Para analistas do mercado financeiro, a falta de um candidato forte de centro, disposto a fazer reformas para ajustar a situação fiscal brasileira, preocupa mais do que a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode ocorrer nesta sexta-feira (6).
Segundo eles, o cenário eleitoral segue imprevisível e há riscos de extremismos de ambos os lados do espectro político.
José Tovar, presidente da gestora Truxt Investimentos, diz que a preocupação do mercado é se o próximo presidente terá foco e responsabilidade para fazer os ajustes necessários.
“O quadro fiscal brasileiro é extremamente grave, o país está envelhecendo, gasta-se muito com previdência. O que o Brasil precisa é de um presidente responsável, disposto a fazer reformas amargas.”
Para ele, a prisão iminente de Lula embaralha o cenário eleitoral, já que o candidato que lidera as pesquisas não poderá se candidatar e, se estiver preso, não fará campanha para seu candidato”.
“Estamos vivendo um cenário extremado, que pode levar a um extremismo do outro lado. O mercado fica nervoso, oscilando a cada notícia”, diz.
Dan Kawa, head de multimercados da Icatu Vanguarda, diz que o mercado se preocupa mais com a garantia da inelegibilidade de Lula pela Lei da Ficha Limpa do que com sua prisão.
Ele concorda que o cenário eleitoral ainda é incerto e não dá para saber se o afastamento do ex-presidente da disputa abrirá caminho para um candidato reformista.
“Até pouco tempo atrás, existia no mercado um consenso de que um candidato reformista e de centro ia ganhar corpo ao longo do tempo e que a gente ia chegar às eleições com um cenário mais definido eleitoralmente.”
Em vez disso, não apareceu uma candidatura de centro e que defenda as reformas bem posicionada, e as eleições estão se aproximando, diz.
Para Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, a prisão de Lula deverá diminuir a capacidade do ex-presidente de transferir votos para o candidato que ele apoiar.
“Uma coisa é o Lula solto e em campanha, outra coisa é ele condenado e preso. Não podendo subir em palanque, participar de caravana, ficará mais difícil.”
Alckmin
Os analistas ouvidos pela reportagem demonstraram desconfiança em relação às chances de a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decolar e assumir o posto de principal defensor das reformas nas eleições.
Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, diz que o mercado tem preferência pelo perfil de Alckmin que, em tese, seria menos refratário que todos os outros à ideia de reforma. E, em tese, também teria mais habilidade para lidar com o sistema político, diz.
Porém o especialista vê pouca confiança do mercado em relação às chances de ele se eleger.
“O mercado está atento ao [governador de São Paulo, Geraldo] Alckmin, e se pergunta que horas ele sai para entrar outro, quando vão colocar alguém mais forte.”
Outro risco, segundo Plácido, da XP Investimentos, é que novos escândalos no governo de SP sejam revelados, impactando a candidatura do governador.
Para ele, a prisão de Paulo Preto, ex-diretor da Dersa apontado como operador do PSDB, pode enfraquecer a candidatura de Geraldo Alckmin.
“O próprio PSDB pode ser afetado. Um candidato mais reformista com chances de vencer seria o Alckmin, e essa prisão vai respingar no PSDB”
A reportagem entrou em contato com a Fiesp, a FecomércioSP, o Sinduscom-SP e a CNI, que não irão se manifestar sobre a prisão de Lula. (Folhapress)
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