O desfile da Mangueira no próximo ano será uma espécie de resposta zombeteira à redução da subvenção da Prefeitura do Rio ao Carnaval. “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco” é o título do enredo, anunciado na última quinta-feira (6).
Em junho, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) decidiu reduzir pela metade a subvenção que o município dá às escolas de samba. Em um momento de caixa apertado, diz que quer alocar os recursos na educação.
A redução foi mais um capítulo da polêmica relação do prefeito, que é bispo licenciado da Igreja Universal, com o Carnaval. Neste primeiro ano no cargo, ignorou a tradição de entregar a chave da cidade ao rei Momo e se negou a aparecer na Sapucaí. Crivella nega que o corte seja uma perseguição ao evento, e diz que se trata de elencar prioridades.
“Ele faz as escolas de vilões com o discurso que adota. Dizer que vai cortar do Carnaval para alimentar crianças é pura demagogia”, diz Leandro Vieira, carnavalesco da escola. “O enredo é uma afirmação que serve não só para o prefeito, mas também para o folião”, completa.
Segundo Vieira, o desfile mostrará manifestações populares que acontecem independente da verba que os financia. “Será um inventário visual de atitudes e manifestações associadas à espontaneidade do Carnaval.”
Na avenida passarão botequins e bares, “polos de resistência e de propagação de ideias”; rodas de samba, “ponto de resistência da cultura negra”; travestis. “É uma crítica não só ao bispo, mas ao próprio modelo de financiamento do Carnaval”, diz Vieira, que acha que o excesso de patrocínio amarra a criatividade dos desfiles.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Vieira já havia defendido que a falta de patrocínio do Carnaval por causa da crise poderia devolver às escolas a relevância.
O nome do enredo faz referência a uma marchinha da década de 1940, “Eu brinco”. (Folhapress)
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