Após se reunir com o secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, em Washington nesta segunda (17), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a carne bovina in natura brasileira pode voltar a ser importada pelo país em 30 dias.
No fim de junho, o governo americano decidiu suspender a importação da carne in natura devido a preocupações sobre a qualidade do produto.
“É duro dar um prazo, mas eu penso que [as exportações voltarão] o mais rápido possível. No horizonte de 30, 60 dias, acho que é possível”, disse Maggi ao ser questionado sobre um cronograma para o retorno das importações americanas.
Segundo o ministro, ele e Perdue combinaram em “aguardar as posições técnicas”, os resultados das análises que serão feitas pelos americanos a partir das informações que o governo brasileiro está dando.
“Ficou um compromisso político de que o mais rápido possível, assim que as coisas estiverem esclarecidas, o retorno será possível. Não há qualquer objeção política do secretário ou por parte do governo americano em continuar com esse mercado aberto para o Brasil”, disse.
Maggi disse ter sentido que a grande preocupação dos americanos é o fato de terem sido encontrados pedaços de osso em algumas peças de carne.
“Isso é preocupante porque nenhum país que é livre de febre aftosa com vacinação [como é o caso do Brasil] pode exportar peças com osso”, afirmou o ministro.
Ele disse não saber “que tipo de falha ocorreu”, já que os frigoríficos no Brasil têm equipamentos para detectar a presença de osso ou outros objetos estranhos na carne. “Cada caixa de mercadoria que é exportada passa por um scanner e, se tiver qualquer tipo lá de material estranho, ele deve ser detectado.”
Maggi, no entanto, disse ter saído animado da conversa “muito clara e aberta” que teve com o secretário americano. “Como tenho certeza que as mudanças que fizemos são tecnicamente aceitáveis e mudam muito o patamar que estava antes, sei que elas serão reconhecidas pelo técnicos americanos. E assim que forem aceitas, nós voltaremos ao mercado.”
Entre as principais mudanças destacadas por ele ao colega americano, está a de exportar a carne in natura em pedaços menores, para facilitar a vigilância.
“Como estávamos mandando em peças maiores, é possível que os abscessos e as coisas observadas fossem vistas só no momento em que essa carne fosse retalhada”, disse. “Como eles estão fazendo cortes menores, () eu tenho certeza absoluta de que o Brasil pode garantir que aqueles achados que ocorreram e que trouxeram esse impedimento de entrada no mercado americano não acontecerão mais.”
Delação da JBS
Maggi disse ainda em Washington que o Ministério da Agricultura já está “preparado” para substituir auditores agropecuários encarregados de fiscalizar unidades de produção da JBS que, segundo o empresário Wesley Batista, recebiam ente R$ 1.000 e R$ 20 mil para “flexibilizar” a aplicação de normas sanitárias.
“Por enquanto é apenas notícia, nós estamos aguardando. Mas se isso se confirmar, o Ministério da Agricultura, o governo brasileiro já está preparado para fazer as substituições necessárias daqueles nomes que foram envolvidos”, disse. “Estamos com luz amarela acesa tentando resolver os problemas que virão pela frente ainda.”
Segundo o acordo feito com o Ministério Público Federal em sua delação, Wesley deve apresentar a lista com os nomes dos fiscais envolvidos no esquema em até dois meses.
O pagamento de propina a fiscais sanitários foi um dos alvos da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março deste ano. A JBS, dona das marcas Seara e Friboi, estava entre os 21 frigoríficos investigados, mas não teve plantas interditadas na ocasião.
Depois do escândalo, em março, o governo americano passou a fiscalizar 100% da carne brasileira. E, por meio dessa vigilância redobrada, 11% de toda a carne bovina “in natura” exportada pelo Brasil desde então foi barrada por “preocupações com a saúde pública, condições sanitárias e problemas com a saúde dos animais”.
A taxa de reprovação é muito maior do que a média de todos os países que exportam para os EUA: de 1%.
A suspensão representou um baque para o Brasil, já que, após mais de uma década de negociações, as vendas da carne “in natura” brasileira tinham sido liberadas pelos EUA em meados de 2016.
O mercado ainda estava se consolidando. Os EUA foram o oitavo maior cliente da carne brasileira de janeiro a maio, com 2,8% das compras em volume. (Folhapress)
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