19 de novembro de 2024
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“É uma guerra insana que estamos vivendo”, destaca superintendente da Saúde em Goiás sobre fake news da vacina

Flúvia Amorim destaca que fake news em torno da vacina contra a Covid-19 atrapalha avanço da imunização
Flúvia Amorim destaca que fake news em torno da vacina contra a Covid-19 atrapalha avanço da imunização

Um ano e sete meses de pandemia declarada é até hoje um problema que especialistas, epidemiologistas, sanitaristas e médicos têm convivido: a desinformação em torno da pandemia acentuada com o início da vacinação contra a Covid-19. As fake news, em maior ou menor grau, afastam as pessoas das filas de imunização no Brasil. Em Goiás, não é diferente: levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) junto aos municípios aponta que aproximadamente 630 mil pessoas ainda não cumpriram todo o ciclo vacinal mesmo tendo o imunizante à disposição.

Apesar dos avanços da vacinação no Estado a “contrainformação” preocupa, afinal de contas, 96% dos óbitos registrados em Goiás, de janeiro até agora são de pessoas não-vacinadas. Uma minoria vacinada acabou contraindo a doença e na maioria das vezes que não resistiram foram por conta de complicações acentuadas de outras doenças. Esse cenário é exposto pela superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim em entrevista ao Diário de Goiás, nesta quarta-feira (20/10).

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“Temos aproximadamente 6% de pessoas que receberam a vacina mas por outras complicações de saúde acabaram indo a óbito. É um percentual infinitamente maior do que as pessoas não vacinadas. Entre os não-vacinados, morrem muito mais do que vacinados. Simples assim.”, avalia. Questionada se a desinformação atrapalha, Flúvia responde positivamente. “Essas fake news com certeza atrapalham. Não só para as pessoas receberem a primeira dose, mas também para a segunda dose e até a dose de reforço. É uma guerra insana que a gente vive nesse momento.”

Leia a entrevista na íntegra com a superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim.

Domingos Ketelbey: Em Goiás, pouco mais de meio milhão de pessoas ainda não se vacinou mesmo tendo a vacina à disposição para se imunizar. A pasta tem uma explicação para isso?

Flúvia Amorim: Se a for usar a lógica não teria porque essas pessoas ainda no momento que a gente tá vivendo pensar dessa forma. Os números são muito claros. Hoje, a grande maioria das pessoas que estão agravando à óbito são de não-vacinados. O que a gente tem visto, infelizmente, é o crescimento da fake news e da contra-informação. Muitas pessoas acabam acreditando no que recebem e colocando em xeque a vacina em relação à milhares e milhares de pessoas mundo afora que receberam a vacina. Milhares e milhares de pessoas que não tiveram casos graves devido a vacina. Felizmente, no Brasil é um percentual pequeno ainda pequeno. Aqui em Goiás, são 360 mil pessoas aproximadamente que não receberam nenhuma dose. De 7 milhões de pessoas no total. Infelizmente, mas é uma decisão da pessoa e a gente tem que respeitar.

DK: A secretária tem um levantamento de óbitos por Covid-19 entre não vacinados e vacinados?

FA: Temos os últimos levantamentos que o total de óbitos mais de 94% em todo o estado, pegando 2021, pós vacinação, são de pessoas vacinadas ou de não completamente vacinadas, tomou uma dose e não tomou a outra ou nenhuma dose. 94% dos óbitos por Covid-19 em Goiás são de pessoas não-vacinadas.

DK: Não significa que a pessoa estar vacinada ela estará 100% imunizada, certo?

FA: Quando a gente fala da vacina, da efetividade e da importância do imunizante a gente está falando é que quem toma vacina tem menos chances de agravar e de morrer. Temos casos de casos de óbitos de pessoas vacinadas? Temos aproximadamente 6% de pessoas que receberam a vacina mas por outras complicações de saúde acabaram indo a óbito. É um percentual infinitamente maior do que as pessoas não vacinadas. Entre os não-vacinados, morrem muito mais do que vacinados. Simples assim.

DK: O que acha desses projetos que volta e meia aparecem que se exigiria um hipotético passaporte da vacina?

