21 de dezembro de 2024
RS • atualizado em 01/03/2023 às 08:48

“Falou demais”: conheça o vereador gaúcho que defendeu vinícolas suspeitas de trabalho escravo

Uma operação realizada na última quarta-feira (22), no Rio Grande do Sul, resgatou 192 homens com idades entre 18 e 57 anos
Sandro afirmou que empresas e produtores rurais deveriam contratar argentinos que são "limpos, trabalhadores, corretos e que cumprem horário". (Imagem: reprodução)
Sandro afirmou que empresas e produtores rurais deveriam contratar argentinos que são "limpos, trabalhadores, corretos e que cumprem horário". (Imagem: reprodução)

Depois que viralizou o vídeo do vereador gaúcho Sandro Fantinel (Patriota) em que ele defende vinícolas do Rio Grande do Sul e critica trabalhadores baianos que foram explorados, o parlamentar afirmou que “falou demais” e vai pedir desculpas nesta quarta-feira (1/3). É o que sempre acontece quando falas preconceituosas e passíveis de punição acabam ganhando uma repercussão maior do que o imaginado.

O representante legislativo da Câmara de Caxias do Sul (RS), que ao acreditar que podia falar o que bem entendesse, afirmou, no vídeo, que empresas e produtores rurais deveriam contratar argentinos que são “limpos, trabalhadores, corretos e que cumprem horário” para a colheita de uvas, e que não deveriam buscar “aquela gente lá de cima”, em referência clara, que ele mesmo cita posteriormente, a trabalhadores da Bahia resgatados na quarta-feira (22) em situação análoga à escravidão. Veja o vídeo:

Agora, o vereador, que além de tudo é bolsonarista, ficou em destaque nacional e, tanto internautas, quanto pessoas públicas como outros políticos, atores e jornalistas, pedem que o a Câmara de Caxias do Sul, o Ministério Público Federal e o da Bahia façam algo à respeito das declarações. Com isso, Sandro afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que voltará à tribuna nesta quarta-feira (1º) para “pedir as desculpas”.

O deputado estadual Leonel Radde (PT-RS) foi uma das pessoas que foi às redes sociais para criticar Sandro e afirmar que registrou um boletim de ocorrência contra a fala do vereador. “O Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para escravocratas”, publicou.

Já o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), também se manifestou sobre a situação e determinou “a adoção de medidas cabíveis”. “Hoje, um vereador do Rio Grande do Sul defendeu o trabalho escravo nas vinícolas do estado e ainda foi xenofóbico e racista com baianas e baianos. Eu repudio veementemente a apologia à escravidão e não permitirei que tratem nenhum nordestino ou baiano com preconceito ou rancor”, escreveu em suas redes sociais.

Vereador Gaúcho

Na biografia de Sandro, no site da Câmara, consta que o vereador criou a “Comissão Pró-Bolsonaro 2018”, um grupo de empresários de direita que desejavam mudanças no país. Em julho de 2018, renunciou sua candidatura, referente ao seu primeiro mandato a deputado federal para trabalhar única e exclusivamente pela campanha do então candidato à presidência, Jair Bolsonaro, que perdeu as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além disso, o perfil consta que o político batalha em prol do projeto “Escola Sem Partido” e em favor do desenvolvimento do agronegócio. Sandro Fantinel exerce seu primeiro mandato como vereador, pelo Patriota, na XVIII Legislatura (2021-2024) de Caxias do Sul, para a qual foi eleito com 1.756 votos.

Trabalho análogo à escravidão

De acordo com o Ministério Público do Trabalho, durante uma operação conjunta de diversas forças de segurança desbaratou um esquema de trabalho escravo em vinícolas em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul na última quarta-feira (22). Na ocasião, foram resgatados 192 homens – com idades entre 18 e 57 anos – todos em situação análoga à escravidão.

As vítimas resgatadas eram terceirizados e foram levados ao Sul com a promessa de emprego, alojamento e alimentação, o que não acontecia na prática. Além disso, eles trabalhavam para duas empresas que eram contratadas pelas vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton. As três dizem que não tinham conhecimento da situação relatada pelos trabalhadores e que repudiam violações de direitos humanos.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), por sua vez, informou nesta terça-feira (28) que as vinícolas envolvidas estão suspensas das atividades e iniciativas da agência. As três empresas teriam contratado uma terceirizada que usava mão de obra análoga à escravidão para colher uva na região do estado.


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