22 de novembro de 2024
Entrevista especial • atualizado em 01/10/2022 às 14:24

‘Erro fundamental da gestão de Bolsonaro foi ter se aliado ao coronavírus’, afirma pesquisador

Para o jornalista, autor de três livros sobre o bolsonarismo, dois atos representam o negacionismo de Bolsonaro diante da Covid-19
Ao defender tratamentos ineficazes e ter ignorado investimentos em saúde, ciência e tecnologia, Bolsonaro caminhou com o vírus, avalia pesquisador (Foto: Reprodução/Twitter/Jair Bolsonaro)
Ao defender tratamentos ineficazes e ter ignorado investimentos em saúde, ciência e tecnologia, Bolsonaro caminhou com o vírus, avalia pesquisador (Foto: Reprodução/Twitter/Jair Bolsonaro)

O escritor e jornalista Cesar Calejon que dedica parte do seu trabalho a pesquisar o comportamento bolsonarista e a condução do presidente Jair Bolsonaro (PL) frente ao Palácio da Alvorada destaca, que um erro que poderá custar o mandato do liberal: a sua condução frente à gestão pandêmica da Covid-19. Para o pesquisador, ao adotar uma postura negacionista, Bolsonaro se ‘aliou ao vírus’.

“O erro mais crasso da gestão Bolsonaro foi se aliar ao vírus contra a própria população brasileira. Ele foi tão longe quanto atribuir a vacina contra a covid-19 ao vírus da Aids. Isso dá conta ao absurdo que esse governo se colocou principalmente no que diz respeito ao combate à pandemia. Essa foi a seara mais nociva aos intentos de reeleição ao presidente da República”, destaca o jornalista em entrevista ao Diário de Goiás

A entrevista é parte do especial de entrevistas e análises especiais que o DG tem feito sobre o final de semana das eleições em 2022. Para o jornalista, autor de três livros sobre o bolsonarismo, dois atos representam o negacionismo de Bolsonaro diante da Covid-19: o primeiro foi de ignorar negociar com empresas para adquirir imunizantes e o segundo, negar as recomendações de autoridades médicas. 

“O Bolsonaro comete um erro muito fundamental quando ele se une ao vírus a partir de março de 2020 contra a população brasileiro. Naquela ocasião ele passa a promover a contaminação na população. Primeiro, ele negou comprar vacina, ele nega os artigos científicos que deveriam balizar a sua condução da Covid-19.  Isso cria um problema crônico para o Brasil ao qual a gente vem enfrentando desde então”, destacou.

Ora, Calejon argumenta que não se tratava de uma questão política partidária. O isolamento social e as medidas de contenção ao vírus, como uso de máscaras, tão criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro tratavam-se de consenso global. 

“Existia consenso da comunidade científica internacional de que se tratava de uma doença extremamente séria, que precisávamos investir em ciência e tecnologia para conseguir uma vacina com a maior celeridade possível e ele insistiu em dizer que aquilo era uma ‘gripezinha’, que o brasileiro estava acostumado com esgoto”, pontuou. “É dificil precisar a extensão dos absurdos que Bolsonaro disse e conduziu ao longo da pandemia.

César Calejon explica como Bolsonaro criou uma tempestade perfeita para elevar tensão sobre diversas crises no Brasil (Foto: Divulgação)

Alckmin teve papel relevante na construção da candidatura de Lula

Ao que tudo indica, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem condições de liquidar a fatura logo no primeiro turno das eleições. Para Calejon, o apoio do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckimin (PSB) foi fundamental para isso. E apresenta um segundo fator que beneficia o Partido dos Trabalhadores no processo eleitoral.

“A candidatura do Alckmin tem dois resultados fundamentais ao meu ver: ela torna a candidatura do Lula mais palatável, principalmente pra essa direita liberal e para essas forças que se identificam mais a direita no espectro ideológico e torna a candidatura do Lula mais palatável e abriu espaço para o Haddad em São Paulo. São duas funções absolutamente determinantes na adesão do Alckmin à campanha petista”, ponderou.

Pode-se ter até provocado algumas insatisfações no rol de partidos que caminham juntos com o PT, mas certamente, dá mais força a Lula. “A despeito de desagradar alas mais à esquerda do próprio Partido dos Trabalhadores, algumas forças que compõe a coligação dessa reunião de dez partidos que compõe a chapa petista, sem dúvidas a adesão do Alckmin é preponderante. Isso facilita a adesão de figuras como o FHC. Miguel Reale Júnior que participou oficialmente da abertura do impeachment”, destaca.

Mas para César, um dos principais fatores que podem entregar a vitória a Lula é a própria gestão do atual presidente. “O governo Bolsonaro se tornou uma administração tão inepta e absurda que ele não interessa a ninguém que não seja estritamente bolsonarista ou que pertença a própria família do Bolsonaro. Isso chega a 30%? Chega. É o suficiente para levar o Bolsonaro ao segundo turno? A ver. Está no limite entre uma coisa e outra”, destacou.

O futuro do bolsonarismo sem Bolsonaro

Para Calejon, não dá para falar do futuro do bolsonarismo sem antes, ver a dimensão do resultado das eleições. Dependerá do desempenho de Bolsonaro nas urnas. Haverá fôlego para ir ao segundo turno? A fatura será liquidada pelos petistas logo no primeiro turno? Qual a diferença percentual de votos? Será algo acachapante?

De acordo com César, a depender do resultado Bolsonaro poderá perder sua força, mas não significará que o bolsonarismo ou mesmo outro movimento dentro da extrema-direita surja. Certo é que, numa eleição, haverá derrotados e existe a necessidade de reorganização em caso do revés. 

Dificilmente, no entanto, o bolsonarismo irá acabar. “É óbvio que o bolsonarismo não some. Ele fica debilitado? Fica. Principalmente com uma derrota acachapante. Sem dúvida, se essa derrota for no primeiro turno esse caldo reacionário que anima o bolsonarismo tende a ficar reduzido e as pessoas que se identificaram com o bolsonarismo até aqui tendem a buscar diferentes expressões para dar vazão às suas expressões sociopolíticas”, salienta.

Para Calejon, os processos judiciais que Bolsonaro deverá responder fora da presidência da República, podem dar o tom para o futuro do bolsonarismo. “Vai depender muito do que acontecerá com o que Jair Bolsonaro que estará encrostado em diversas esferas judiciais. Isso vai definir como a extrema-direita vai se reorganizar. Ela vai sumir? Não. Vão surgir outras figuras com outras propostas. Agora, caso se produza uma derrota efusiva no domingo, o bolsonarismo pode dar lugar a um novo tipo de elaboração que surja a partir deste momento”, concluí.


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