Bem próximo da Superintendência Regional da própria Polícia Federal (PF), no Setor Bela Vista, em Goiânia, um grupo de criminosos se passava por agentes da corporação para extorquir outros criminosos, a maioria integrantes de facções e traficantes de drogas com condenações judiciais. Nesta terça-feira (11), a PF cumpriu seis mandados de prisão quatro cidades contra o grupo. O golpe causou perplexidade pela ousadia dos criminosos.
Denominada Operação Isfet 2, a ação teve o objetivo de desarticular o grupo. Para isso foram também cumpridos 11 mandados de busca e apreensão. A operação aconteceu em Goiânia, Goianira, Trindade, na região metropolitana, além de Campo Grande (MS).
Conforme divulgou a PF, as investigações tiveram início em março deste ano, a partir de denúncias sobre negociações e reuniões realizadas nas proximidades da Superintendência da PF em Goiás arquitetadas pelos autores das extorsões. “Nessas ocasiões, os criminosos se passavam por policiais federais e solicitavam valores a outros criminosos, prometendo uma falsa imunidade nas supostas investigações conduzidas pela Polícia Federal”.
A ação é uma continuidade da primeira fase das investigações e visa desarticular todos os envolvidos nas diferentes fases do crime, desde a seleção dos alvos até a abordagem e extorsão.
Uniformes e credenciais falsos são apreendidos
Com os investigados foram encontradas e apreendidas roupas similares aos uniformes dos agentes federais e também da Polícia Civil, além de carteiras funcionais falsas.
Segundo o delegado que comandou a operação, Murilo de Oliveira, o grupo abordava advogados dos criminosos que seriam alvos das extorsões. “Essa seleção era feita sempre levando em conta a capacidade econômica dessas pessoas que já possuem condenações criminais, buscando arregimentar cerca de R$ 15 milhões para evitar que falsas investigações não fossem levadas adiante”, detalhou ele.
Delegado cita perplexidade
A ousadia dos criminosos espantou os investigadores. “Causa perplexidade à Polícia Federal saber que um grupo de pessoas se organiza e se coloca de forma a, falsamente, se identificando como policiais federais, selecionar pessoas que possuem condenações criminais e que, portanto, também possuem capacidade econômica para acabar atendendo a essa extorsão, e que não seriam alcançadas e responsabilizadas criminalmente”, declarou Oliveira.
Conforme ele, a investigação identificou desde os mentores aos executores e os intermediários que buscavam a seleção dessas vítimas. De acordo com delegado, o grupo fazia abordagens de forma violenta e contínua, buscando ter vantagens econômicas diante dessas pessoas.
Seleção das vítimas
O delegado ainda detalhou que as vítimas dos falsos policiais federais eram pessoas com condenações criminais cujas consultas são públicas. “A posteriori, são levantadas particularidades, desde o local onde atualmente residem, familiares dessas pessoas, rotinas que essas pessoas acabam empenhando em suas vidas diárias. [Depois] a aproximação era feita com uma vigilância constante, mandando fotos, imagens, ameaças e, ao fim, solicitando valores, no caso específico, 15 milhões de reais para que essas pessoas não tivessem investigações alavancadas de forma falsa”, revelou.
Os encontros eram próximos da Superintendência da PF para dar um ar legítimo e buscar uma transparência. “Foram identificadas essas reuniões ocorridas não no prédio [da PF], mas nas proximidades. Logo à frente, identificados com crachás, com identificações falsas de distintivos, portando arma de fogo e que, naturalmente, aos olhos das pessoas extorquidas, se apresentavam como legítimos policiais, o que não eram”, acrescentou.
Ele disse que pelas características das vítimas, que são pessoas condenadas, muitas vítimas não devem ter denunciado a extorsão, sendo impossível estimar o número delas.
Falsos policiais federais tinham perfil violento
O delegado ainda reforçou que os investigados tinham condutas violentas, intimidatórias: “São pessoas que possuem e ostentam armas de fogo, sejam em imagens transmitidas por aplicativos e redes sociais, mas que, de uma forma geral, são pessoas que já tiveram problemas, inclusive, similares a esse”.
Segundo ele, o golpe foi denunciado pelo advogado de um criminoso de Balneário Camboriú (SC) relatando a possibilidade de policiais de verdade estarem envolvidos. A corporação chegou a iniciar uma investigação interna “dedicada a refutar hipótese de participação real de policiais”, quando foi descoberta a fraude dos criminosos. Nessa investigação ficou comprovado que o grupo investia alto na extorsão.
“Esse grupo se apresentou de uma forma contínua, monitorando e realizando viagens. Acompanhando familiares dessas pessoas extorquidas em outros municípios do país como, por exemplo, Campo Grande, Mato Grosso do Sul onde eles estiveram, coletando imagens, filmagens, de forma a exercer pressão e intimidar essas pessoas para que elas pudessem realizar o pagamento solicitado”, detalhou ainda.
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