Ex-presidente da República, eleito nas primeiras eleições com abertura a voto popular após a redemocratização brasileira em 1989, Fernando Collor de Mello (PTC) está receoso com relação ao governo. Diz que já “viu este filme” e apesar de ainda evitar falar sobre a possibilidade do impeachment não enxerga no momento “a menor possibilidade de este governo dar certo”. As declarações foram dadas ao Correio Braziliense em entrevista publicada neste domingo (03/11).
Collor esquivou-se quando perguntado sobre a possibilidade do impeachment, no entanto, vê características parecidas com o período que ficou no poder. Ele enfrentou um processo de impeachment em 1992 e foi deposto dois anos depois de tomar posse. “Olhe, continuando assim, eu não vejo a menor possibilidade de este governo dar certo. O que acontecerá, eu não saberia dizer. Mas, se continuar do jeito que está, o governo não tem como levar adiante o período governamental”, salientou.
Collor rememorou alguns erros do passado que cometeu em sua gestão. Para ele, não ter construído um relacionamento com o Congresso Nacional e com a classe política foi fundamental para sua deposição. Ele vê uma situação parecida no atual governo.
Ele pontuou outras situações que podem lembrar o período que ficou a frente. Tanto que fala que já viu esse “filme”. “É um filme que eu já vi, embora haja diferenças entre o início do governo [de Jair] Bolsonaro e o início do meu governo, parece que está passando novamente na minha frente. Certos episódios e eventos me deixam muito preocupado, talvez não cheguemos a um bom termo sobre o mandato mal exercido pelo presidente da República — a começar por essa falta de interesse em construir uma base sólida de sustentação no Parlamento. Partindo-se do princípio de que, sem maioria no Congresso, não se governa — isso é uma condição sine qua non em um regime presidencialista, mas também no parlamentarista”, enfatizou.
O personalismo também foi destacado por Collor durante a entrevista. Ele diz que sentiu-se uma pessoa com totais poderes assemelhando-se a um ‘super-homem’ e para ele, é um sentimento adotado também pelo atual presidente. “É claro que, quando me elegi, eu disse: ‘Bom, sou um um super-homem […] Essa questão da eleição em que se ganha com uma disputa muito acirrada, e essa coisa toda, faz do vitorioso a primeira sensação de que: ‘não, eu posso tudo. Agora, eu sou o maioral e, agora, todos os outros têm que se submeter à minha vontade, ao meu desejo’. Isso é um erro, e está acontecendo agora”, rememorou.
A postura rígida e não conciliatória de Bolsonaro pode-lhe causar problemas, segundo a avaliação de Collor. “Isso é um perigo. O presidente incorre num erro grande, na minha avaliação, quando ele delimita a sua interlocução a um nicho de 15%, 20% da população, que são aqueles considerados bolsonaristas puros de origem. Eles não representam a nação brasileira”, enfatizou.
Collor voltou a fazer a analogia do ‘filme que já viu antes’. Ele finalizou a entrevista comparando a semelhança com os partidos que os elegeram. O PRN foi a sigla que Fernando foi eleito em 1989 e hoje sequer existe. “Sim (existe semelhança). O eleitorado deu ao presidente, além da sua eleição, um grupo de 53 deputados para, a partir desse núcleo, ele construir uma maioria. Mas ele cria essa confusão enorme, agora entrando na Procuradoria-Geral da República, pedindo para levantar as contas do partido, colocando uma série de suspeições em relação ao presidente do partido (o deputado Luciano Bivar, PSL-PE). Esse filme, repito, eu já vi”, concluiu.
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