Familiares dos tripulantes do submarino ARA San Juan, que desapareceu há 12 dias quando ia de Ushuaia a Mar del Plata, cobram uma posição da ex-presidente Cristina Kirchner, já que foi durante seu governo que a embarcação passou pela última manutenção.
“Como representante do povo, ela tem de nos responder. Tem de olhar nos olhos das crianças que ficaram sem pai e dar a elas uma resposta. O presidente [Mauricio Macri] tem de se assegurar de que ela responda por suas falhas. Não pode se defender por via judicial. Tem de responder”, disse Marcela Tagliapietra, cunhada do tripulante Fernando Mendoza, acompanhada de seus pais, em declarações na TV.
Chamando Cristina de “a inominável”, Romina Maroli, prima do submarinista Víctor Andrés Maroli disse: “Queremos que os culpados sejam encontrados. O que estamos passando não tem nome. O que nos estão fazendo viver é imperdoável”.
A chamada “manutenção de meia vida” do San Juan foi realizada no Cinar (Complexo Industrial e Naval Argentino) do estaleiro Tandanor a partir de 2008.
Em setembro de 2011, após um gasto de US$ 16 milhões em uma primeira fase de reparação, Kirchner anunciou em cerimônia que o submarino teria mais 30 anos de vida. “Em dezembro, pato na água”, disse.
Três anos depois o submarino foi colocado em funcionamento pelo ministro da Defesa, Augustín Rossi. Em seguida, precisou voltar para novos reparos.
Segundo um informe do Ministério da Defesa obtido pela imprensa argentina, uma investigação interna realizada entre 2015 e 2016 apontou que a Marinha havia beneficiado determinados fornecedores na compra das baterias, comprado insumos com garantias vencidas e cometido irregularidades na manutenção de meia vida do navio.
Entre as irregularidades estaria que, em vez de trocadas, as baterias do submarino teriam sido reformadas.
Em sua última comunicação, o capitão do San Juan informou que havia acontecido uma falha na bateria, mas que havia solucionado o problema. Depois, o submarino desapareceu.
O informe foi produzido após denúncia do suboficial José Oscar Gómez, que diz ter sido destituído após fazê-la. O caso acabou arquivado pelo juiz federal Norberto Oyarbide.
A denúncia de que as baterias teriam sido reformadas é negada por fontes próximas à manutenção e pela ex-ministra da Defesa Nilda Garré, que acompanhou parte da reparação.
“É um submarino com tecnologia dos anos 1980, mas reparado como novo. A reforma não só passou por todos os exames do ano 2013 como depois o submarino navegou três anos seguidos”, afirmou Garré à rádio Splendid.
O ex-tripulante Hugo Rojas disse à Folha de S.Paulo que todas as 960 baterias e os 4 motores do submarino foram trocados na manutenção de meia vida.
Um dos trabalhadores da manutenção disse ao canal TN que “todas as partes dos reparos vieram da Alemanha”.
“A troca foi de 100%. Foram colocados equipamentos novos. Todos os trabalhos foram controlados e verificados pelos engenheiros”, disse.
Leia mais:
- Submarino americano vai ajudar na busca por embarcação argentina
- Missão do submarino argentino desaparecido era ‘segredo de Estado’
- É cedo para dizer que submarino esteja quase sem oxigênio, diz militar
Leia mais sobre: Mundo