A ausência de um serviço especializado de urgência em otorrinolaringologia no Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás tem comprometido o atendimento médico em situações que exigem ação rápida e técnica, como a remoção de corpos estranhos do ouvido, nariz e garganta. O alerta é da presidente da Associação Goiana de Otorrinolaringologia (AGORL), Dra. Juliana Caixeta, que cobra a estruturação da rede pública para garantir atendimento seguro à população.
O debate ganhou destaque após a morte do pequeno Ravi de Souza Figueiredo, de 2 anos, em Goiatuba, no sul do estado, em abril deste ano. A criança faleceu após colocar um grão de milho no nariz e passar por tentativas de remoção do corpo estranho. “Não é possível saber com detalhes tudo o que ocorreu, mas tragédias como essa precisam nos fazer refletir. Nenhum procedimento médico é simples”, destaca a Dra. Juliana.
Ela explica que, embora a remoção de objetos nas vias aéreas possa parecer um procedimento corriqueiro, ele exige preparo e conhecimento técnico. “Embora qualquer médico possa tentar esse tipo de remoção, o otorrinolaringologista é o profissional mais treinado para essa situação. O risco existe, e a abordagem adequada é fundamental para um desfecho seguro”.
Para atuar como otorrino, o médico passa por seis anos de graduação em medicina e mais três anos de residência médica na especialidade. Segundo a especialista, esse preparo é essencial para lidar com urgências de forma eficaz e segura.
Falta estrutura, não especialistas
Apesar de Goiás contar com mais de 250 otorrinolaringologistas em atividade o que coloca o Estado em 8º lugar no ranking nacional em número de profissionais por habitante, conforme dados da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (ABORL-CCF), o acesso da população aos serviços especializados ainda é limitado, principalmente no SUS.
“Não faltam otorrinos em Goiás. O que falta é uma rede pública estruturada para atendimento de urgência”, afirma Juliana. Ela explica que médicos do interior e até mesmo da capital enfrentam dificuldades em encaminhar pacientes que precisam de atendimento imediato. “A ausência de referência específica para urgência em otorrino no SUS faz com que muitos casos sejam resolvidos de forma improvisada, sem condições adequadas de espaço, materiais ou equipe”.
A presidente da AGORL relata situações em que pacientes aguardam dias por atendimento ambulatorial, mesmo diante de quadros urgentes. “Nem sempre a boa vontade do profissional e a experiência clínica são suficientes para garantir a segurança do paciente quando não há estrutura. Precisamos de um sistema que permita ao especialista atuar com os recursos necessários”, afirma.
Defesa por serviço público estruturado
Diante do cenário, a entidade reforça a urgência na implantação de um serviço público especializado em otorrinolaringologia para atendimento emergencial em Goiás. “É essencial garantir que a população tenha acesso rápido e seguro ao atendimento em casos como sangramentos, infecções agudas, obstruções respiratórias ou aspiração de corpos estranhos. Isso pode significar a diferença entre a vida e a morte”, conclui Juliana.
A AGORL deve formalizar propostas às autoridades de saúde do Estado para que o tema entre de vez na pauta de planejamento e investimento da rede pública. A entidade também destaca a importância da capacitação contínua dos profissionais da atenção básica para o correto encaminhamento de casos, até que haja uma estrutura de urgência consolidada para a especialidade.
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