14 de outubro de 2024
Insegurança • atualizado em 23/09/2022 às 09:17

Falta de informação e representatividade política levam eleitor à indecisão de voto

Eleições acontecem no próximo dia 2 e grande parte da população ainda não sabe em quem votar
Urna Eletrônica. Foto: LR Moreira/Secom/TSE
Urna Eletrônica. Foto: LR Moreira/Secom/TSE

Muito se fala das eleições, que acontecem no Brasil no próximo dia 2, e, principalmente, dos candidatos concorrentes ao pleito. Em especial, para o Executivo nacional e estadual. Ainda assim, há uma grande parcela da população que está em dúvida com relação a quem irá depositar seu voto nas urnas. Em Goiás, por exemplo, a quarta rodada da pesquisa Serpes, divulgada no último dia 16, apontou que 14,9% dos eleitores goianos ainda não sabem em quem votar para o cargo de governador do Estado.

Tal indecisão está ligada, principalmente, de acordo com o cientista político Cristian de Paula Junior, à falta de informação, crença e representatividade política, além da polarização existente nas pesquisas e repercutida pela mídia. “Existe um grupo que não vê solução na política e eu acho que esse é o principal problema que tanto os candidatos, quanto os políticos, enfrentam hoje, principalmente entre os jovens, que é o de resgatar a crença de que a política é capaz de solucionar questões práticas no dia a dia da sociedade”, frisou. 

A fotógrafa Luana Modesto, de 21 anos, é um exemplo. A pouco mais de uma semana da data para a escolha dos candidatos, ela ainda não tem voto definido para nenhuma das cinco opções disponíveis e conta que não deseja, apenas, que o atual presidente Jair Bolsonaro seja reeleito. “Eu queria votar no Ciro, porque gostei das propostas dele, mas vou ficar de olho nas pesquisas. Se eu ver que ele realmente não tem chances, eu voto no Lula, porque não quero que o Bolsonaro ganhe de novo. Agora para governador, senador e deputados, eu não sei nem quem são os candidatos, para falar a verdade”, disse.

Com relação à política em geral, Luana afirma não enxergar mudança em nenhum candidato. Para ela, trata-se de um ciclo que se repete e o cidadão deve optar, apenas, por quem oferece menores chances de impacto na sociedade. “São todos ruins. Ex-presidiário, agora no poder um cara ignorante, sem respeito e que só fala ‘abobrinha’. Então, para mim é cada um pior do que o outro e o que nós temos que fazer é escolher dos males, o menor”, enfatizou, em entrevista ao Diário de Goiás.

Da mesma forma, a dona de casa Alessandra Moreira, de 47 anos, não sabe em quem votar para nenhum dos cargos concorrentes ao próximo pleito. “Eu simplesmente não sei. Não estou acompanhando horário eleitoral e não sei quem são os candidatos. E o pior de tudo é que tenho pouquíssimo tempo para isso, né?!”, ponderou a eleitora. “Política e políticos, para mim, são a mesma coisa e só servem para encher o bolso dos envolvidos”, salientou, em avaliação ao atual cenário eleitoral.

A costureira Idésia Aparecida Nunes e seu marido, o artesão Alexandro Moreira, compartilham da mesma situação. Ambos têm pouco conhecimento a respeito dos candidatos concorrentes e não vêem, também, mudança expressiva nas eleições. “Não sabemos nem quem são os candidatos, direito. Só sabemos do Bolsonaro e do Lula, porque o tempo todo tem encrenca envolvendo os dois, na televisão”, enfatizou a costureira. “Esse negócio de política é tão difícil. A gente nem sabe em quem votar, porque quando pensa que um vai ser bom, depois que ganha acaba não valendo nada”, acrescentou.

Análise

De acordo com Cristian Júnior, tal situação remete a uma ideologia da ineficácia da política, transmitida à população como um lugar de corrupção. “Tem a ver com uma política neoliberal globalizante que vendeu a ideia, aqui no Brasil, de que a política é um lugar de corrupção, um universo à parte, separado da vida prática, dos problemas cotidianos. Um lugar dos poderosos. Criou-se uma espécie de sacralização, negativa, no sentido de que quem está na política rouba, fica impune e é isso mesmo. Então, como para eles tanto faz, acabam por não se interessar pelo assunto”, explicou.

Além disso, o cientista político afirmou existir uma tradição de despolitização, ligada à formação social de alguns brasileiros, que não procuram ter conhecimento a respeito dos poderes públicos e suas especificidades. Deste modo, muitas pessoas vêem como referência somente o que é divulgado pela mídia. “O pessoal costuma pegar as pesquisas que colocam determinados candidatos na frente e trabalham com essa ideia de polarização. A gente não pode ignorar que uma parcela expressiva dos eleitores em potencial estão votando nulo ou branco”, enfatizou.

Diante das afirmativas, o especialista ressalta a falta de representatividade e crença na política como fatores determinantes para a indecisão. “Eu observo, pelas pessoas que eu tenho conversado, em pesquisas empíricas que tenho feito, que existe uma certa crença de que não tem jeito, não tem o que fazer, não tem como superar esse desafio da polarização, além da falta de crédito que as pessoas têm com relação à política, depois dos escândalos de corrupção”, salientou.


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