As empresas de ônibus do Rio distribuíram, de acordo com o Ministério Público Federal, cerca de R$ 500 milhões de propina para políticos entre 2010 e 2016.
O valor é quase o dobro do movimentado pelos alvos da Operação Ponto Final, deflagrada na manhã desta segunda-feira (3) para cumprir 11 mandados de prisão preventiva e temporária.
“É um dos esquemas criminosos mais antigos do Rio, e um dos mais maléficos, por atingir a população de baixa renda”, afirmou o procurador Eduardo El Hage.
De acordo com as investigações, a propina paga a agentes públicos vinculados ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) receberam cerca de R$ 260 milhões neste período -dos quais R$ 122 milhões para o peemedebista, segundo as investigações.
Os cerca de R$ 240 milhões restantes foram pagos a autoridades com foro privilegiado, cujos nomes não foram revelados.
O detalhamento da propina foi feito pelo doleiro Álvaro Novis, que teve a delação premiada homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. Ele era o responsável por gerenciar o pagamento de propina.
O grupo de Cabral mantinha o dinheiro na transportadora de valores Trans-Expert, já citada na Operação Calicute, que prendeu o peemedebista, em 2016. De acordo com os investigadores, a empresa era a responsável por recolher o dinheiro, onde o ex-governador permanecia com um crédito. Novis era um dos responsáveis por controlar a atribuição dos recursos aos seus respectivos donos.
Outra transportadora de dinheiro foi citada pelos procuradores. De acordo com eles, a Prosegur passou também a prestar os mesmos serviços, principalmente após a prisão de Novis em 2015, numa das fases da Lava Jato.
As duas empresas eram responsáveis por movimentar o dinheiro vivo usado para pagar propinas.
A Polícia Federal afirmou que encontrou na casa de Octacílio de Almeida Monteiro, presidente da Rio Ônibus (sindicato das empresas do setor na capital) também preso, R$ 1 milhão em dinheiro vivo. O empresário Jacob Barata Filho foi detido no domingo (2) com R$ 50 mil em espécie.
PRÊMIOS
Hage afirmou que Cabral recebia “prêmios” após decisões que beneficiassem as empresas do setor. Citou, além de reajustes tarifários, benefícios fiscais, como o desconto do IPVA. A Folha de S.Paulo revelou que a decisão para reduzir a alíquota de cobrança sobre ônibus tramitou por apenas um dia no governo do Estado.
“Está em investigação um aumento acima do esperado pelos relatórios técnicos. Era esperado um reajuste de 2% e foi concedido 7%”, disse a procuradora Marisa Ferrari.
Um dos detidos é o ex-presidente do Detro (Departamento Estadual de Transporte Rodoviário) Rogério Onofre. Ele foi preso numa casa de luxo em Jurerê Internacional, em Florianópolis (SC).
Também foram presos preventivamente Lélis Marcos Teixeira (presidente da Fetranspor), Marcelo Traça Gonçalves (vice-presidente da Fetranspor), João Augusto Morais Monteiro (empresário do setor), Cláudio Sá Garcia de Freitas, David Augusto Sampaio e Carlos Roberto Alves e Enéas Bueno. (Folhapress)
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