22 de novembro de 2024
Mundo

Equipe com brasileiros descobre corpo celeste no sistema solar com dois anéis

Uma observação feita no ano passado por astrônomos de vários países, incluindo pesquisadores do Brasil, permitiu a descoberta de anéis em um corpo celeste do sistema solar do tipo centauro, pequenos objetos que orbitam ao redor do Sol atravessando as órbitas dos planetas. O objeto, denominado Chariklo, está situado entre as órbitas de Saturno e Urano, e tem dois anéis, distantes cerca de nove quilômetros um do outro. 

O artigo descrevendo a descoberta  foi publicado hoje (26) na revista Nature e é assinado por 62 astrônomos, sendo 11 brasileiros, dos quais cinco trabalham no Observatório Nacional (ON), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Os anéis foram batizados pelos descobridores como Oiapoque, para o mais largo, enquanto o outro foi denominado Chuí, mas a confirmação dos nomes depende ainda da IAU (sigla em inglês para União Astronômica Internacional).

A descoberta põe por terra a tese que vigorava até então, de que somente os planetas gigantes (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) possuem anéis. O astrônomo Roberto Vieira Martins, do ON, disse hoje (26) à Agência Brasil  que o fenômeno foi visto em sete observatórios localizados na América Latina, com destaque para Chile, Uruguai, Argentina e Brasil. O projeto resultou de cooperação entre o ON, o Observatório de Paris e o Instituto de Astrofísica de Andaluzia,  na Espanha.

Martins esclareceu que a observação faz parte de um programa de longo prazo que pretende  entender como o sistema solar se formou  e como evoluiu no início de sua vida. “Dentro desse projeto, a gente observou esse objeto particular e descobriu, por acaso, que ele tinha anéis. A importância  do anel é que, até hoje, só se conhecia anéis nos grandes planetas do sistema solar. Nenhum outro objeto tinha anel”, sustentou.

Chariklo Centauro é um objeto pequeno, cujo diâmetro mede apenas 250 quilômetros. “É menor do que a Lua”. Fora a surpresa da descoberta, os astrônomos vão se dedicar agora a tentar explicar como isso ocorreu, porque o mecanismo de formação de anéis que a astronomia conhece hoje está ligado a planetas gigantes. “O achado vai motivar agora um olhar diferente para procurar entender como se formam anéis em um corpo celeste pequeno”, disse o astrônomo do ON.

Martins ressaltou que a descoberta é  importante porque se trata de uma observação  feita em cooperação entre pesquisadores  de diversos países. “Para o Brasil, em particular, significa inserção internacional da ciência”, explicou. Como a descoberta utilizou  tecnologia de ponta, o achado tende ainda ao desenvolvimento  de novos métodos e equipamentos. “O retorno para a sociedade vem por meio da evolução da tecnologia que a ciência propicia”, disse.

O pesquisador reiterou que, a partir do entendimento sobre o Chariklo, que é o maior de seu tipo, os astrônomos poderão ter uma boa ideia sobre a formação e evolução do próprio sistema solar. “É muito importante  para saber por que ele tem a cara que apresenta hoje, inclusive para poder tirar conclusões se um sistema como o nosso é comum ou não no universo”. (AB)


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