Uma observação feita no ano passado por astrônomos de vários países, incluindo pesquisadores do Brasil, permitiu a descoberta de anéis em um corpo celeste do sistema solar do tipo centauro, pequenos objetos que orbitam ao redor do Sol atravessando as órbitas dos planetas. O objeto, denominado Chariklo, está situado entre as órbitas de Saturno e Urano, e tem dois anéis, distantes cerca de nove quilômetros um do outro.
O artigo descrevendo a descoberta foi publicado hoje (26) na revista Nature e é assinado por 62 astrônomos, sendo 11 brasileiros, dos quais cinco trabalham no Observatório Nacional (ON), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Os anéis foram batizados pelos descobridores como Oiapoque, para o mais largo, enquanto o outro foi denominado Chuí, mas a confirmação dos nomes depende ainda da IAU (sigla em inglês para União Astronômica Internacional).
A descoberta põe por terra a tese que vigorava até então, de que somente os planetas gigantes (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) possuem anéis. O astrônomo Roberto Vieira Martins, do ON, disse hoje (26) à Agência Brasil que o fenômeno foi visto em sete observatórios localizados na América Latina, com destaque para Chile, Uruguai, Argentina e Brasil. O projeto resultou de cooperação entre o ON, o Observatório de Paris e o Instituto de Astrofísica de Andaluzia, na Espanha.
Martins esclareceu que a observação faz parte de um programa de longo prazo que pretende entender como o sistema solar se formou e como evoluiu no início de sua vida. “Dentro desse projeto, a gente observou esse objeto particular e descobriu, por acaso, que ele tinha anéis. A importância do anel é que, até hoje, só se conhecia anéis nos grandes planetas do sistema solar. Nenhum outro objeto tinha anel”, sustentou.
Chariklo Centauro é um objeto pequeno, cujo diâmetro mede apenas 250 quilômetros. “É menor do que a Lua”. Fora a surpresa da descoberta, os astrônomos vão se dedicar agora a tentar explicar como isso ocorreu, porque o mecanismo de formação de anéis que a astronomia conhece hoje está ligado a planetas gigantes. “O achado vai motivar agora um olhar diferente para procurar entender como se formam anéis em um corpo celeste pequeno”, disse o astrônomo do ON.
Martins ressaltou que a descoberta é importante porque se trata de uma observação feita em cooperação entre pesquisadores de diversos países. “Para o Brasil, em particular, significa inserção internacional da ciência”, explicou. Como a descoberta utilizou tecnologia de ponta, o achado tende ainda ao desenvolvimento de novos métodos e equipamentos. “O retorno para a sociedade vem por meio da evolução da tecnologia que a ciência propicia”, disse.
O pesquisador reiterou que, a partir do entendimento sobre o Chariklo, que é o maior de seu tipo, os astrônomos poderão ter uma boa ideia sobre a formação e evolução do próprio sistema solar. “É muito importante para saber por que ele tem a cara que apresenta hoje, inclusive para poder tirar conclusões se um sistema como o nosso é comum ou não no universo”. (AB)
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