Ministro Humberto Martins autorizou investigação das relações entre Cachoeira e Marconi Perillo por causa de relatório da PF revelado pela Revista
MURILO RAMOS E MARCELO ROCHA
O ministro do Superior Tribunal de Justiça Humberto Martins autorizou a abertura de inquérito para investigar as relações do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Por meio de nota, Martins explicou a ÉPOCA o motivo da decisão, tomada na quarta-feira: “A decisão que deferiu a abertura de inquérito foi proferida com base no pedido formulado pelo procurador-geral da República, o qual, por sua vez, fundou-se em elementos indiciários encaminhados pela Polícia Federal”. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedira abertura de inquérito contra Perillo no dia 13 de junho. Como a investigação correrá sob sigilo, Martins não disse quais tipos de diligências foram autorizadas.
Os indícios de envolvimento do governador Perillo com a quadrilha de Cachoeira surgiram nas investigações da Operação Monte Carlo, na qual a Polícia Federal descobriu como o grupo do bicheiro infiltrara-se na cúpula do governo de Goiás — e fora beneficiado por atos de Perillo como governador do estado. As principais provas da relação entre as duas partes vieram a público no mês passado, quando ÉPOCA revelou as investigações da PF citadas pelo ministro Martins. Nelas, a PF analisara o conteúdo de 169 ligações telefônicas trocadas entre integrantes da quadrilha especificamente sobre negociatas envolvendo a trinca Perillo, Cachoeira e Delta (construtora que se tornara sócia do bicheiro na Região Centro-Oeste).
Esquadrinhando esses telefonemas, os investigadores da PF concluíram que saíra da Delta o dinheiro para comprar a casa onde Perillo morava. Cachoeira intermediara o pagamento de R$ 1,4 milhão — e repassara um bônus de R$ 500 mil a Perillo, em razão de um “compromisso” do governador com a Delta. Outra reportagem de ÉPOCA revelou em seguida que Perillo agira, sozinho e por intermédio do ex-senador Demóstenes Torres, para que a empresa de tecnologia Politec obtivesse favores junto ao governo de Goiás. Logo depois, a Politec conseguiu, sem licitação, contrato com o governo de Perillo. (Perillo nega ter feito negócios com Cachoeira ou ter favorecido seu grupo.)
A decisão do ministro Martins de abrir inquérito contra Perillo mostra a independência do magistrado. Os dois se conhecem. Em 18 de novembro do ano passado, Martins recebeu das mãos do governador a condecoração “Ordem do Mérito Anhanguera”, comenda mais alta oferecida pelo estado de Goiás, em solenidade no Palácio das Esmeraldas, sede do governo. Questionado por ÉPOCA se seria adequado, portanto, relatar o processo do governador, Martins afirmou não ter relação de amizade com Perillo. Disse, ainda, que as razões que ensejam impedimento e suspeição do magistrado não se aplicam a essa situação. “Não me considero suspeito nem impedido”, afirmou. Martins afirmou que o papel do ministro relator no inquérito é supervisionar as investigações feitas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, “apreciando os pedidos de diligências por eles formulados”. Martins assumiu a relatoria do processo após a ministra Laurita Vaz (ela é de Goiás) se considerar impedida.
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