A criação de vagas com carteira assinada pelo comércio em novembro não foi suficiente para compensar as demissões dos demais setores, e a economia interrompeu um ciclo de sete meses de saldo positivo de criação de postos.
No mês em que a reforma trabalhista entrou em vigor, o Brasil registrou mais demissões do que contratações. O saldo ficou negativo em 12,3 mil vagas em novembro.
Não é possível, no entanto, relacionar os cortes do mês passado à entrada em vigor das novas regras trabalhistas.
Novembro, que costuma ter resultado positivo para o emprego, é marcado por demissões em setores específicos. Na indústria e na agricultura, o mês tem corte de vagas desde 2013. O comércio, por outro lado, costuma compensar com a criação de empregos de fim de ano, o que faz com que o mês geralmente feche com saldo positivo.
O varejo, no entanto, criou 69 mil vagas no mês passado, número similar ao do mesmo período do ano passado (60 mil) e distante dos 105 mil de 2014, quando a economia brasileira já estava em recessão.
O anúncio dos dados de emprego ocorreu horas antes de o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB-RS), anunciar que deixaria o cargo. Ele deve ser substituído pelo também petebista Pedro Fernandes, do Maranhão.
Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da FGV (Fundação Getulio Vargas), o saldo negativo do mercado de trabalho surpreendeu negativamente. “Mas a tendência geral ainda é de recuperação”, afirma.
Já Hélio Zylberstajn, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo), diz que “há sinais tênues de retomada para 2018”.
Nos 11 primeiros meses deste ano, o saldo do emprego com carteira está positivo em 299,6 mil vagas.
Como dezembro costuma ser um mês em que há cortes expressivos (com a saída de temporários contratados para atender a demanda de fim de ano), a expectativa é que o ano termine com saldo negativo, ainda que menos intenso que 2015 e 2016, quando mais de 1 milhão de pessoas perderam o emprego.
O governo incluiu, no total de vagas de novembro, novas modalidades de trabalho criadas pela reforma, como o trabalho intermitente (que gerou 3.067 vagas) e a jornada parcial (que criou 231).
A maior parte dos contratos intermitentes –nos quais o trabalhador ganha por hora e é convocado com três dias de antecedência– foi firmada no comércio (2.822), seguido de serviços (185) e construção civil (44).
“A reforma trabalhista fez com que a contratação sazonal fosse mais precária que de costume”, diz Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores). “Mas o saldo negativo é resultado da crise, que perdura no baixo consumo das famílias.”
(FOLHA PRESS)
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