O Observatório Covid-19 Fiocruz divulgou boletim extraordinário nesta terça-feira (23), com a indicação da adoção de medidas rígidas para que a transmissão da doença seja bloqueada em todos os estados, capitais e municípios brasileiros, que se encontram em situação de alerta crítico com relação à pandemia.
As principais recomendações são “a restrição das atividades não-essenciais por cerca de 14 dias, para redução de aproximadamente 40% da transmissão, e o uso obrigatório de máscaras por pelo menos 80% da população”. O documento destaca o agravamento do cenário nacional, que apresenta valores extremamente altos de casos e óbitos diários por Covid-19, a preocupante permanência de aceleração da transmissão do vírus e o quadro crítico nas taxas de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), para Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Este colapso não foi produzido em março de 2021, mas ao longo de vários meses, refletindo os modos de organização para o enfrentamento da pandemia no país, nos estados e nos municípios”, afirmam os pesquisadores o Observatório que apontou dados de, em média, 73 mil casos diários e 2 mil óbitos por dia na última semana epidemiológica analisada, entre o período de 14 a 20 de março de 2021.
O documento mostra, também, crescimento no número de casos, em uma taxa de 0,3% por dia, além do número de óbitos, com aumento de 3,2% por dia. “O cenário é preocupante, pois indica que pode estar havendo uma situação de desassistência e falhas na qualidade do cuidado prestado para pacientes com quadros graves de Covid-19”, comentam os especialistas. “A incapacidade de diagnosticar correta e oportunamente os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais, em um processo que vem sendo apontado como o colapso do sistema de saúde, pode aumentar a letalidade da doença, dentro e fora de hospitais”, completam.
Os dados obtidos no último dia 22 indicam um quadro extremamente crítico no País com relação às taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS, com alerta de piora na região Sudeste, onde, na última semana, em Minas Gerais, houve taxa de crescimento de 85% para 93%; no Espírito Santo, de 89% para 94%; no Rio de Janeiro, de 79% para 85%; e em São Paulo, de 89% para 92%. A região Sul e a Centro-Oeste mantiveram taxas superiores a 96%. Piauí (96%), Ceará (97%), Rio Grande do Norte (96%) e Pernambuco (97%) destacaram-se com as piores taxas na região Nordeste. No entanto, na região Norte, o estado do Amazonas saiu da zona crítica para a de alerta intermediário, com atual taxa de 79%.
Por estes motivos, os pesquisadores alertaram para a necessidade de urgente adoção rigorosa das medidas de bloqueio da transmissão na quase totalidade dos estados e capitais onde há altas taxas de ocupação de leitos UTI Covid-19. “A coordenação e integração destas medidas, articuladas entre os diferentes níveis de governo e com ampla participação da sociedade, é vital neste momento. Assim, mesmo que vários municípios e estados já venham adotando estas medidas, é fundamental que governos municipais, estaduais e federal caminhem todos na mesma direção para ampliá-las e fortalecê-las, uma vez que a adoção parcial e isolada nos levará ao prolongamento da crise sanitária”, afirmaram.
O boletim apresenta uma lista de medidas urgentes, que devem ser “adotadas conjuntamente, demandando cerca de 14 dias para que produzam resultados na redução das taxas de transmissão em aproximadamente de 40%, exigindo o monitoramento diário para acompanhar seus impactos na redução de casos, taxas de ocupação de leitos hospitalares e óbitos”. Dentre elas, ampliar a disponibilidade e uso de máscaras, são primordiais, “tendo como meta que pelo menos 80% ou mais da população as utilize de modo adequado”, além da realização de “campanhas de distribuição gratuita de máscaras de pano multicamadas, em áreas e pontos de maior concentração populacional e baixo percentual de uso, combinadas com campanhas governamentais e não-governamentais sobre sua importância e modo correto de utilização”.
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