TATIANA VAZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto colecionadores do álbum de figurinhas da Copa do Mundo se encontram em praças e shoppings do país para fazer trocas, empreendedores enxergam na mania uma chance de fazer negócios.
O motivo está no poder que as coleções têm de promover o que muitas empresas tentam, mas não conseguem: reunir pessoas de profissões, classes sociais e idades diferentes em torno de um mesmo objetivo.
“É uma grande oportunidade de chegar até as pessoas, cadastrá-las e divulgar produtos e marcas, nem que seja para fazer vendas no futuro”, afirma Mércia Machado Vergili, da GSPP, consultoria em varejo, serviços e franquias.
A startup curitibana James Delivery decidiu adaptar seu negócio em poucos dias para aproveitar a onda e atrair colecionadores. Seu aplicativo de entrega, que inclui mercadorias tão díspares quanto ração e remédio, ganhou há um mês uma aba especial destinada às figurinhas.
Desde as duas últimas semanas, mais de 1.000 pacotes são entregues diariamente pela empresa na capital paranaense e também na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Em troca, o serviço cobra uma taxa de R$ 5,90 dos clientes que estão até três quilômetros de distância do lugar de origem do produto.
“Tivemos um incremento de 5% no faturamento no período e pensamos em trabalhar agora com outros produtos sazonais, como venda de camisetas de seleções e cornetas”, diz Lucas Ceschin, 30, advogado e sócio da James Delivery.
Se o aplicativo conseguiu entrar nesse mercado em pouco tempo, o site Encontro de Figurinhas demorou quatro anos para chegar aos 12.000 acessos diários que recebe hoje. A ideia do colecionador paulistano Gustavo Passi, 28, de criar um endereço na web para divulgar lugares de trocas, surgiu na Copa passada.
“Era preciso paciência e continuidade para que o site ganhasse relevância nas buscas do Google. Durante todo esse tempo, fiz posts e escolhi as palavras certas para mencionar antes de abrir minha empresa”, afirma.
Passi se prepara fazendo um curso de marketing, enquanto trabalha para uma seguradora no horário comercial. “Cuido do site durante as minhas horas de folga”, diz.
Ele conta que, no início, divulgava apenas os lugares públicos espalhados pelo país para a troca de figurinhas.
Depois, passou a incluir empresas que promoviam escambos, e a cobrar delas por isso. A rede de ensino Yázigi é uma das que paga R$ 299 pela divulgação, enquanto shoppings, como o Cidade, de Belo Horizonte (MG), investem R$ 1.599 em troca da menção.
Além do aluguel de espaço no site, o Encontro de Figurinhas ganha com anúncios do próprio Google e promoções como a da Saraiva, que divulga ali seus cupons de descontos para compra dos pacotes de cromos.
Parte das vendas feitas por este caminho vai parar também no bolso de Passi. A divulgação, tanto do site quanto das promoções, também é feita pelo empreendedor nos 28 grupos de colecionadores de figurinhas administrados por ele no WhatsApp.
“Desembolsei quase nada para investir na empreitada, só trabalho e conhecimento, e devo tirar R$ 60 mil líquidos para mim até o final da Copa”, estima.
O negócio, ele sabe, é sazonal, mas a ideia é seguir pensando em meios de facilitar a vida de colecionadores de outros objetos, como selos, tampinhas e copos de tequila.
A mesma estratégia depois do evento esportivo deve ser seguida pelos sete jovens, de 20 a 25 anos, criadores do aplicativo Coleciona. O produto, resultado de uma iniciativa da Unicamp de Campinas, no interior paulista, já tem 500 mil downloads gratuitos e tem atraído pessoas que querem digitalizar o controle de seus álbuns.
Por meio dele é possível saber quais figurinhas faltam e compartilhar o relatório com outras pessoas por e-mail, redes sociais ou WhatsApp, através de um código eletrônico gerado pelo sistema.
“Financeiramente não houve investimento inicial no aplicativo. Começamos apenas com a ideia e desenvolvemos a partir dela”, diz Tamara Campos, 24, formada em ciência da computação, sem relevar quanto já foi faturado até agora.
O gosto pelos álbuns e a chance de divulgação da marca de forma descontraída fizeram o empresário Michael Reins promover três sábados seguidos de troca de figurinhas entre clientes em sua loja de material de construção, a Obramax, na Mooca, zona leste de São Paulo.
Em outro canto da cidade, em Santana, a clínica odontológica Orthodontic teve a mesma ideia. “Investimos para divulgar os eventos nas mídias sociais, é uma maneira de fazer com conheçam o espaço de forma divertida”, diz Cheong Kuo Cheng, 36, franqueado da rede. “Recebemos para as trocas, além de clientes, amigos de pacientes, dentistas e pessoas do bairro. É ótimo para a imagem da clínica.”
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