23 de dezembro de 2024
Notícias do Estado

Financiamento à cultura mescla doações da sociedade e aporte bancário

Foto do extinto Ministério da Cultura. (Foto: Elisabete Alves)
Foto do extinto Ministério da Cultura. (Foto: Elisabete Alves)

O BNDES, Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, lança nos próximos dias um programa que pretende unir recursos da instituição e também da sociedade civil no financiamento de projetos culturais.
Chamado de Programa Matchfunding de Cultura BNDES, ele é voltado a trabalhos de pequeno e médio porte (entre R$ 30 mil e R$ 300 mil), de diversas linguagens, que envolvam o patrimônio material ou imaterial do país.
O conceito de matchfunding (algo como financiamento combinado, em inglês) une as plataformas de crowdfunding – o financiamento coletivo feito via internet, com doações voluntárias – com o aporte de uma instituição.
No caso do programa do BNDES, projetos deverão se inscrever em um edital – serão cinco chamadas por ano, ainda sem datas definidas – para serem escolhidos por um colegiado de especialistas.
Depois, os proponentes entram em uma plataforma de crowdfunding e divulgam suas campanhas, para receber doações da sociedade civil. Caso cheguem à meta, ou seja, ao valor mínimo desejado para o projeto, o banco aportará mais duas vezes a quantia recebida. Por exemplo, se um projeto conseguir R$ 50 mil em doações, ele receberá outros R$ 100 mil do BNDES.
A ideia, segundo Eduardo Bizzo, gerente do Departamento de Educação e Cultura da instituição, é criar um mecanismo em que a sociedade esteja apta a cofinanciar e a fiscalizar o financiamento, “um dos maiores gargalos da cultura, não só no Brasil, mas em todo o mundo”, diz.
“Quando você financia em parceria, há um conjunto maior de pessoas interessada e de olho, fiscalizando”, afirma Leonardo Letelier, CEO da Sitawi, organização da sociedade civil que atua com finanças sociais e que conduzirá o fluxo financeiro do programa.
O programa, afirma Bizzo, pretende evitar a concentração de projetos do Sul e do Sudeste do país e garantir uma difusão de doadores, isto é, que uma proposta não receba a maior parte da renda de uma única fonte, Assim, ficaria assegurada a participação voluntária da sociedade. A meta é contemplar 80 trabalhos nos próximos dois anos.
O matchfunding é um mecanismo ainda pouco utilizado no Brasil, mas vem mostrando resultados no mundo. Um estudo realizado no ano passado pelo governo britânico mostrou que financiamentos combinados têm médias de doação individual maiores e uma porcentagem de projetos bem-sucedidos superior ao crowdfunding comum, que tem recursos vindos apenas da sociedade civil.
“Muitos projetos só saem do papel com o financiamento combinado. É um modelo que garante que os projetos tenham interesse coletivo e também um público, que irá frequentá-lo depois”, comenta Tati Leite. Ela é cofundadora e diretora de projetos especiais da Benfeitoria, plataforma que trabalha há quatro anos com matchfunding e hospedará os projetos do novo programa.
A empresa também será responsável por dar consultoria aos proponentes na divulgação de suas campanhas – e consequente arrecadação de doações. “A maior falha das pessoas é subestimar o trabalho que dá fazer um crowdfunding”, afirma Leite. “Demanda muito esforço, todos os dias você precisa lembrar a sua rede sobre o seu projeto.”
Segundo ela, a cada cem pessoas que entram no site de uma campanha de financiamento coletivo, apenas cinco fazem doações. “Por vezes ela até quer colaborar, mas não tem tempo, está sem o cartão e resolve deixar para depois. Aí acaba esquecendo.”
Mas é um mecanismo que envolve muito o público na divulgação, diz Leite. Cerca de metade dos internautas que vê um projeto em redes sociais acaba compartilhando a campanha em seu perfil. (MARIA LUÍSA BARSANELLI, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)


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