FA: Toda e qualquer medida que visa aumentar a segurança é válida. Eu faço uma analogia: é como se a gente tivesse entregando para uma pessoa que está num barco à deriva um colete salva-vidas. Eu tô dando para a pessoa o colete. Pode ser que o barco não afunde mas se afundar ela tem um colete, então a gente tá distribuindo esse colete e as vezes a gente tem que fazer algo para que ela entenda e de alguma forma ela possa usar esse colete. Nunca no Brasil, na era moderna no Brasil, ela foi obrigatória mas a gente precisa diminuir o vírus e a vacina é uma forma de diminuir o risco. Alguns estados tem exigido a vacina, porque se tem pessoas completamente vacinadas num evento ou num show, a gente sabe que o risco é menor, não que ele não exista, mas é menor.

DK: Fora aqueles que não querem se vacinar de nenhuma maneira, ainda há os que escolhem o imunizante, aqueles “sommeliers”. É um número expressivo?

FA: O levantamento que a gente fez junto aos municípios para entender porque parte dessas cidades não tinham concluído a sua vacinação de primeira dose para pessoas com 18 anos ou mais. Nas respostas que recebemos, verificamos que 30% das pessoas que não receberam nenhuma dose são daquelas que querem estão escolhendo o laboratório. 360 mil pessoas nenhuma dose, 30% querem escolher, 70% não querem de nenhuma maneira.

DK: Ontem, a Rússia declarou novas medidas restritivas porque houve um novo boom nos casos. Diversos países da europa vem registrando novas altas. Como a secretaria acompanha esses números?

FA: A gente tem sempre que estar observando o que está acontecendo no mundo. Na Europa, tem uma grande parcela dessas pessoas que são ainda não vacinados principalmente adolescentes e crianças e isso é natural, quando se vacina faixas etárias específicas há um deslocamento para faixas etárias não-vacinadas.  No Brasil e em Goiás desde julho começamos a ver o aumento na internação em idosos, por isso a dose reforço. Nós implementamos por causa disso a dose reforço por causa disso. Tudo que temos de monitorar e observar e a medida que as evidências científicas vão chegando vamos adaptando os protocolos. Chance de nova onda existe? Claro que existe. Se não tivermos boas coberturas, se a proteção cair e não tivermos dose reforço. Mas o que a gente tem visto no Brasil é uma queda crescente e diminuição de número de casos, internações e óbitos porque o Brasil avançou muito na vacinação. O Brasil é um dos países que mais aplicou doses no mundo.

DK: Na minha primeira pergunta, você mencionou a sua preocupação com fake news mas agora você fala que o Brasil tem avançado consideravelmente na vacinação. Essa desinformação tem impedido que o país avance ainda mais?

FA: Infelizmente, colabora. Porque aqui eu recebo de pessoas me perguntando se a informação é verdadeira. Eu recebo muitas dúvidas todos os dias. Coisas absurdas. Eu vi uma postagem dias atrás da pessoa falando que a segunda dose da Pfizer diminuia a proteção. Olha que coisa absurda: como a segunda dose diminui a proteção da primeira dose? Essas fake news com certeza atrapalham. Não só para as pessoas receberem a primeira dose, mas também para a segunda dose e até a dose de reforço. É uma guerra insana que a gente vive nesse momento.

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DK: Com a queda vertiginiosa dos casos de contaminações, internações e óbitos, muita gente fala que em breve a pandemia vai ser classificada como epidemia. Outros, começam a defender até a desobrigação no uso de máscara, medida apoiada até pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Acha que estamos caminhando para isso?

FA: Eu acho que ainda é cedo para gente falar isso. É muito cedo. Às vezes a gente quer essa antecipação para falar que a pandemia acabou, a gente vive há mais de um ano e meio numa situação que não é agradável para ninguém. São medidas que não são agradáveis mas necessárias. Toda e qualquer alteração de protocolo temos de ter muita cautela. A própria OMS não está nem falando nisso ainda. A gente tem situações diferentes mundo à fora. Temos no continente Africano menos de 10% da população vacinada. Isso quer dizer que existe a possibilidade deste continente ser um berço de novas variantes e corremos o risco de uma variante que escape da vacina. É cedo para gente falar isso. Enquanto não tivermos o maior contingente de pessoas vacinadas não só em Goiás e no Brasil mas também no mundo à fora.


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