sobre se equipes do banco tiveram contato com o ministro ou com funcionários da consultoria Projeto. Ele negou a vinculação.
“Nunca estive com Palocci e desconheço qualquer encontro dele no banco. Colegas que trabalharam em operações da JBS dizem que nunca viram o Palocci, nem utilizaram nenhum relatório da consultoria dele”, disse.
Em seu interrogatório à PF, ele conta que foi questionado sobre uma operação suspeita anterior à sua chegada na área de mercado de capitais, que, segundo a PF, teria beneficiado a empresa com a compra de ações e participação na empresa e em controladas.
Ele também foi perguntado sobre sua remuneração, patrimônio e sobre como são feitas as nomeações de funcionários do banco em conselhos das empresas em que o BNDESPar tem participação.
A atuação de funcionários do BNDES em conselhos de empresas não é remunerada, segundo norma do banco.
“Fizeram uma condução coercitiva para fazer poucas perguntas que poderiam ter sido feitas me convocando, foi um espetáculo”, disse. “Sou um técnico, cheguei até aqui graças ao meu trabalho e não a indicações políticas”.
O sentimento entre os funcionários ouvidos pela reportagem era de indignação.
Executivos cogitaram pedir afastamento de suas funções ou deixar de assinar documentos caso a diretoria do banco não saísse em defesa dos funcionários. No fim da tarde, circulou nota de diretores e superintendentes em solidariedade aos interrogados.
No início da noite, o banco divulgou nota assinada pela presidente Maria Silvia Bastos Marques dizendo que se reuniria, ainda nesta sexta à noite, com os que prestaram depoimento.
“O BNDES coopera regularmente com as autoridades, mas, neste momento, o que nós gostaríamos de deixar muito claro é o nosso apoio e a nossa confiança na instituição e nos nossos empregados. Vou me reunir ainda hoje com aqueles que foram hoje prestar depoimentos. Estão todos empenhados no esclarecimento do seu papel, que é técnico. Nós todos, como dirigentes e como instituição, temos confiança na probidade e na capacidade técnica dos nossos empregados”.
(FOLHA PRESS)
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