24 de dezembro de 2024
Brasil

Ex-deputado usava e-mail ‘Nossa Senhora Aparecida’ para combinar propina

 

São Paulo – O ex-assessor parlamentar Ivan Vernon, que trabalhou no gabinete do ex-deputado Pedro Corrêa (PP/PE), afirmou em depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira, 26, que após a cassação do ex-parlamentar no Mensalão, em março de 2006, ele passou a usar um e-mail em nome de Nossa Senhora Aparecida Consultoria. Segundo o Ministério Público Federal, a conta era usada para combinar pagamento de propina com o doleiro Alberto Youssef, personagem central da Lava Jato. Vernon foi interrogado em ação que responde por lavagem de dinheiro, organização criminosa e peculato.

Ivan Vernon foi questionado pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, sobre contas de e-mails usadas por Pedro Corrêa. “[email protected]”, questionou o juiz. “[email protected] é o e-mail do ex-deputado Pedro Corrêa. Antes, a conta era [email protected]. Depois da cassação se transformou nesse endereço eletrônico”, afirmou Ivan Vernon.

Pedro Corrêa está preso desde 10 de abril, quando foi deflagrada a Operação A Origem, desdobramento da Lava Jato. Na denúncia da Procuradoria, a força-tarefa da operação afirma que Pedro Corrêa mandou um e-mail da conta [email protected], em 22 de dezembro de 2010, para Alberto Youssef para “tratar do fornecimento de informações de contas bancárias e valores para depósitos das vantagens indevidas oriundas da diretoria de Abastecimento da Petrobras”.

“No referido e-mail cujo assunto era ‘número das contas’, o denunciado Pedro Corrêa repassa informações de agências bancárias, números de contas, bem como os nomes de quatro pessoas físicas associadas a valores que chegam a R$ 100 mil para que Alberto Youssef efetuasse o repasse da vantagem indevida. Entre as pessoas interpostas utilizadas para o recebimento da propina encontra-se a denunciada Márcia Danzi”, diz a denúncia do Ministério Público Federal.

O PP, com PT e PMDB são suspeitos de lotear diretorias da Petrobras, entre elas a de Abastecimento, para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel. O esquema instalado na estatal foi desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato.

Durante o depoimento, Vernon foi questionado também sobre a conta de e-mail ‘[email protected]’. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, a combinação para o recebimento de propina na conta do ex-assessor e de outras pessoas físicas e jurídicas indicadas por Pedro Corrêa também está registrada em e-mail encaminhado pelo ex-deputado([email protected]) para o doleiro Alberto Youssef ([email protected]), no dia 7 de maio de 2012.

“Márcio Anselmo (delegado da força-tarefa da Lava Jato) já me perguntou. Eu nunca vi isso ([email protected]). Existia no quarto de Pedro Corrêa um computador privativo dele, que só ele possuía a senha e o máximo que se fazia às vezes era se jogar na impressora algum documento para imprimir. Esse e-mail, nunca vi”, afirmou Vernon.

A denúncia do Ministério Público Federal apurou que Pedro Corrêa “recebeu para si, direta e indiretamente, a quantia aproximada de R$ 35,4 milhões correspondente a 118 repasses de R$ 300 mil mensais, no período de 14 de maio de 2004 a 17 de março de 2014, pulverizados e estruturados em valores menores, acrescida de uma quantia de R$ 5,3 milhões paga no primeiro semestre de 2010, o que totaliza a soma de R$ 40,7 milhões de vantagem indevida”.

Em audiência também na quarta-feira, o ex-deputado afirmou em interrogatório que são inocentes seus filhos, a ex-deputada Aline Corrêa (PP-SP) e Fábio Corrêa, a nora Márcia Danzi e Ivan Vernon. Diante do juiz federal Sérgio Moro, o ex-deputado fez um esclarecimento inicial, mas depois ficou em silêncio durante toda a audiência.

“Estou sendo acusado com outras pessoas, e eu quero dizer que essas outras pessoas não têm nenhuma responsabilidade nos fatos. Eu assumo a responsabilidade de todos os fatos”, afirmou o ex-parlamentar, acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido pelo menos R$ 40,7 milhões em propinas, entre 2007 e 2014. “Dizer que meu filho, o réu Fabio Corrêa de Oliveira Andrade Neto, a ré Aline Lemos Corrêa de Oliveira Andrade, a ré Márcia Danzi Russo Corrêa e o réu Ivan Vernon, eles faziam apenas, cumpriam as determinações que eu mandava. Eu é quem era a pessoa que tratava dos assuntos referentes às imputações que estão sendo feitas comigo através do Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), do Alberto Youssef (doleiro).”

(Estadão Conteudo)


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