Rio – Distância e cautela. Essas foram as principais reações das lideranças evangélicas ligadas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no dia seguinte à denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República contra o parlamentar. Ontem, na igreja frequentada por Cunha e uma de suas bases no Rio, a Assembleia de Deus de Madureira, o Estado só encontrou três funcionários. Eles disseram que o presidente da congregação, Abner Ferreira, estava viajando. Ele é irmão de Samuel Ferreira, líder principal da igreja paulista acusada de receber dinheiro no esquema do qual Cunha faria parte.
O advogado da unidade carioca, pastor Orivaldo Prattis, admitiu que os indícios contra o deputado são fortes. Mas ressalvou que ainda não há sentença. “Ele ainda não foi condenado em nada. Por enquanto, há indícios e são fortes. Lógico que os indícios não deixam de ser preocupantes, mas enquanto não há sentença condenatória contra ele parte-se do princípio de que há inocência”, afirmou.
Para Prattis, a igreja não terá a imagem atingida. E, segundo o advogado, qualquer discussão sobre como fica o apoio a Cunha só será realizada quando o pastor Abner voltar. “Como homem público e político (o apoio continua) sim. Partimos do princípio de que ele sempre foi um bom gestor daquilo que lhe coube”, completou, ao ressalvar que a igreja não tolera ilegalidades.
O pastor Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, celebrou a eleição de Cunha em fevereiro. Ontem, disse que nunca apoiou o parlamentar. “Meu deputado no Rio todo mundo sabe que é Sóstenes Cavalcante. A única coisa que eu fiz foi, quando Eduardo ganhou para a presidência, como a petralhada me odeia, aí eu de sacanagem também botei: ‘Segura aí petralhas, Eduardo Cunha, agora vocês vão ver’ porque o Eduardo era contra a questão de PT”, afirmou.
Após a vitória de Cunha no início do ano, Malafaia congratulou o deputado pelo Twitter. “Parabéns ao novo presidente da Câmara, dep (sic) evangélico Eduardo Cunha, uma vitória espetacular, humilhou o governo e o PT. Vão ter q nos aturar (sic)”, escreveu.
O pastor Everaldo Dias, ex-candidato à Presidência pelo PSC e membro da Assembleia de Deus, disse que a única avaliação que faz até o momento é sobre a quantidade de denúncias à Justiça. “Por que só eles dois foram denunciados até agora?”
Especialista em política e religião, o professor colaborador da Universidade Federal de São Carlos Paul Preston afirma que a reação dos fiéis em escândalos desse tipo costuma ser fragmentada. A maioria segue apoiando os líderes religiosos. “Isso não quer dizer que milhares e milhares de fiéis vão se revoltar ou se erguer contra o modelo usado de inserção política. Alguns reagem dessa forma, mas eu diria que a maior parte de alguma forma consegue continuar acreditando na qualidade da liderança eclesiástica”, diz Preston.
(Estadão Conteúdo)
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