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Conversas aconselhadoras que revelam aproximação e conselhos em torno de uma defesa que Lula fez após prestar depoimento ao então Juiz Sérgio Moro, no dia 10 de maio de 2017. Novos trechos de conversas vazadas entre Moro e procuradores da força-tarefa da Lava Jato divulgados na noite da última sexta-feira (14/06) reforçam a proximidade do relacionamento entre o juiz e os procuradores que realizavam a acusação em torno do ex-presidente da República e que posteriormente, acabaria sendo preso.
Após prestar depoimento a Sérgio Moro, em um processo criminal no caso do “apartamento triplex no Guarujá”, Lula se dirige Praça Santos Andrade, em Curitiba, e fez um pronunciamento que durou aproximadamente 11 minutos. Entre ataques a Lava-Jato, ao Jornal Nacional e ao próprio Sérgio Moro, o The Intercept lembra que o ex-presidente encerraria sua fala com uma frase histórica: “Eu estou vivo, e estou me preparando para voltar a ser candidato a presidente desse país”. Naquele momento, o sentimento que Lula de fato, iria se candidatar à presidência em 2018 se catapultou.
Quando o discurso de Lula se publiciza, Moro manda uma mensagem ao procurador Santos Lima. Eram 22h12 quando o então juiz faz uma recomendação: “Talvez vocês devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele”, um minuto depois, complementa: “Por que a Defesa já fez o showzinho dela.” Santos responde que dá para fazer e irá passar o conselho adiante. “Não estarei aqui amanhã. Mas o mais importante foi frustrar a ideia de que ele conseguiria transformar tudo em uma perseguição sua”.
Santos passa as informações para a frente como havia dito. Ele encaminha as mensagens que acabara de trocar com o então Juiz a um grupo apenas com os procuradores da Lava-Jato. Dallagnol responde ressaltando que alguns pontos deveriam ser avaliados. Ele próprio enumera dois: “1) Trazer conforto para o juiz [Sérgio Moro] e assumir protagonismo para deixá-lo mais protegido e tirar ele um pouco do foco. 2) Contrabalancear o show da defesa”. A estratégia também envolveria apontar as contradições do depoimento. Completa traçando o planejamento para o envio da nota: “E o formato, concordo, teria que ser uma nota, para proteger e diminuir riscos. O JN [Jornal Nacional] vai explorar isso amanhã ainda. Se for para fazer, teríamos que trabalhar intensamente nisso durante o dia para soltar até lá por 16h”.
Realizado os devidos planejamentos, Dallagnol vai a um grupo em que participavam assessores de imprensa do Ministério Público Federal, em Curitiba. Já eram 23h05 quando ele pede para que os assessores possam atualiza-lo sobre a repercussão do caso de hora em hora e como a abordagem está sendo realizada. No fim, entrega os motivos pelos quais quer acompanhar tudo e fazer a nota: “Caros, mantenham avaliando a repercussão de hora em hora, sempre que possível, em especial verificando se está sendo positiva ou negativa e se a mídia está explorando as contradições e evasivas. As razões para eventual manifestação são: a) contrabalancear as manifestações da defesa. Vejo com normalidade fazer isso. Nos outros casos não houve isso. b) tirar um pouco o foco do juiz que foi capa das revistas de modo inadequado.”
Alertado que poderia ser um “tiro no pé” por assessores, algumas alterações na nota foram feitas. Deixariam de publicar as contradições, pois a imprensa já estava fazendo uma boa cobertura do assunto. A nota se limitou à uma notícia que a força-tarefa da Lava-Jato julgou ser falsa no discurso que Lula proferiu após o depoimento. Dallagnol antes do envio, decide prestar esse esclarecimento a Moro: “Informo ainda que avaliamos desde ontem, ao longo de todo o dia, e entendemos, de modo unânime e com a assessoria de comunicação, que a imprensa estava cobrindo bem contradições e que nos manifestarmos sobre elas poderia ser pior. Passamos algumas relevantes para jornalistas. Decidimos fazer nota só sobre informação falsa, informando que nos manifestaremos sobre outras contradições nas alegações finais”, prenunciou.
As informações publicadas pelo The Intercept revelam contradição nas palavras que o então juiz Sérgio Moro disse no mesmo dia a Lula, antes que o depoimento começasse: “Eu queria deixar claro que, em que pesem alegações nesse sentido, da minha parte não tenho nenhuma desavença pessoal contra o senhor ex-presidente. Certo? O que vai determinar o resultado desse processo no final são as provas que vão ser colecionadas e a lei. Também vamos deixar claro que quem faz a acusação nesse processo é o Ministério Público, e não o juiz. Eu estou aqui para ouvi-lo e para proferir um julgamento ao final do processo”, disse Moro.
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