21 de dezembro de 2024
Destaque

“É uma guerra insana que estamos vivendo”, destaca superintendente da Saúde em Goiás sobre fake news da vacina

Flúvia Amorim destaca que fake news em torno da vacina contra a Covid-19 atrapalha avanço da imunização
Flúvia Amorim destaca que fake news em torno da vacina contra a Covid-19 atrapalha avanço da imunização

Um ano e sete meses de pandemia declarada é até hoje um problema que especialistas, epidemiologistas, sanitaristas e médicos têm convivido: a desinformação em torno da pandemia acentuada com o início da vacinação contra a Covid-19. As fake news, em maior ou menor grau, afastam as pessoas das filas de imunização no Brasil. Em Goiás, não é diferente: levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) junto aos municípios aponta que aproximadamente 630 mil pessoas ainda não cumpriram todo o ciclo vacinal mesmo tendo o imunizante à disposição.

Apesar dos avanços da vacinação no Estado a “contrainformação” preocupa, afinal de contas, 96% dos óbitos registrados em Goiás, de janeiro até agora são de pessoas não-vacinadas. Uma minoria vacinada acabou contraindo a doença e na maioria das vezes que não resistiram foram por conta de complicações acentuadas de outras doenças. Esse cenário é exposto pela superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim em entrevista ao Diário de Goiás, nesta quarta-feira (20/10).

LEIA TAMBÉM:  ‘Cada dose é uma vida salva’, diz superintendente de Vigilância em Saúde

“Temos aproximadamente 6% de pessoas que receberam a vacina mas por outras complicações de saúde acabaram indo a óbito. É um percentual infinitamente maior do que as pessoas não vacinadas. Entre os não-vacinados, morrem muito mais do que vacinados. Simples assim.”, avalia. Questionada se a desinformação atrapalha, Flúvia responde positivamente. “Essas fake news com certeza atrapalham. Não só para as pessoas receberem a primeira dose, mas também para a segunda dose e até a dose de reforço. É uma guerra insana que a gente vive nesse momento.”

Leia a entrevista na íntegra com a superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim.

Domingos Ketelbey: Em Goiás, pouco mais de meio milhão de pessoas ainda não se vacinou mesmo tendo a vacina à disposição para se imunizar. A pasta tem uma explicação para isso?

Flúvia Amorim: Se a for usar a lógica não teria porque essas pessoas ainda no momento que a gente tá vivendo pensar dessa forma. Os números são muito claros. Hoje, a grande maioria das pessoas que estão agravando à óbito são de não-vacinados. O que a gente tem visto, infelizmente, é o crescimento da fake news e da contra-informação. Muitas pessoas acabam acreditando no que recebem e colocando em xeque a vacina em relação à milhares e milhares de pessoas mundo afora que receberam a vacina. Milhares e milhares de pessoas que não tiveram casos graves devido a vacina. Felizmente, no Brasil é um percentual pequeno ainda pequeno. Aqui em Goiás, são 360 mil pessoas aproximadamente que não receberam nenhuma dose. De 7 milhões de pessoas no total. Infelizmente, mas é uma decisão da pessoa e a gente tem que respeitar.

DK: A secretária tem um levantamento de óbitos por Covid-19 entre não vacinados e vacinados?

FA: Temos os últimos levantamentos que o total de óbitos mais de 94% em todo o estado, pegando 2021, pós vacinação, são de pessoas vacinadas ou de não completamente vacinadas, tomou uma dose e não tomou a outra ou nenhuma dose. 94% dos óbitos por Covid-19 em Goiás são de pessoas não-vacinadas.

DK: Não significa que a pessoa estar vacinada ela estará 100% imunizada, certo?

FA: Quando a gente fala da vacina, da efetividade e da importância do imunizante a gente está falando é que quem toma vacina tem menos chances de agravar e de morrer. Temos casos de casos de óbitos de pessoas vacinadas? Temos aproximadamente 6% de pessoas que receberam a vacina mas por outras complicações de saúde acabaram indo a óbito. É um percentual infinitamente maior do que as pessoas não vacinadas. Entre os não-vacinados, morrem muito mais do que vacinados. Simples assim.

DK: O que acha desses projetos que volta e meia aparecem que se exigiria um hipotético passaporte da vacina?

