As declarações sobre crimes sexuais contra crianças e adolescentes no arquipélago de Marajó, no Pará, feitas pela senadora eleita no Distrito Federal, Damares Alves (Republicanos) foram baseadas em “numerosos inquéritos já instaurados que dão conta de uma série de fatos gravíssimos”, de acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos por meio de nota enviada à imprensa nesta terça-feira (11/10).
A pasta que foi comandada por Damares durante os últimos três anos na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) também disse que o Ministério “tem total ciência da gravidade do problema e age diuturnamente para combater essas e outras práticas criminosas”.
Ao tomar ciência das denúncias, o Ministério Público Federal (MPF) enviou ofício ao Ministério solicitando informações sobre os “supostos crimes contra crianças”. O órgão quer a apresentação dos casos em detalhes, para que as providências sejam tomadas.
Entenda a polêmica
A senadora eleita pelo Distrito Federal e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos) afirmou, no último sábado (8) durante visita à Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia, que o governo Bolsonaro teria encontrado crianças vítimas de tráfico humano para outros países. O crime teria sido registrado na Ilha do Marajó, no Pará, onde os dentes dos pequenos teriam sido arrancados para prática de sexo oral. Veja vídeo:
No vídeo, Damares faz revelações ainda mais chocantes sobre estupros de bebês e a condição das supostas crianças sequestradas. Apesar do tráfico de pessoas, de crianças em geral, ser algo real a ex-ministra porém, não citou dados, fatos ou operações que comprovassem a veracidade de sua denúncia. Ela usa a história, no entanto, para dizer que Bolsonaro quer salvar todas as crianças e, por isso, o “inferno se levantou” contra o presidente.
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Outro fato curioso é que, no começo do vídeo, Damares diz, antes de fazer a denúncia, que as pessoas perguntam “por que Bolsonaro está fazendo o maior programa de desenvolvimento regional na Ilha do Marajó?”. Apesar disso, em apuração, não há qualquer informação que confirme isso, pelo contrário, o presidente só liberou 44% dos recursos de convênios no estado e apenas 10% dos contratos com prefeituras, entidades e Estado foram concluídos. Atrasos atingem centenas de obras e aquisição de equipamentos, prejudicando a população e atrapalhando projetos nos municípios.
Especificamente em Salvaterra, na Ilha do Marajó, um convênio para a implantação de um sistema de abastecimento de água, que vai beneficiar as comunidades de Camará e São Veríssimo e a atividade agrícola da região, foi assinado em dezembro de 2019. O valor é de pouco mais de R$ 600 mil, mas até agora nenhum tostão foi liberado e a vigência expira em dezembro deste ano.
Voltando à denúncia, é claro que, em hipótese alguma a identidade de crianças resgatas nestas possíveis condições jamais devem ser reveladas, mas há outras formas de se utilizar desta informação. Providências poderiam ter sido tomadas por meio de ações policiais, investigativas, mobilização de poderes, e informando a população corretamente, não sendo trazida em um culto, em período de campanha eleitoral, a qual Damares chama de “Guerra Espiritual”.
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