FA: Toda e qualquer medida que visa aumentar a segurança é válida. Eu faço uma analogia: é como se a gente tivesse entregando para uma pessoa que está num barco à deriva um colete salva-vidas. Eu tô dando para a pessoa o colete. Pode ser que o barco não afunde mas se afundar ela tem um colete, então a gente tá distribuindo esse colete e as vezes a gente tem que fazer algo para que ela entenda e de alguma forma ela possa usar esse colete. Nunca no Brasil, na era moderna no Brasil, ela foi obrigatória mas a gente precisa diminuir o vírus e a vacina é uma forma de diminuir o risco. Alguns estados tem exigido a vacina, porque se tem pessoas completamente vacinadas num evento ou num show, a gente sabe que o risco é menor, não que ele não exista, mas é menor.

DK: Fora aqueles que não querem se vacinar de nenhuma maneira, ainda há os que escolhem o imunizante, aqueles “sommeliers”. É um número expressivo?

FA: O levantamento que a gente fez junto aos municípios para entender porque parte dessas cidades não tinham concluído a sua vacinação de primeira dose para pessoas com 18 anos ou mais. Nas respostas que recebemos, verificamos que 30% das pessoas que não receberam nenhuma dose são daquelas que querem estão escolhendo o laboratório. 360 mil pessoas nenhuma dose, 30% querem escolher, 70% não querem de nenhuma maneira.

DK: Ontem, a Rússia declarou novas medidas restritivas porque houve um novo boom nos casos. Diversos países da europa vem registrando novas altas. Como a secretaria acompanha esses números?

FA: A gente tem sempre que estar observando o que está acontecendo no mundo. Na Europa, tem uma grande parcela dessas pessoas que são ainda não vacinados principalmente adolescentes e crianças e isso é natural, quando se vacina faixas etárias específicas há um deslocamento para faixas etárias não-vacinadas.  No Brasil e em Goiás desde julho começamos a ver o aumento na internação em idosos, por isso a dose reforço. Nós implementamos por causa disso a dose reforço por causa disso. Tudo que temos de monitorar e observar e a medida que as evidências científicas vão chegando vamos adaptando os protocolos. Chance de nova onda existe? Claro que existe. Se não tivermos boas coberturas, se a proteção cair e não tivermos dose reforço. Mas o que a gente tem visto no Brasil é uma queda crescente e diminuição de número de casos, internações e óbitos porque o Brasil avançou muito na vacinação. O Brasil é um dos países que mais aplicou doses no mundo.

DK: Na minha primeira pergunta, você mencionou a sua preocupação com fake news mas agora você fala que o Brasil tem avançado consideravelmente na vacinação. Essa desinformação tem impedido que o país avance ainda mais?

FA: Infelizmente, colabora. Porque aqui eu recebo de pessoas me perguntando se a informação é verdadeira. Eu recebo muitas dúvidas todos os dias. Coisas absurdas. Eu vi uma postagem dias atrás da pessoa falando que a segunda dose da Pfizer diminuia a proteção. Olha que coisa absurda: como a segunda dose diminui a proteção da primeira dose? Essas fake news com certeza atrapalham. Não só para as pessoas receberem a primeira dose, mas também para a segunda dose e até a dose de reforço. É uma guerra insana que a gente vive nesse momento.

NÃO DEIXE DE LER: ‘Temos um longo caminho a percorrer para pensar nisso’, diz Flúvia Amorim sobre fim da obrigatoriedade no uso de máscara

DK: Com a queda vertiginiosa dos casos de contaminações, internações e óbitos, muita gente fala que em breve a pandemia vai ser classificada como epidemia. Outros, começam a defender até a desobrigação no uso de máscara, medida apoiada até pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Acha que estamos caminhando para isso?

FA: Eu acho que ainda é cedo para gente falar isso. É muito cedo. Às vezes a gente quer essa antecipação para falar que a pandemia acabou, a gente vive há mais de um ano e meio numa situação que não é agradável para ninguém. São medidas que não são agradáveis mas necessárias. Toda e qualquer alteração de protocolo temos de ter muita cautela. A própria OMS não está nem falando nisso ainda. A gente tem situações diferentes mundo à fora. Temos no continente Africano menos de 10% da população vacinada. Isso quer dizer que existe a possibilidade deste continente ser um berço de novas variantes e corremos o risco de uma variante que escape da vacina. É cedo para gente falar isso. Enquanto não tivermos o maior contingente de pessoas vacinadas não só em Goiás e no Brasil mas também no mundo à fora.


Leia mais sobre: Cidades / Destaque